A revelação de um escândalo que envolveu a saúde pública e revoltou o Brasil, principalmente os moradores do Rio Grande do Sul, vai completar um mês. Reportagem do jornalista Giovani Grizotti, da RBS, no final de agosto, mostrou fraudes e irregularidades de médicos que trabalham no Samu.
Segundo a reportagem exibida no Fantástico, no dia 27 de agosto, médicos não cumpriam suas cargas horárias, chegavam atrasados e trabalhavam menos do que deveriam.
Cleiton Felix, enfermeiro que trabalhava como operador do áudio da central do SAMU, resolveu atestar a gravidade das irregularidades. Segundo ele, existia uma "escala da escala" entre os médicos de plantão.
Após a repercussão do caso, o servidor chegou a ser acusado de "apresentar os fatos à imprensa" antes de avisar ao governo. No entanto, Felix afirmou que alertou o gabinete de Gabriel Souza (MDB), vice-governador do estado.
A "escala da escala" acabava criando turnos curtos entre os profissionais. Médicos foram flagrados trabalhando por cerca de 4h em um dia, quando o plantão ideal é de 12h.
A morte de Maria Isolete, de 72 anos, é um dos casos citados na matéria. Ela sofria de câncer de pulmão e esperou por quase uma hora por um atendimento do Samu. Maria foi a óbito no trajeto até o hospital.
No momento em que a filha da idosa buscava ajuda na chamada do Samu, apenas um médico estava presente, enquanto três, segundo a escala, deveriam estar disponíveis na central. A idosa foi vítima de um infarto agudo do miocárdio e hipertensão arterial.
Um outro caso que prova o absurdo foi uma ligação de Gravataí, interior do Rio Grande do Sul. Cristina, de 49 anos, registrou seis ligações para o Samu, todas sem resposta. Ela foi levada para o posto de saúde com ajuda da Guarda Municipal.
Após a reportagem, o coordenador da Central, Jimmy Herrera, admitiu que sabia da fraude dos médicos do Samu e acusou a direção de não ter tomado providências.
Por conta do caso, Jimmy foi exonerado do cargo. Ele acredita que tenha sido punido por dizer que tinha conhecimento das irregularidades.
Uma das táticas usadas pelos médicos para fingir que estava trabalhando era usar uma garrafa de água sobre o teclado do computador para se ausentar do trabalho. Com isso, o computador permanecia ligado "fingindo" que o sistema estava sendo usado.
A médica responsável pela tática da garrafa de água acabou sendo exonerada do cargo após as denúncias.
Um outro exemplo de absurdo mostrado foi da médica Tarine Christ Trennepohl, que tinha salário de 23 mil reais, cumpriu apenas 51 horas de uma jornada mensal de 240 horas. As faltas eram justificadas como problema na marcação do relógio de ponto e compensação autorizada.
Ainda segundo Jimmy Herrera, uma médica chegou a apresentar 12 atestados falsos para cumprir horário menor do que o contratado.
Arita Bergmann, secretária de saúde, pediu desculpas para a população. Ela também anunciou a abertura de sindicância com 30 dias para ser concluída, auditoria e implantação de novos mecanismos de controle na Central de Regulação do Samu.
Entre os novos mecanismos, está um sistema de câmeras e catracas para controlar entradas e saídas: "Corrigir com muito rigor o que está errado. Punir quem não cumpriu com a sua jornada de trabalho"
Diretor do Departamento de Regulação, Eduardo Elsade revelou que não sabia das irregularidades que foram flagradas pela reportagem. Dias depois, ele foi afastado do cargo e substituído por Laura Sarti de Oliveira, diretora-adjunta do departamento.
Em nota, o Ministério da Saúde disse que pode suspender os repasses de R$ 25 milhões por ano ao Samu caso as denúncias forem comprovadas. A Central deve ter 12 médicos no período diurno e 10 no noturno para poder receber a verba.