A Justiça Federal de Tabatinga (AM) decidiu levar os réus dos assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Philips a júri popular. A defesa de Amarildo, Oseney e Jefferson, no entanto, pretende recorrer da decisão.
No momento, Amarildo da Costa de Oliveira (Pelado), seu irmão, Oseney da Costa de Oliveira (Dos Santos), e Jefferson da Silva Lima, o Pelado da Dinha, estão presos preventivamente em penitenciárias federais de Campo Grande (MT) e Catanduvas (PR).
O trio foi acusado pelo Ministério Público Federal de assassinar e ocultar os corpos do indigenista e do jornalista britânico.
Coube ao juiz federal Weldeson Pereira, da Comarca de Tabatinga (AM), ser o responsável por assinar o documento, que leva os réus a júri popular e os mantêm presos.
"Uma vez tendo respondido ao processo até aqui encarcerados e porque persistem os motivos ensejadores da sua prisão preventiva, não há motivo para colocação dos réus em liberdade. Justamente quando são pronunciados, afigura-se ainda mais necessária a manutenção da custódia cautelar", destacou o juiz.
Por outro lado, a defesa dos réus alega que o trio só pode ser levado a júri popular em caso de trânsito em julgado (quando se esgotam todas as possibilidades de recursos).
"É importante deixar claro que a decisão não encaminha os pescadores direto para julgamento pelo júri", disse a defesa.
O Ministério Público Federal (MPF) explicou o caso: "A decisão judicial foi uma sentença de pronúncia, na qual o juiz expressa o seu convencimento quanto à ocorrência de um crime doloso contra a vida e à existência de indícios suficientes de autoria, condição necessária para que os réus sejam submetidos ao julgamento pelo júri popular".
"Sobre a decisão da Justiça de levar os réus dos assassinatos de Bruno Pereira e Dom Phillips a júri popular, a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) reforça, mais uma vez, que a decisão já era esperada, tendo em vista a condução do processo", ressaltou Eliésio Marubo, procurador jurídico da Univaja.
"Confiamos na Justiça e nas instituições do Brasil que estão envolvidas na resolução do caso. Aguardamos a continuidade das investigações e pedimos que a justiça seja feita, completou.
Dom e Bruno faziam uma expedição para uma investigação na Amazônia, quando desapareceram. A última vez em que foram vistos foi no dia 5 de junho de 2022, próximos à comunidade de São Rafael, em Atalaia do Norte, no Amazonas.
As buscas, então, começaram no mesmo dia e foram realizadas com o auxílio de integrantes da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), que logo acionaram as autoridades locais.
A viagem de 72 quilômetros deveria durar apenas duas horas, mas eles nunca chegaram ao destino. Ambos viajavam pela região do Vale do Javari, no Amazonas. Ela abriga a Terra Indígena Vale do Javari, a segunda maior do país, com mais de 8,5 milhões de hectares.
No dia 15 de junho de 2022, os restos mortais de Bruno e Dom foram encontrados enterrados em uma área de difícil acesso, a cerca de 3 quilômetros da calha do Rio Itacoaí.
Diante disso, as investigações chegaram à conclusão de que a dupla foi morta a tiros e os corpos esquartejados, queimados e enterrados.
De acordo com o laudo da Polícia Federal (PF), Bruno foi atingido por três disparos, dois no tórax e um na cabeça, enquanto Dom foi baleado no tórax.
Ao longo da vida, Dom Phillips foi colaborador do jornal britânico The Guardian e se dedicou à cobertura jornalística ambiental. Ele idealizava uma obra literária sobre a Amazônia e acompanhava de perto a situação dos povos originários.
Bruno Pereira, por sua vez, ocupou a Coordenação-Geral de Índios Isolados e Recém-Contatados da Fundação Nacional do Índio (Funai). Na sequência, ele passou, então, a trabalhar para a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja).
Em julho de 2022, Amarildo, Jefferson e Oseney foram denunciados pelos crimes e detidos. Na ocasião, o Ministério Público Federal ressaltou que Amarildo e Jefferson admitiram terem participado dos assassinatos e da ocultação dos cadáveres.
Além dos três, a Polícia Federal (PF) chegou ao nome de Rubén Dario da Silva Villar, conhecido como "Colômbia", como o mandante dos homicídios.
Rubén está preso desde dezembro de 2022. Ele chegou a ser liberado após pagar uma fiança de R$ 15 mil. No entanto, ele teve sua prisão decretada novamente pela Justiça Federal. Colômbia também é investigado por pesca ilegal e tráfico de drogas.