Fracassou a tentativa da defesa de Jair Bolsonaro de reverter decisão do TSE que tornou o ex-presidente inelegível até 2030.
O tribunal formou maioria para rejeitar o recurso em votação ocorrida por julgamento virtual no dia 22 de setembro.
Agora resta à equipe jurídica de Bolsonaro um recurso extraordinário. Na alta corte, é preciso apresentar elementos que mostrem violações à Constituição na decisão do TSE.
O eventual recurso será julgado no plenário do STF com a participação dos três ministros que também são do TSE: Cármen Lúcia, Alexandre de Moraes e Kaio Nunes Marques. Eles, porém, não podem participar de sorteio para definição do relator.
No dia 30 de junho, o Tribunal Superior Eleitoral declarou Jair Messias Bolsonaro inelegível até 2030 por 5 votos 2.
O ex-presidente foi condenado por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação.
A ação que pedia a inelegibilidade de Bolsonaro foi impetrada pelo PDT (Partido Democrático Trabalhista).
O objeto da ação foi uma reunião de Bolsonaro com embaixadores de vários países em 18 de julho de 2022, no Palácio da Alvorada, a menos de três meses das eleições. No encontro, o então presidente repetiu informações falsas e distorcidas sobre a segurança das urnas eletrônicas.
A reunião com os embaixadores foi transmitida pela TV Brasil, emissora oficial do governo.
O relator Benedito Gonçalves abriu a votação posicionando-se a favor da inelegibilidade.
Para o relator, a reunião com os embaixadores teve finalidade eleitoral "mirando influenciar o eleitorado e a opinião pública nacional e internacional com uso da estrutura pública".
O ministro Raul Araújo foi o primeiro a votar pela rejeição da acusação. O magistrado disse não ver "requisito de suficiente gravidade" para impedir Bolsonaro.
Em seguida, foi a vez de o ministro Floriano de Azevedo Marques votar pela condenação de Bolsonaro ao constatar "caráter eleitoral" na reunião com os embaixadores.
O terceiro voto pela condenação partiu do ministro André Ramos Tavares, que identificou "desvio de finalidade" no comportamento de Bolsonaro, caracterizando abuso de poder.
A ministra Cármen Lúcia foi autora do voto que formou maioria pela inelegibilidade de Bolsonaro
Para a ministra, que também faz parte do corpo atual do Supremo Tribunal Federal (STF), a reunião de Bolsonaro com os embaixadores preencheu o requisito de gravidade (interferência no processo eleitoral).
O outro voto pela absolvição de Bolsonaro partiu do ministro Kaio Nunes Marques.
Para Nunes Marques, a ação de Bolsonaro ao promover o encontro não configurou "tentativa concreta de desacreditar o resultado da eleição".
O último a votar foi o ministro Alexandre de Moraes, que, como já esperado, posicionou-se a favor da condenação, finalizando o placar em 5 a 2 pela inelegibilidade.
Moraes considerou que Bolsonaro promoveu a reunião com os embaixadores a "toque de caixa", com "desvio de finalidade" para multiplicar nas redes sociais desinformação sobre a lisura do processo eleitoral.
Com a decisão do TSE, Bolsonaro só poderá voltar a concorrer nas eleições de 2030, quando terá 75 anos. Assim, ele está impedido de disputar dois pleitos municipais (2024 e 2028) e um geral - estaduais/federal (2026).
A defesa de Bolsonaro tentou impedir a inclusão como prova no processo da chamada "minuta do golpe", encontrada na casa do ex-ministro Anderson Torres (foto).
O documento foi encontrado pela Policia Federal em janeiro de 2023 durante operação de busca e apreensão em Brasília (DF).
Na minuta, constava um plano para instauração de estado de defesa no TSE a fim de reverter a derrota de Bolsonaro para Lula nas eleições de 2022.
O relator acatou o acréscimo da minuta ao processo e destacou a relevância da peça para a análise dos fatos.
Em entrevista coletiva dada em Belo Horizonte após a condenação, o ex-presidente declarou: "Tentaram me matar aqui em Juiz de Fora há pouco tempo, levei uma facada na barriga. Hoje levei uma facada nas costas com a inelegibilidade por abuso de poder politico".
Candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro em 2022, Walter Braga Netto teve maioria contra condenação e está livre para concorrer já nas eleições municipais de 2024.
Bolsonaro é alvo de outras 15 ações no TSE. Uma das principais acusa o político de ter usado o desfile cívico de 7 de setembro de 2022 para fazer campanha eleitoral.