Jornal Estado de Minas

Aqui em Mariana os meninos ficam presos

Não quero mais menino. Está bom. Nasceu tudo em Mariana, mas foram criados em Paracatu de Baixo. A mais velha tem 16 anos, e a mais nova, 2 anos. São sete moças e três rapazes. Eu não moro com meu marido mais não. Ele é o pai dos 10 meninos, mas tem oito meses que separei dele. Preferia ficar lá em Paracatu, porque lá os meninos brincavam.

Aqui (em Mariana) os meninos só ficam presos. Por causa do movimento de carro. Os meninos já se acostumaram a ficar livres. Lá é campo. É roça. Brincavam de bola e soltavam pipa. Aqui não tem nada disso.
Eles estão até gostando, mas ficam mais presos. De vez em quando, o pessoal da Samarco os leva ali no campo do Guarani para brincar.
- Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press

Sempre gostei de ter menino. É bom, né? No dia cinco de novembro estavam os 10 em casa. Tinha vindo em Mariana e quando cheguei lá (em Paracatu) no ônibus de quatro horas, tinha gente ligando falando que a represa da Samarco tinha arrebentado. Eu mesmo não estava acreditando. Aí o pessoal falava que vinha água, vinha água, vinha água. Eu disse: “Ah não. Não vem água aqui”.
Mas veio o pessoal do bombeiro avisando de helicóptero. Deu 10 minutos para a gente sair. As meninas minhas – tem três grandes – ajudaram a carregar os outros. O pai deles também estava na hora. Eu levei no colo essa aqui (a menor, Ariela, de 2 anos). O outro, de 4 anos (Ariel) também foi comigo para cima. Não esqueci nenhum. Se eu tivesse esquecido, eu não estava aqui. Já tinha dado um trem.

- Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
De noite, na quinta-feira, foi todo mundo para fazenda do Zezinho de Salete e da fazenda para Mariana viemos na van e passamos a noite na Arena Mariana. Na segunda-feira (dia 23 de novembro) voltei lá e achei o meu cachorro e um retrato da minha mãe.
Ele chama Rubi. Cheguei lá ele ficou numa gritaiada perto de mim. Estava sentindo falta.

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