Com o intuito de tentar conter os efeitos da seca que afeta a região Norte do país, o governo federal anunciou, nesta quarta-feira (18/10), a liberação de R$ 647 milhões.
O anúncio do pacote emergencial foi feito pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, após uma reunião com ministros e parlamentares.
O montante será dividido entre vários setores, como Ministério da Saúde, Fundo da Amazônia, Ministério da Justiça, do Meio Ambiente, da Defesa, além de uma quantia que será distribuída entre os próprios municípios.
Do valor total, R$ 138 milhões serão só para fazer a dragagem dos rios.
Além disso, foi anunciado que haverá o pagamento de um auxílio emergencial para as famílias afetadas.
Na reunião, ficou decidido que será feita a dragagem de 12 km ligando o trecho conhecido como Tabocal ao Rio Madeira.
Na segunda-feira (16/10), o Rio Negro atingiu a pior seca de sua história ao alcançar a marca de 13,59 metros.
Na terça (17), a cota do rio continuou a descer e atingiu 13,49 metros.
Nas redes sociais, o videomaker Thiago Oliver publicou um vídeo comparando o cenário antes e depois da seca.
Segundo a pesquisadora do Serviço Geológico Brasileiro (SGB), Jussara Cury, a previsão é que o nível da água continue baixando até o início de novembro.
De acordo com as informações do Porto de Manaus, que monitora o nível do Rio Negro desde 1902, esta é a seca mais grave já vista na cidade.
Até agora, a menor marca havia sido em 2010, quando o Rio Negro chegou a 13,63 metros.
No ano de 2023, em grande parte das margens da capital, o Rio Negro se transformou em bancos de areia e filetes de água.
O fenômeno foi tão grave que afetou a aparência dos pontos turísticos em Manaus. Mais de 50 municípios estão em estado de emergência.
Já no fim de setembro, a Prefeitura de Manaus havia declarado estado de emergência na cidade. Na época, o Rio Negro estava cerca de 16 metros de altura, o que é três metros a mais do que o nível atual.
Segundo Jussara Cury, a subida do rio depende diretamente do comportamento do Rio Solimões ele banha nove cidades do Amazonas e represa 70% do nível de água para o Rio Negro.
A exemplo da maioria dos municípios do Amazonas, Manaus está enfrentando uma crise ambiental considerada grave.
A seca recorde tem isolado comunidades e obrigado o fechamento de escolas em áreas rurais. Além disso, a navegação de barcos e o transporte da produção do Polo Industrial têm sido prejudicados.
Há algum tempo, a cidade também lida com uma intensa poluição do ar causada por incêndios na região metropolitana. Na segunda semana de outubro, a qualidade do ar em Manaus foi classificada como uma das piores do mundo.
Secas e cheias não são eventos incomuns na Amazônia. Isso ocorre devido aos enormes rios que cortam a região e à vasta floresta, que gera muita umidade e a libera no ar.
Normalmente, a temporada de chuvas ocorre entre novembro e março, enquanto os períodos de seca vão de abril a meados de outubro.
Especialistas explicam que, neste ano, a região está passando por uma seca mais severa devido a dois fenômenos acontecendo simultaneamente. O primeiro deles é o El Niño, que provoca o aquecimento das águas do Oceano Pacífico.
Segundo eles, o fato de o El Niño estar acontecendo de forma mais intensa dificulta a formação de chuvas na Amazônia.
Um segundo evento natural que estaria por trás da seca histórica em Manaus seria o aquecimento anormal das águas do Oceano Atlântico, que também reduz a quantidade de chuva na região.
A seca não está causando sofrimento somente aos humanos. Em Tefé, município próximo do rio Solimões, pelo menos 141 botos de diferentes tipos foram encontrados mortos nas margens do lago que circunda a cidade.
Embora as causas ainda estejam sendo investigadas, especialistas afirmam que é possível que a estiagem tenha relação direta com a morte dos botos.