Em um passado não muito distante, o sujeito que gostava de dirigir e tinha uma folguinha no orçamento – e, sobretudo, que não queria “pagar de tiozão” optando por um sedã – tinha ao menos três boas opções no mercado brasileiro: Volkswagen Golf, Ford Focus e Chevrolet Cruze Sport6. Ao mesmo tempo que sugeriam status (pra quem precisa de status), esses hatches médios ofereciam design, espaço, conforto e desempenho acima da média dos compactos. Pouco a pouco, esse segmento foi sendo “engolido” pelos compactos premium e, em parte, também pelos SUVs.
Neste cenário, testamos o único hatch médio relativamente acessível que restou no mercado nacional, o Chevrolet Cruze Sport6, atualmente vendido apenas na versão RS, com apelo esportivo. Lançada em 2016 e atualizada em 2019, essa segunda geração do projeto sente o peso da idade ou já foi superado pelos compactos premium?
Vale colocar na balança que o Cruze foi descontinuado em outros mercados, como o americano e o chinês. O modelo vendido no Brasil é fabricado na Argentina. Ao longo do último ano, foram vendidas menos de 2 mil unidades do Cruze Sport6. Apesar disso, a Chevrolet afirmar que o produto é interessante para a região, principalmente para a Argentina, mas é difícil apostar que ele vai durar.
VISUAL Como os para-choque do Cruze Sport6 brasileiro, assim como os faróis auxiliares horizontais e a ponteira de escape, já haviam sido herdados da extinta versão RS americana, o apelo esportivo ficou com o aplique em preto em vários componentes: os cromados dianteiros foram convertidos em cromo escurecido; os faróis de LED ganharam máscara negra; a “gravatinha” da Chevrolet recebeu fundo preto; retrovisores, teto e spoiler também foram pintados em preto.
Para finalizar, a grade recebeu a sigla RS em vermelho, também presente na tampa traseira, que traz o nome do modelo escrito em preto. Vale registrar que é preciso tomar cuidado constante para não esbarrar o para-choque dianteiro em rampas ou quebra-molas. Para tal, é preciso reduzir bastante a velocidade do veículo quando surgem esses obstáculos. As rodas exclusivas são de 17 polegadas. Enfim, apesar de tentar dar uma roupagem esportiva ao Cruze, quase nada mudou e o visual do modelo já não causa grande impacto.
À BORDO Seguindo a atual tendência dos “esportivados”, o interior é todo em preto, desde os bancos revestidos em couro, o acabamento do teto e das colunas, assim como os para-sóis. A boa qualidade dos materiais, com plástico de toque macio e simulação de couro no painel e nas portas, é um diferencial que não se encontra entre os compactos premium. Para completar, os tapetes são acarpetados. Outro ponto interessante é o teto solar, que permite mais interação com o mundo externo.
Falha imperdoável é não oferecer climatização para os passageiros de trás. Ao menos estes ocupantes contam com iluminação e bons porta-trecos. O banco traseiro oferece conforto para dois passageiros, mas pessoas com altura acima da média podem esbarrar a cabeça no teto. O porta-malas é pequeno para um médio, com volume de apenas 290 litros, mas abriga o estepe de uso temporário. Se precisar ampliar o espaço, o banco traseiro tem rebatimento fracionado.
RODANDO O conjunto mecânico do Cruze não sofreu alteração. O motor 1.4 turbo de até 153cv ainda é atual, apesar de nunca ter entregado baixo consumo de combustível. Mas o desempenho é divertido, contornando bem as mais variadas situações, já que o motor sobrealimentado permite uma rápida capacidade de reação. O câmbio é automático de seis marchas, porém, para uma proposta RS, a Chevrolet ficou devendo aletas para trocas manuais de marcha, o que pode ser feito apenas pela alavanca. As suspensões têm boa relação entre conforto de rodagem e estabilidade.
CONTEÚDO Única versão disponível atualmente, a RS não é nada barata: R$ 154.500. Se destacam nesse pacote seis airbags, controles de tração e estabilidade, chave presencial, teto solar, central multimídia com tela de oito polegadas e conectividade com a internet. Pelo preço, o modelo poderia oferecer mais mimos.
CONCORRENTES Na falta de concorrentes diretos, para ser coerente ao menos à carroceria do Cruze Sport6, um possível oponente dessa versão RS pode ser o Volkswagen Polo GTS, vendido por R$ 140.390. O compacto premium também traz sob o capô um motor 1.4 turbo, com 150cv e câmbio automático que permite trocas manuais por shift paddles. Entre os equipamentos, o Polo “esportivado” tem quatro airbags, controles de tração e estabilidade, multimídia com tela de 10 polegadas, rodas de 17 polegadas, bancos revestidos em couro, quadro de instrumentos digital e faróis full-LED.