Junto ao Renault Kwid, o Fiat Mobi pertence ao segmento de entrada do mercado brasileiro, oferecendo como principal atrativo o fato de se tratar de veículo zero-quilômetro com suas supostas vantagens. Porém, partindo de R$ 47.990, está cada vez mais difícil “vender” o compacto da Fiat como um modelo popular. Somente em 2021, a versão de entrada ficou R$ 11 mil mais cara.
A verdade é que nenhum fabricante mais se preocupa com essa primeira fatia do mercado e volta seus investimentos para segmentos de maior valor agregado. Prova disso é que o segmento de entrada conta com apenas dois representantes, enquanto os SUVs já lideram o mercado brasileiro, com 40% do volume de emplacamentos.
Nesse contexto, testamos o Mobi Trekking, versão mais cara do carrinho da Fiat, que traz apelo aventureiro. Vendido a partir de R$ 59.900, esse pacote pode “esbarrar” nos preços de segmento superior. Mas será que o pequenino pode bancar essa ousadia?
VISUAL Beleza nunca foi um atributo do Mobi, que, no maior grau da boa vontade, pode ser chamado de carismático. A roupagem aventureira adiciona um adesivo preto no capô, molduras nas caixas de rodas, pintura lateral inferior, logomarca e calotas escurecidas, e capas dos retrovisores em preto com repetidores de seta integrados. Do ponto de vista estético, é preciso valorizar a tampa do porta-malas de vidro, mas falta maçaneta para manuseá-la, já que é muito chato ter que inserir a chave sempre que for preciso abrir. Como opcional, a unidade tem um comando interno de abertura da tampa, o que não substitui a maçaneta.
A suspensão do Mobi Trekking é elevada em 3 centímetros em relação às demais, com impacto do visual e no uso do veículo, que ganha capacidade de transpor obstáculos urbanos. O teto pintado em preto acompanha as demais cores da carroceria, claro, com a exceção do preto, e custa R$ 750. Outros opcionais da unidade testada são as rodas de liga leve de 14 polegadas e os faróis de neblina, caprichos que adicionam R$ 2.300 ao preço inicial.
DENTRO Mesmo nessa versão mais cara, o acabamento é puro plástico, sem qualquer fiapo de tecido, presente apenas nos bancos com costura laranja. A única coisa que quebra a pobreza (em um carro que beira os R$ 60 mil!) é a tela de sete polegadas do sistema multimídia. Outro item que surpreende no interior é o console de teto, que conta com um porta-óculos e espelho auxiliar.
Naturalmente, o espaço interno é limitado. Para sobrar espaço para os passageiros de trás é preciso que os ocupantes da frente não posicionem os bancos muito recuados. O porta-malas é pequeno e comporta apenas as compras do supermercado. Ao menos ele abriga o estepe. Se precisar de mais espaço, o banco traseiro pode ser rebatido.
RODANDO O motor que equipa todas as versões do Mobi é o jurássico 1.0 Fire Evo, que ainda conta com tanquinho de partida a frio. Seu desempenho é bem limitado, são até 75cv e 9,9kgfm de torque (números usando etanol), já que o foco é o baixo consumo de combustível. Na cidade, logo se acostuma com a performance do motor 1.0, sendo necessário se antecipar e reduzir marcha para não perder o embalo em trechos de relevo acidentado, o que é bem comum em Belo Horizonte.
Já na estrada, é preciso ter paciência, pois o veículo desenvolve de forma lenta e é muito sensível à topografia e ao peso embarcado. Nessa situação, também é importante não deixar as rotações do motor caírem dos 3.000rpm, a não ser que esteja rodando em uma estrada predominantemente reta e plana. A suspensão elevada em 3cm não muda muito a dinâmica do Mobi Trekking e tem boa relação entre conforto e estabilidade. A direção conta com assistência hidráulica, com bom acerto em diferentes condições.
CONTEÚDO O grande destaque entre os itens de série desta versão é a central multimídia com tela tátil de sete polegadas, que traz espelhamento do smartphone sem usar fio, o que possibilita acessar aplicativos como os de navegação, além de contar com o assistente de voz do Google. Ainda valem ser citados o ar-condicionado e banco do motorista com regulagem de altura. Mas ainda tem muita coisa que não combina com o preço do compacto, como vidros elétricos apenas na dianteira e retrovisores com ajustes manuais. Alguns itens aqui são opcionais, como as regulagens de altura do volante, dos cintos de segurança dianteiros e dos retrovisores.
