(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas NOSTALGIA

A interessante história da Volkswagen Santana Quantum GL 1987 do tio Heitor

A perua em estado impecável atualmente pertence ao administrador Adriano Resende, que resolveu preservar o carro que foi do seu tio e faz parte da família


03/07/2021 04:00 - atualizado 02/07/2021 23:48
693



Há quem diga que o brasileiro precisa ser estudado, devido às suas peculiaridades e soluções criativas para enfrentar situações adversas na vida. Mas quando o assunto é carro, o cidadão nascido no Brasil se mostra ainda mais diferenciado, pois nutre uma paixão pelo patrimônio sobre rodas que, para muitos, não tem explicação. E foi mais ou menos assim com Heitor Marotta, filho de italianos, um verdadeiro apaixonado por automóveis, que teve muitos modelos em sua garagem, entre eles a VW Santana Quantum GL, de 1987, impecavelmente preservada até a sua morte. Mas a história da perua não parou aí, pois o carro foi comprado e restaurado pelo administrador Adriano Castelo Branco Resende, de 49 anos, sobrinho de Heitor, que revelou todos os incríveis cuidados do tio com a perua, parte integrante da história da família.
 
 
(foto: Fotos: Jorge Lopes/EM)
 
 
Adriano conta que o tio Heitor era casado com a tia Emereciana, irmã de sua mãe, e que o casal, por escolha, não teve filhos, papel que acabou sendo transferido aos sobrinhos. E uma das lembranças que marcaram a memória do administrador foi um carrinho que tinha na casa dos tios, um Ford Group 6. “Eu nunca o levava comigo para casa. O carrinho sempre ficava lá esperando por mim”, revelou. O tio Heitor era um apaixonado por carros e durante sua vida teve alguns modelos, com diferentes propostas. Adriano lembra que ele teve uma VW Variant 1, carinhosamente chamada de “Cenourinha”, um Dodge Dart, uma Chevrolet C10, um Ford Del Rey Ouro, a VW Quantum GL 1987 e outra Quantum 1993.

“Tio Heitor manteve a Variant, o Del Rey e as Quantum até sua morte, em 2005, quando um infarto fulminante o levou”, lamenta Adriano. Como a tia Emereciana não dirigia, a Variante 1 e a Quantum GL 1987 permaneceram paradas na garagem por anos, até que ela também morreu, em 2011, e os carros foram incluídos no processo de inventário. Adriano conta que sempre teve interesse pela Quantum GL e quando o veículo foi liberado para a venda, em março deste ano, ele foi até o prédio na Rua Aimorés para verificar qual era a real condição da perua.
 
 
A station wagon dos anos 1980 está em perfeito estado de conservação, resultado dos cuidados do tio Heitor e de Adriano
A station wagon dos anos 1980 está em perfeito estado de conservação, resultado dos cuidados do tio Heitor e de Adriano
 
 
EMPOEIRADA 

O carro estava estacionado na vaga onde o tio Heitor o havia deixado pela última vez, em 2005. Foram 16 anos em uma garagem coberta, mas que foram suficientes para deixá-la totalmente empoeirada, com os pneus traseiros literalmente quadrados, e ainda sem bateria. “Mas era fácil perceber que sua alma estava forte e que ela precisava de carinho e atenção”, disse Adriano, que herdou a paixão por carros do pai.

Ele conta que encontrou nas bolsas laterais do porta-malas da perua inúmeras peças, como correias dentadas, duas antenas Olympus novas na embalagem e cinco roletes da cobertura sanfonada do compartimento de bagagem. “Imagino que ele teve algumas dores de cabeça com essa cobertura do porta-malas, que foram suficientes para convencê-lo a comprar esses cinco roletes”, analisa Adriano. Mas isso era apenas mais uma prova do excesso de zelo do tio Heitor com seus carros.

Visto o carro, Adriano não teve dúvida em comprá-lo. Na semana seguinte, foi até lá e retirou as rodas, deixando a perua sobre cavaletes. Foram comprados quatro pneus novos na medida 195/60 R14 para que a Quantum pudesse ser retirada da garagem e colocada em um reboque. A perua teve que ser empurrada três andares abaixo no braço, até chegar no reboque, sendo levada para o início do processo de restauração.

A REFORMA 

Adriano conta que o primeiro passo foi fazer uma revisão geral na parte mecânica, com a troca do radiador, dos quatro amortecedores, além de óleo, fluidos e juntas. Na ocasião, o dono da oficina elogiou o tio Heitor: “Seu tio era impressionante! Só usava peças originais VW”. Depois da mecânica, Adriano partiu para a capotaria, reformando as abas laterais dos bancos dianteiros, já que o tecido do meio estava em perfeitas condições. O passo seguinte foi colocar uma bateria nova e fazer uma rápida revisão no ar-condicionado, que necessitou apenas de duas braçadeiras e gás para voltar a funcionar. Claro que a cobertura do porta-malas também teve que ser arrumada. Os roletes adquiridos pelo tio Heitor não foram em vão.

Feito isso, faltava o polimento na pintura e nas rodas, que trouxe de volta o brilho da perua e deixou claro que o tio Heitor era extremamente cuidadoso com o carro, que se revelou em ótimo estado. Para coroar o processo, Adriano providenciou as placas de colecionador, que antes eram chamadas de placas pretas, mas que agora têm novo visual.

Adriano diz que a Quantum “é uma senhora de 34 anos que tem suas rugas, que permanecerão”. Ele chama a atenção para alguns detalhes, como a cobertura original sobre o assoalho do porta-malas, que está impecável. O compartimento do motor tem uma lâmpada fixada na tampa, com interruptor próprio. Adriano conta ainda que retirou apenas três itens do carro: as calhas de chuva, por questão estética; o brake-light quebrado; e a perigosa trava do cinto de segurança, usada erradamente no passado. Mas a perua ainda traz o toca-fitas Tucano IV, com auto reverse, e alto-falantes com cone de papel.

Para o administrador apaixonado por carros, a perua Quantum guarda parte da história de sua família, por isso teve tanto interesse em preservá-la. Ele destaca também a dirigibilidade da perua, que tem uma característica típica dos anos 1980. Perguntado se venderia o carro, Adriano afirma que agora só pensa em curti-lo e se lembrar dos momentos que compartilhou com o tio Heitor.

HISTÓRICO 

A Volkswagen produziu a Santana Quantum no Brasil de 1985 a 2003. O modelo era derivado do sedã Santana e tinha duas opções de motorização, AP 1.8 (90cv com gasolina e 96cv com álcool) e AP 2.0 (114cv a gasolina), associados ao câmbio manual de cinco marchas ou automático de quatro velocidades. O modelo passou pela primeira reestilização em 1992 e por um facelift em 1999. Suas dimensões são 4,63m de comprimento, 1,70m de largura, 1,45m de altura e 2,55m de distância entre-eixos. O porta-malas tem 470 litros de capacidade.


*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)