Há cinco meses (“Terra e paixão estreou em 8 de maio), Amaury Lorenzo, de 38 anos, mineiro da histórica Congonhas, vem colhendo o sucesso de seu personagem Ramiro na trama de Walcyr Carrasco, no horário nobre da Globo. O capataz Ramiro é o braço direito de Antônio La Selva (Tony Ramos).
No início da novela, o público é apresentado à realidade brutal do empregado, que comete um assassinato a mando do patrão. “Ramiro é um homem violento, produto do meio, que precisa colocar comida na mesa para sobreviver. Mas, no fim, ele é um cara muito interessante e de muitas facetas”, afirma Amaury.
Passados 100 capítulos, o capataz se tornou um dos personagens queridinhos do público, ao se aproximar de Kelvin (Diego Martins). O encontro inesperado mudou a vida e a personalidade de Ramiro, que se apaixonou pelo garçom gay do bordel da cidade. O público torce por um romance entre os dois, cuja relação é marcada por conflito e risadas.
Febre nas redes
Os dois desenvolvem uma amizade sincera, mas o capanga de Antônio La Selva (Tony Ramos) entra em conflito ao lidar com seus sentimentos pelo rapaz. “À medida que o Ramiro conhece o Kelvin, ele vai entendendo que falta o afeto. Ele não sabe lidar com aquilo, e, a partir daí, vamos vendo outra camada do personagem”, afirma o ator.
A relação divertida entre os dois virou febre nas redes sociais – e fez o número de seguidores do ator disparar para mais de 500 mil no Instagram – e as cenas protagonizadas pela dupla viralizam com frequência. “Pensei no caminho do humor, porque seria uma maneira leve de ir tocando o coração das pessoas. Gosto de pensar na arte como ferramenta de transformação e, para isso, preciso ser estrategista”, diz Amaury.
Depois de muita torcida do público, o primeiro beijo de Ramiro e Kelvin foi ao ar no início de setembro. Em um encontro, o casal reproduziu a cena clássica de “A Dama e o Vagabundo” (1955), da Disney.
Debate importante
“Quando comecei, o Tony (Ramos) disse: ‘Filho, esteja preparado para entrar na casa de 50 milhões de pessoas’. Então, todos os dias, eu chego nessas casas para dizer sobre o afeto que o Ramiro precisa sentir e sobre essa discussão importante que o personagem dele propõe”, comenta.
Diante da recepção dos telespectadores ao seu personagem, Amaury se mostra feliz com a oportunidade de interpretar alguém responsável por mudar positivamente a percepção dos brasileiros sobre o amor, em todas as suas variações.
“Acho que vivemos um momento interessante do streaming e da TV, no qual o público está cada vez mais interessado em personagens com que se identifique. Ramiro causa isso em uma parcela grande da população, principalmente para as pessoas que não têm afeto e que não se sentem abraçadas. Elas torcem por uma pessoa que cometeu violência e que tem ali um desejo de se transformar”, afirma o artista.
“Minas não sai de mim”
Desde a infância em Congonhas, na Região Central de Minas, Amaury se apaixonou pela dança clássica, que assistia pela TV. O gosto pelas artes foi crescendo, e o garoto descobriu então o teatro. Ainda na juventude, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde permanece radicado.
Lá, formou-se em artes cênicas pela UniRio. Trabalhou como professor de teatro por mais de 15 anos para jovens LGBTQI+. Ele cita que já visitou no hospital aluno espancado pelo pai. Fez inúmeras peças e participações especiais em novelas. Em novembro de 2022, recebeu o convite para interpretar Ramiro, primeiro personagem de destaque na TV.
“Espero que continuem aparecendo personagens incríveis como Ramiro. Ele está dentro do meu coração e até janeiro (quando a novela termina) vou focar nele, para fechar com chave de ouro. Sou o Ramiro para vida toda. Ele me salvou, e eu o salvo também todos os dias”, diz.
Atualmente, Amaury estrela o espetáculo “A luta”, que conta a história da Guerra de Canudos. E espera trazer em breve a montagem a BH. “Apesar de morar no Rio há 20 anos, sempre estou em Congonhas. Minas não sai de dentro de mim, é onde recupero minhas energias. Quero muito levar a peça a Belo Horizonte.”