MERCADO O concorrente direto do Mobi Trekking é o Kwid Outsider, que traz motor 1.0 de três cilindros (com até 70cv e 9,8kgfm), vendido por R$ 60.590. A versão aventureira do Kwid leva vantagem ao trazer de série faróis de neblina, airbags laterais e retrovisores com ajustes elétricos. Por sua vez, a versão testada do Mobi custa R$ 600 a menos. Neste confronto, no ranking de emplacamentos até agosto de 2021, o Mobi está em vantagem, nada menos que o terceiro entre os automóveis mais vendidos (com 54.949 unidades), enquanto o Kwid está em 10º lugar (com 37.813 unidades).
Quem for gastar R$ 60 mil em um Mobi ainda deve considerar optar por modelos como Chevrolet Joy 1.0 (a geração anterior do Onix), a partir de R$ 62.190; e Volkswagen Gol 1.0, por R$ 64.950. Provavelmente, por uma questão de custo, a Fiat está “matando” o Uno, vendido em versão única Attractive 1.0 (R$ 63.490), sem itens atraentes como um sistema multimídia, mas certamente uma opção de entrada muito mais interessante, tanto pelo design quanto pelo espaço.
FICHA TÉCNICA
» MOTOR
Dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, 999cm³ de cilindrada, flex, que desenvolve potências de 73cv (gasolina) e 75cv (etanol) a 6.250rpm e torques de 9,5kgfm (g)
e 9,9kgfm (e) a 3.850rpm
» TRANSMISSÃO
Tração dianteira, com câmbio manual de cinco marchas
» SUSPENSÃO/RODAS/PNEUS
Dianteira, independente, do tipo McPherson, com barra estabilizadora; e traseira semi-independente, eixo de torção/em aço estampado 5,5x14 polegadas/ 175/65 R14
» DIREÇÃO
Do tipo pinhão e cremalheira, com assistência hidráulica
» FREIOS
A discos na dianteira e tambores na traseira, com ABS e distribuição eletrônica de frenagem (EBD)
» CAPACIDADES
Do porta-malas, 200 litros; tanque de combustível, 47 litros; e capacidade de carga (passageiro e carga), 400 quilos
» DIMENSÕES
3,56 metros de comprimento; 1,66m de largura; 1,55m de altura; 2,30m de distância entre-eixos; altura livre do solo, 19cm
» PESO
967 quilos
» DESEMPENHO
Velocidade máxima: 152km/h (e)
Aceleração até 100km/h: 13,8 segundos (e)
» CONSUMO (*)
Cidade: 13km/l (g) e 8,9km/l (e)
Estrada: 14,1km/l (g) e 10,1km/l (e)
» Dados do fabricante
(*) Medição do Inmetro
(g) gasolina
(e) etanol
» EQUIPAMENTOS
» DE SÉRIE
Airbags frontais; freios ABS com EBD; apoios de cabeça e cintos de segurança retráteis para todos os passageiros; sinalização de frenagem de emergência; Isofix; retrovisores com ajuste manual interno; barra de proteção nas portas; ar-condicionado; banco do motorista com regulagem de altura; banco traseiro rebatível; vidros elétricos dianteiros; computador de bordo; console central com porta-objetos e porta-copos; console de teto; chave canivete; espelhos nos para-sóis; limpador, lavador e desembaçador do vidro traseiro; luz de leitura dianteira; quadro de instrumentos com display de 3,5 polegadas; suspensão elevada; central multimídia de sete polegadas; volante multifuncional; predisposição para rádio; retrovisores pintados em preto com luz indicadora de direção; barras longitudinais no teto; moldura nas caixas de roda; calotas exclusivas; caracterização Trekking; faróis com mascara negra; grade texturizada; maçanetas na cor do veículo; para-choques exclusivos na cor do veículo.
» OPCIONAL
Pintura branco banchisa com teto preto Vulcano (R$ 750); Pack One (R$ 1.500), que traz volante com regulagem em altura, cintos de segurança dianteiros com regulagem de altura, comando interno para abertura da tampa do porta-malas e do tanque de combustível, retrovisores com regulagens elétricas e função tilt-down, e sensores traseiros de estacionamento traseiro; Pack Style (R$ 2.300), com rodas de liga leve de 14 polegadas e faróis de neblina.
l Quanto custa?
O Mobi Trekking 1.0 tem preço
sugerido de R$ 59.990. Com
os opcionais descritos, a unidade testada custa R$ 64.540.