O Brasil tem cantoras que entraram para a história pelo talento e por características marcantes que as diferenciavam das outras. É o caso de Nara Leão. Nascida em 19/1/1942, em Vitória (ES), descendente de portugueses e italianos, Nara viria a ser uma típica carioca, chegando ao Rio com 1 ano de idade. Conheça sua história.
Ainda criança, Nara teve aulas particulares de violão. E gostou tanto que, na adolescência, ingressou na academia de Carlos Lyra e Roberto Menescal para um aperfeiçoamento. Aos 18, já era professora do instrumento.
Talento nato para a música, Nara foi símbolo de um gênero musical criado na gema do Rio de Janeiro: a Bossa Nova.
Nara fez o show que deu origem ao musical "Pobre Menina Rica", de Carlos Lyra e Vinícius de Moraes, na boate Au Bon Gourmet, em Copacabana.
Em 1964, estrelou o musical "Opinião", de Augusto Boal, ao lado de Zé Ketti e João do Vale. No show, cantores contam as suas histórias, com música.
Ao ficar doente durante a temporada, Nara indicou para substituí-la uma cantora baiana que havia chegado ao Rio de Janeiro com o irmão. Era Maria Bethânia (foto), irmã de Caetano Veloso.
Em 1965, a cantora passou a ficar mais conhecida, não somente por sua belíssima voz, mas por expressar opinião sobre temas polêmicos, como a ditadura, no rádio e na TV.
A extensão vocal de Nara era de mezzo-soprano lírico, um deleite aos ouvidos. Além de Bossa Nova, ela também se dedicou à MPB e ao samba.
Nara destacou-se em 1966 ao interpretar "A Banda", de Chico Buarque, que venceu o Festival de Música Popular Brasileira da TV Record.
Nara também participou do Tropicalismo, movimento que mesclava manifestações tradicionais da cultura brasileira com inovações estéticas e correntes artísticas de vanguarda.
Ela está no clássico disco Tropicália ou Panis et Circensis, lançado pela Philips em 1968, com Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil, Tom Zé e Os Mutantes.
Em 1967, Nara tem agenda de shows não somente no Brasil, mas também no exterior, desenvolvendo carreira na Europa.
Neste ano, ela casou-se com o cineasta Cacá Diegues, com quem viria a ter dois filhos. Depois de uma temporada em Paris, onde fez shows, Nara voltpu ao Brasil.
Em 1968, ela atuou em musicais no teatro. Famosa, o assédio de fãs a incomodava e havia ainda a preocupação com a ditadura. Nara voltou, então, para a Europa.
Ela chegou a pensar em encerrar a carreira, mas voltou atrás. E, quando retornou ao Brasil, participou de alguns filmes. Entre eles, "Quando o Carnaval Chegar", do marido Cacá Diegues.
Em 1974, Nara gravou discos, participou de festivais e, paralelamente à carreira de cantora, passou no vestibular para Psicologia, uma disciplina que ela sempre quis abraçar.
Em 1979, começou a ter problemas de saúde, com desmaios eventuais. Mesmo assim, viajou pelo mundo para fazer espetáculos e lançou novos discos, nos anos 80.
Em 1986, sua saúde piorou. Nara tinha tumor no cérebro e, aos poucos, passou a ter dificuldade em memorizar as letras das músicas, o que a abalou profundamente.
Em 1987 e 1988, ela ainda fez shows, conseguindo melhorar com o tratamento. Nesse período, recebeu o apoio do ex-namorado Roberto Menescal.
Em 1989, fez sua última apresentação, no Pará. Ao voltar para o Rio, sofreu uma hemorragia fatal. Nara morreu em 7/6/1989, aos 47 anos.
Um série documental sobre Nara foi produzida e faz parte da plataforma da Globoplay. Em "O Canto Livre de Nara Leão", Chico Buarque diz: "Ela não se deixava conduzir por nada nem por ninguém".
A série mostra a ambiguidade do temperamento da cantora, dócil e indomável ao mesmo tempo. Capaz de deixar de se apresentar num programa se fosse obrigada a se maquiar ou mexer no cabelo conforme a vontade de terceiros.