A presidenta do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Rosa Weber, prometeu que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) seguirá empenhado em cobrar da polícia o esclarecimento sobre o assassinato de Maria Bernadete Pacífico.
A líder quilombola e ialorixá foi assassinada na noite do dia 17 de agosto, em casa, quando via TV, diante dos netos.
O crime aconteceu dentro do Quilombo Pitanga dos Palmares, no município de Simões Filho, na Bahia.
Bernadete Pacífico, de 72 anos, era coordenadora nacional de Articulação de Quilombos (Conaq) e liderava o Quilombo Pitanga dos Palmares.
Uma força-tarefa foi designada por Heloisa Campos de Brito, delegada-geral da Polícia Civil da Bahia, para investigar o assassinato.
A Secretaria da Segurança Pública da Bahia informou que o crime foi cometido por dois homens.
Os criminosos invadiram o local onde estava Bernardete e a executaram com vários tiros.
Antes dos disparos, os suspeitos isolaram em um cômodo outros familiares de Bernardete.
A líder quilombola encontrava-se há dois anos sob proteção da Polícia Militar por decisão da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos da Bahia.
"A proteção do estado era só uma ronda simbólica. Uma viatura da PM ia lá uma vez por dia, geralmente no final da tarde, falava com ela e ia embora. Que segurança é essa?", questionou ao GE o advogado da família, David Mendez.
Bernardete denunciava madereiros que atuavam na comunidade quilombola onde ela vivia.
A localidade tem status de Área de Proteção Ambiental (APA). Por isso, é proibida a extração de madeira na comunidade.
De acordo com o advogado David Mendez, Bernardete vinha relatando recentemente um aumento das ameaças que partiam dos madeireiros.
Ela relatou três vezes em que pessoas passaram à noite atirando para cima em frente à casa onde vivia.
Em junho, Bernardete denunciou à presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber, as constantes ameaças contra as comunidades. O relato ocorreu durante encontro que contou com outras lideranças quilombolas.
Bernardete era bastante engajada em causas sociais e foi secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial em Simões Filho na gestão do prefeito Eduardo Alencar (PSD) (2009-2016).
Em 2017, o filho de Bernardete também foi assassinado na região do Quilombo Pitanga dos Palmares.
Flávio Gabriel dos Santos, conhecido como Binho do Quilombo, tinha 36 anos e foi alvejado dentro de um carro.
Bernadete clamava por justiça pelo assassinato do filho.
Cerca de 290 famílias vivem no Quilombo Pitanga dos Palmares, que tem 854 hectares.
No local, 120 agricultores produzem e vendem alimentos como farinha para vatapá, frutas e verduras.