Quando se fala em Michelangelo, vem à mente o gênio da Capela Sistina. Mas existe um xará , que também deixou uma marca de genialidade na Itália e no mundo: Michelangelo Merisi, nascido em 29/9/1571 em Caravaggio, adotou sua aldeia como nome artístico. Foi um dos maiores da história.
E também um dos mais "malditos". Caravaggio atuou em Roma, Nápoles, Malta e Sicília, entre 1593 e 1610, quando morreu, em Porto Ercole
Caravaggio pintou fundamentalmente temas religiosos. No entanto, suas pinturas costumavam escandalizar os clientes.
Em vez de retratar belas figuras etéreas, para personificar nomes da Bíblia, ele lançava mão de outros modelos: prostitutas, crianças de rua e mendigos.
Portanto, Caravaggio tomava emprestada a imagem de pessoas comuns das ruas de Roma para retratar, por exemplo, Maria e os apóstolos.
Sua inspiração estava entre comerciantes, prostitutas, marinheiros, todo tipo de gente que não fosse de nobre estirpe e que tivesse grande expressividade.
Seu trabalho exerceu influência importante no Barroco. Foi o primeiro grande representante desse gênero e seu traço não deixava margem para dúvida sobre seu talento.
Caravaggio chegou a ser acusado de usar o corpo de uma prostituta, encontrada morta do rio Tibre, para pintar A Morte da Virgem.
Outra característica marcante foi a sua dimensão realista: usava um fundo raso, obscuro, muitas vezes totalmente negro, e agrupava a cena em primeiro plano com focos intensos de luz sobre os detalhes. Impactante.
O contraste de sombra e luz é marcante em seus quadros e atrai o observador para dentro da cena. Ele também usa cores de tons fortes, especialmente o vermelho.
Dos efeitos que Caravaggio dava aos quadros, originou-se o Tenebrismo, estilo em que tons terrosos contrastam com fortes pontos de luz.
Em A Flagelação de Cristo, cada detalhe foi pensado para retratar a atmosfera de entrega de Jesus ao seu destino em prol da humanidade.
Caravaggio reagiu às convenções e privilegiou uma pintura natural, direta, e até mesmo brutal, como se vê no quadro em que o general Holofernes é decapitado por Judite, após ser seduzido por ela.
Em David e Golias, Caravaggio pinta uma imagem dele mesmo como o herói que matou o gigante.
Em Medusa (1597), a inegável expressividade do rosto em terror demonstra a capacidade do artista de traduzir no desenho um sentimento até as últimas consequências. Gaspare Murtola (morto em 1624) disse: "Fuja, pois se seus olhos forem petrificados em fascínio, ela o tornará em pedra".
Caravaggio se retratou várias vezes e já foi dito que, às vezes, ele usava um espelho para se ver e pintar. Aqui, ele encarna Baco, o Deus do Vinho.
Após um período em que ficou doente, em Roma, ele pintou novamente o Deus Baco, com seu próprio rosto, mas demonstrando o efeito da enfermidade: ele sofreu de icterícia.
Após uma carreira de pouco mais de uma década, Caravaggio morreu em circunstâncias desconhecidas, em 18/7/1610, aos 38 anos. Seu corpo permaneceu em local desconhecido por séculos.
Em 16/6/2010, cientistas e universitários italianos do "Comitê Caravaggio" anunciaram a identificação dos restos mortais do pintor, graças a análises de DNA e de carbono-14, no pequeno cemitério de Porto Ercole, na comuna de Monte Argentario, na Toscana, onde Caravaggio morrreu.
Em 2018, identificou-se que a morte de Caravaggio foi provocada por uma infecção causada pela bactéria "Staphylococcus aureus", depois que o artista sofreu um ferimento com espada.
Sua arte eterna está exposta nos mais importantes museus do mundo. E encanta pela expressividade, pela qualidade do traço e pelo jogo de luzes.
Fechamos a galeria com Narciso. Caravaggio retratou um jovem olhando para a água de um lago - referência ao mito greco-romano clássico do jovem bonito e vaidoso que se apaixona por seu próprio reflexo. Assim foi Caravaggio: um artista apaixonante.