A primeira parte do julgamento da estudante acusada de desviar mais de R$ 920 mil do fundo de formatura da 106ª turma de medicina da Universidade de São Paulo (USP) encerrou na noite desta terça-feira (31/10).
De acordo com o Tribunal de Justiça, durante o julgamento, foram escutadas três pessoas que foram vítimas, duas que depuseram a favor da acusação, e uma que apoiou a defesa, além da própria acusada, Alicia Dudy Muller.
Duas vítimas e duas testemunhas programadas para comparecer ao tribunal não estiveram presentes na 7ª Vara Criminal.
A próxima etapa do caso envolve a revisão de uma investigação adicional, que foi requisitada nesta terça (31/10).
Se o juiz aceitar o pedido, haverá um prazo para que as partes façam suas últimas declarações. O processo continua sendo mantido em sigilo pela Justiça. Relembre o caso a seguir.
A estudante de Medicina Alicia Muller, da USP, foi acusada de desviar mais de R$ 900 mil da festa de formatura da turma.
Ela é presidente da comissão de formatura da turma 106 do curso de Medicina.
Ela alegou que a empresa contratada para o evento - Ás Formaturas - não estava administrando bem o dinheiro depositado e ela decidiu sacar e fazer aplicações por conta própria, mas acabou "fazendo péssimas aplicações e perdendo o dinheiro".
A empresa afirma que enviou e-mail alertando a comissão de alunos de que Alicia estava fazendo saques.
Alicia disse que usou parte do dinheiro "para benefício próprio" com aluguel de carro e de apartamento, além da compra de um iPad Pro. E afirmou que tentou recuperar parte do dinheiro fazendo apostas numa lotérica.
Os investigadores já descobriram que ela fez transferências e depósitos para ela mesma entre novembro de 2021 e dezembro de 2022, com valores diferentes a cada mês. O maior deles, de R$ 604 mil; e o menor, de R$ 2,8 mil.
A polícia também descobriu que Alicia estava sendo acusada por uma lotérica de tentar fazer aposta de alto valor sem fazer o pagamento.
Em junho de 2022, ela tentou apostar, de uma só vez, R$ 891.530. A gerente pediu comprovante por pix e o valor era de 891 reais na tentativa de enganar a lotérica.
A princípio, Alicia responde ao processo em liberdade, após deixar 110 alunos sem o dinheiro para a comemoração.
O TAB UOL ouviu representantes das empresas BRL Eventos e 2052 Produções Fotográficas e eles deixaram claro que o setor teve uma expansão impressionante de uma década para cá.
Segundo a BRL, as turmas fazem uma espécie de concorrência na tentativa de promover a melhor festa. E isso acaba envolvendo muito dinheiro.
Se antes os alunos alugavam um espaço e chamavam no máximo uma banda ou um DJ, agora eles querem festejar em lugares bem mais amplos e chamando atrações badaladas, pagando cachê pela apresentação. Para isso, vendem ingressos para a celebração.
Por isso, até pavilhões de eventos, como o Expo Center Norte e São Paulo Expo, em São Paulo, são disputados pelos formandos.
Lugares assim são imensos e sem decoração. Então, também é grande o gasto para forrar paredes, botar enfeites e alugar mobiliário.
As comidas, atualmente, ficam em buffet aberto, com separação por itens da preferência dos convidados (regional, vegetariano, japonês, etc). As bebidas incluem marcas importadas de gim, vodka e uísque.
O TAB UOL ouviu a Associação Brasileira de Empresas de Formatura e Afins, que estimou em R$ 1 milhão a R$ 3 milhões os gastos com uma formatura no modelo atual desejado pelos formandos.
Segundo a associação, cerca de 5 mil festas de formatura são realizadas a cada ano no Brasil.
A associação estima que os eventos movimentem, ao todo, cerca de R$ 7 bilhões ao ano, gerando 6,5 milhões de empregos diretos.
Para efeito de comparação, a indústria automobilística gera 421 mil empregos no Brasil.
A associação foi criada há 5 anos para tentar zelar por esse mercado, pois o tamanho do negócio atrai empresas consideradas "predadoras", capazes de ficar com o dinheiro dos alunos sem promover a festa.
São 200 associados. Mas a entidade estima que haja 1.500 empresas de promoção de formaturas, entre outros eventos, no Brasil.
Só em 2022, o Procon de São Paulo recebeu 332 reclamações de consumidores contra empresas de formatura. A maior incidência foi nos meses de janeiro, fevereiro, abril e maio.
Medicina é o curso mais disputado entre as empresas especializadas nas festas de formatura. O preço pode chegar a R$ 11 mil por formando. E este valor alcança R$ 35 mil quando a universidade é privada.
Outro caso parecido aconteceu em Maringá, no Paraná, onde mais de 100 alunos de uma universidade particular afirmam que foram lesados por uma empresa e ficaram sem a festa de formatura.
Um jantar que tinha sido encomendado deu problemas, segundo os alunos, porque houve atraso e descumprimento de vários itens. Na véspera de um baile, tudo foi retirado do salão e a festa não aconteceu.
A justiça autorizou o bloqueio de R$ 3 milhões da empresa, que alega não ter recebido os valores combinados pelos estudantes. A polícia investiga o caso e está ouvindo estudantes e representantes da empresa.