Alexandre Carneiro
A Citroën nadou contra a corrente ao lançar a linha 2023 do C3, que marca a estreia da nova geração. É que, agora, esse modelo passa a disputar o segmento de entrada, um degrau abaixo das safras anteriores, que posicionavam-se entre os chamados "compactos premium". E isso vale, inclusive, para as versões top de linha: a série First Edition, com motor 1.6 e câmbio automático, avaliada pelo VRUM, é a mais cara da gama, com preço de R$ 97.990. Vale a pena?
Primeiramente, cabe destacar que, entre os carros com câmbio automático, essa configuração é uma das mais em conta no mercado de zero-quilômetro. O conjunto é o mesmo do Peugeot 208, com caixa de seis marchas e propulsor capaz de gerar 113cv de potência e 15,4kgfm de torque com gasolina, além de 120cv e 15,7kgfm com etanol.
Esse motor, embora esteja longe de ser novo, dá ao Citroën C3 2023 uma performance interessante. Não é, de modo algum, um "foguete", mas o desempenho é mais que satisfatório para mover os 1.152 quilos do modelo, inclusive na estrada, onde é possível fazer ultrapassagens e enfrentar aclives com alguma reserva de potência.
AO VOLANTE
O câmbio troca as marchas de maneira um pouco lenta, de modo a priorizar o consumo de combustível. E não há borboletas (paddle-shifters) no volante para operar o sistema sequencialmente. Isso só é possível por meio de toques na alavanca de câmbio. Todavia, em um hatch de entrada, sem pretensões esportivas, tais características são aceitáveis.
Aliás, todo o acerto mecânico do Citroën C3 2023 induz a uma tocada mais relaxada. Inclusive a suspensão, que proporciona um rodar macio e confortável. É bom para enfrentar obstáculos urbanos, como quebra-molas e valetas. Nesse tipo de situação, ajuda ainda a boa altura do solo, de 18 centímetros. Já a estabilidade em curvas é apenas razoável.
A direção, com assistência elétrica em todas as versões, também poderia ser mais firme em alta velocidade. Por outro lado, o sistema é bem leve em manobras. Por sua vez, os freios, com discos ventilados na dianteira e tambores na traseira (arquitetura que é padrão no segmento), mostram-se bem-dimensionados.
E, por falar em consumo, as aferições do VRUM revelam que, com gasolina, o Citroën C3 2023 obteve médias apenas razoáveis no trânsito urbano: 8,9km/l. Porém, em rodovias, o hatch conquistou a boa marca de 14,3km/l. Para efeito de complementação, os números do Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular (PBE), do Inmetro, estão na ficha técnica.
INTERIOR
No interior, apesar do projeto ainda novo em âmbito mundial, o Citroën C3 2023 dá algumas derrapadas. E olha que elas nem dizem respeito ao acabamento, que é simples, embora coerente com o segmento de entrada: no caso, os materiais de revestimento são de plástico duro, mas o padrão de montagem é bom. Os problemas são relativos à ergonomia.
Um dos inconvenientes que mais salta aos olhos é o posicionamento das teclas de acionamento dos vidros elétricos traseiros: elas estão instaladas no fim do console central, entre os bancos dianteiros. Trata-se de uma herança indesejável da primeira geração do modelo, que dificulta o acionamento tanto para o motorista quanto para os passageiros de trás.
À esquerda do painel, também há teclas mal posicionadas, parcialmente encobertas pelo volante. Uma delas é a de travamento central das portas, que, ainda por cima, só funciona com a ignição ligada. Assim, se o carro estiver estacionado, mas houver algum ocupante a bordo, é preciso manter a chave no contato. E falta ajuste de distância à coluna de direção, que só é regulável em altura.
Todavia, a maior falha é o quadro de instrumentos composto por uma telinha de cristal líquido. Nada a reclamar do velocímetro, mas os marcadores de combustível e da temperatura do fluido de arrefecimento são muito pequenos e dificultam a leitura. Mas o pior é a ausência de conta-giros. Simplesmente não há, nem na versão top de linha. A Citroën parece ter voltado aos anos 70, quando tacômetro era coisa de carro esportivo...
ESPAÇO GENEROSO
E quanto aos acertos a bordo do Citroën C3 2023? A destacar, estão a boa pegada do volante, a visibilidade e os bancos, que apoiam bem o corpo, apesar do assento um pouco curto, como é comum em compactos. Vale destacar que o do motorista tem regulagem de altura. Porém, a maior virtude da cabine é o espaço, que está entre os mais amplos do segmento.
