Um escândalo envolvendo a saúde pública revoltou o Brasil, principalmente os moradores do Rio Grande do Sul. Reportagem do jornalista Giovani Grizotti, da RBS, revelou fraudes e irregularidades de médicos que trabalham no Samu no estado gaúcho.
Segundo a reportagem exibida no Fantástico, médicos não cumpriam suas cargas horárias, chegavam atrasados e trabalhavam menos do que deveriam.
Cleiton Felix, enfermeiro que trabalhava como operador do áudio da central do SAMU, resolveu atestar a gravidade das irregularidades. Segundo ele, existe uma "escala da escala" entre os médicos de plantão.
A "escala da escala" acabava criando turnos curtos entre os profissionais. Médicos foram flagrados trabalhando por cerca de 4h em um dia, quando o plantão ideal é de 12h.
A morte de Maria Isolete, de 72 anos, é um dos casos citados na matéria. Ela sofria de câncer de pulmão e esperou por quase uma hora por um atendimento do Samu. Maria foi a óbito no trajeto até o hospital.
No momento em que a filha da idosa buscava ajuda na chamada do Samu, apenas um médico estava presente, enquanto três, segundo a escala, deveriam estar disponíveis na central. A idosa foi vítima de um infarto agudo do miocárdio e hipertensão arterial.
Um outro caso que prova o absurdo foi uma ligação de Gravataí, interior do Rio Grande do Sul. Cristina, de 49 anos, registrou seis ligações para o Samu, todas sem resposta. Ela foi levada para o posto de saúde com ajuda da Guarda Municipal.
O coordenador da Central, Jimmy Herrera, admite que sabia da fraude dos médicos do Samu e acusa a direção de não ter tomado providências
Uma das táticas usadas pelos médicos para fingir que estava trabalhando era usar uma garrafa de água sobre o teclado do computador para se ausentar do trabalho. Com isso, o computador permanecia ligado "fingindo" que o sistema estava sendo usado.
Um outro exemplo de absurdo é da médica Tarine Christ Trennepohl, que tem salário de 23 mil reais, cumpriu apenas 51 horas de uma jornada mensal de 240 horas. As faltas eram justificadas como problema na marcação do relógio de ponto e compensação autorizada.
Ainda segundo Jimmy Herrera, uma médica chegou a apresentar 12 atestados falsos para cumprir horário menor do que o contratado.
Arita Bergmann, secretária de saúde, pediu desculpas para a população. Ela também anunciou a abertura de sindicância com 30 dias para ser concluída, auditoria e implantação de novos mecanismos de controle na Central de Regulação do Samu.
Entre os novos mecanismos, está um sistema de câmeras e catracas para controlar entradas e saídas: "Corrigir com muito rigor o que está errado. Punir quem não cumpriu com a sua jornada de trabalho"
Diretor do Departamento de Regulação, Eduardo Elsade revelou que não sabia das irregularidades que foram flagradas pela reportagem Para ele é preciso que tenha "um período para avaliar" todo o caso
Em nota, o Ministério da Saúde disse que pode suspender os repasses de R$ 25 milhões por ano ao Samu caso as denúncias forem comprovadas. A Central deve ter 12 médicos no período diurno e 10 no noturno para poder receber a verba.