Imagina só colocar um disco de vinil para tocar e descobrir que ele representa muito mais do que apenas algumas músicas gravadas, mas uma memória física de alguém que já morreu?
É essa a intenção da empresa britânica And Vinyly, que resolveu inovar e lançou uma proposta para lá de inusitada: transformar as cinzas de pessoas mortas em discos de vinil.
Esse tipo de empresa faz com que as cinzas de pessoas mortas não sejam mais depositadas em urnas ou jogadas ao vento, mas sim vestidas ou exibidas de alguma forma.
Estima-se que uma colher de chá de cinzas seja suficiente para um disco de vinil.
Um escultor de 69 anos utilizou as cinzas da própria mãe e conseguiu produzir 15 discos para amigos e parentes.
"Acredito que a And Vinyly ajudou, sem dúvida, a manter a memória de minha mãe viva", disse o homem.
Jason Leach, o idealizador do projeto, disse que estava refletindo sobre a mortalidade quando decidiu tirar a ideia do papel.
"Fiquei impressionado como eu e alguns amigos quase não considerávamos ou aceitávamos nossa própria mortalidade e com o quanto muitos de nós evitamos conversas sobre a morte", disse.
Ele conta que o processo de feitura é parecido com o de vinis normais. As cinzas, que podem ser humanas ou de animais de estimação, são adicionadas em uma fase específica da produção.
Os preços dos produtos inusitados podem variar de acordo com o pedido. Um pacote básico pode custar cerca de 900 libras (pouco mais de R$ 5,6 mil), podendo chegar a 3 mil libras (R$ 18,7 mil).
As opções ainda incluem dois tamanhos de disco, música composta especialmente para a ocasião, retrato pintado no disco e até vinil colorido.
É possível compactar suas cinzas em um LP com o conteúdo de sua escolha: uma seleção de músicas emocionantes, uma piada ou qualquer outra coisa que sua mente criativa decidir que caiba nos limitados 24 minutos de reprodução.
Jason Leach, que também é produtor musical, chegou a gravar dois discos com cinzas humanas por mês.
Segundo ele, a ideia é angariar mais recursos para conseguir produzir mais discos e se associar a empresas funerárias para que elas passem a oferecer o serviço.
"Claro, há aqueles que acham isso estranho, até assustador, mas a maioria das pessoas muda de ideia", diz Leach.
O produtor já tem planos inclusive para o próprio disco. O vinil de Leach deve incluir declarações dele, de sua companheira e das duas filhas, além de algumas composições de sua autoria.
E não é possível fazer só vinis com as cinzas de falecidos. Na Suíça, um homem de 37 anos garantiu que seus restos se transformem em um diamante.
Um diamante é composto por 99,9% de carbono, enquanto o corpo humano tem 20%. Após a cremação, cerca de 1-5% de carbono permanece.
O homem investiu R$ 1,2 milhão e criou uma empresa com o próprio professor para realizar o desejo, a Algordanza.
Em seu laboratório, ele consegue produzir pedras a partir de cinzas em semanas.
Cerca de 85 diamantes são produzidos por mês e chegam a custar entre R$ 11,3 mil e R$ 51,6 mil.
Ele relatou que já recebeu clientes familiares de vítimas de várias tragédias como o Tsunami na Tailândia, que aconteceu em 2004 e o terremoto no Chile, ocorrido em 2010.
Em Santa Fé, nos Estados Unidos, Justin Crowe, usa cinzas de cremação como matéria-prima para produzir cerâmica.
A linha de produtos da empresa de Crowe produz vasos, joias, luminárias, velas e até canecas de café.
Os preços variam de US$ 195 (R$ 940) para um colar até US$ 995 (R$ 4.795) para um vaso grande.
O empresário contou que já recebeu alguns pedidos inusitados, como uma mulher que queria transformar as cinzas de sua irmã e de dois cachorros em xícaras de café.