Para começo de conversa, o Citroën C3 2023 nem é tão compacto assim: afinal, tem 3,98 metros de comprimento e 2,45m de entre-eixos. Além do mais, a carroceria alta faz com que os ocupantes se sentem em posição mais verticalizada, o que ajuda a aproveitar ainda melhor o espaço. O resultado é um habitáculo capaz de acomodar quatro adultos corpulentos sem aperto algum.
O banco traseiro só não consegue acomodar três adultos sem aperto, mas isso não é demérito para um carro compacto. E ainda é digna de nota a boa oferta de porta-objetos a bordo, ainda que o porta-luvas fique devendo a útil iluminação de conveniência.
O porta-malas do Citroën C3 2023 também está entre os maiores da classe: com 315 litros, ele só fica atrás, por pouco, do Renault Stepway, cujo bagageiro tem 320l. O estepe, de medida diferente dos demais pneus, fica dentro do compartimento, mais protegido contra furto. A única ressalva nesse quesito vai para o encosto do banco traseiro, que é inteiriço, e não bipartido, o que reduz as possibilidades de rebatimento.
SEGURANÇA
No fim das contas, o Citroën C3 2023 segue a estratégia da nova geração, que tenta conquistar compradores pelo bolso. O modelo é espaçoso e, apesar de não empolgar ao volante, entrega uma dirigibilidade na medida para os grandes centros urbanos. Ademais, o design parece ter agradado: durante o teste, o modelo chamou atenção e recebeu elogios nas ruas.
Outro apelo do hatch é a central multimídia, com tela de 10 polegadas de formato horizontal e conectividade sem fio com as plataformas Android Auto e Apple Carplay. Na prática, o equipamento mostrou boa resolução e uso intuitivo. Ela fica devendo o carregamento de celular por indução, mas, ao menos, há três entradas USB a bordo, sendo duas delas voltadas para o banco traseiro.
Por outro lado, há pontos fracos bastante relevantes. Além das já citadas falhas de ergonomia, pesa contra, em especial, a pouca oferta de equipamentos de segurança. Afinal, toda a linha, inclusive a série First Edition, oferece apenas os obrigatórios dois airbags frontais. É muito pouco, mesmo para um carro de entrada. Vale lembrar que alguns concorrentes, como o Chevrolet Onix, vêm de série com seis bolsas.
FICHA TÉCNICA
» MOTOR
Dianteiro, transversal, flex, quatro cilindros em linha, 16 válvulas, com 1.587cm³ de cilindrada, com injeção multiponto de combustível, potências máximas de 113cv (gasolina) e 120cv (etanol) a 6.000rpm, e torques máximos de 15,4kgfm a 4.250rpm (g) e 15,7kgfm a 4.500rpm (e)
» TRANSMISSÃO
Tração dianteira, e câmbio automático de seis marchas
» SUSPENSÃO/RODAS/PNEUS
Dianteira, independente, tipo McPherson, com barra estabilizadora; traseira, semi-independente, eixo de torção / 5,5×15 polegadas (liga leve) / 195/60 R15
» DIREÇÃO
Do tipo pinhão e cremalheira, com assistência elétrica
» FREIOS
A discos ventilados na frente e tambores na traseira, com ABS e EBD
» CAPACIDADES
Do porta-malas, 315 litros; do tanque de combustível, 47 litros; capacidade de carga (passageiros e bagagem), 400 quilos
» DIMENSÕES
Comprimento, 3,98m; largura, 1,73m; altura, 1,59m; distância entre-eixos, 2,54m; e altura em relação ao solo, 18cm
» PESO
1.152 quilos
» PERFORMANCE
Velocidade máxima: 180km/h (g/e)
Aceleração até 100km/h: 11s (g) 10,4s (e)
» CONSUMO*
Cidade: 10,3km/l (g) e 7,2km/l (e)
Estrada: 12,4km/l (g) e 8,5km/l (e)
Dados do fabricante
* Dados do Inmetro
(g): gasolina; (e): etanol
EQUIPAMENTOS
» DE SÉRIE
Controles de estabilidade e tração, assistente de partida em rampa, ar-condicionado, direção elétrica, travas, vidros e retrovisores elétricos, alarme, coluna de direção e banco do motorista com regulagem de altura, volante multifuncional revestido em couro, rodas de liga leve de 15 polegadas, luzes de rodagem diurna em LEDs, faróis de neblina, computador de bordo, barras no teto, protetor de cárter, frisos, pintura bicolor e central multimídia com tela de 10 polegadas, 3 entradas USB e câmera de ré.
» OPCIONAL
Não há.
» Quanto custa?
O Citroën C3 2023 First Edition 1.6 AT tem preço sugerido de R$ 97.990.