São Paulo enfrenta uma crise de energia devido às fortes chuvas do dia 3/10. A grave crise escancara problemas estruturais não só da cidade, mas do país como um todo.
Primeiramente vale entender o que enfrenta a cidade paulistana. Cerca de 200 mil imóveis continuam sem energia , quatro dias após o temporal.
Enquanto a Enel, responsável pela rede de energia da cidade, segue tentando restabelecer o fornecimento aos clientes, a população reflete sobre melhorias.
Em momentos de falta de luz sempre há o debate quanto aos postes e emaranhados de fios nas ruas. Algumas imagens chegam a viralizar nas redes sociais.
Por exemplo, a cidade de São Paulo tem cerca de 20 mil km de fios aéreos, segundo a Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecom Competitivas (TelComp).
Apenas 0,3% da rede está totalmente subterrânea. O ex-prefeito João Dória prometeu, em 2017, que enterraria 52 km de 117 vias do centro de São Paulo.
Porém, as obras que terminariam em julho de 2018 estão atrasadas. Na gestão Ricardo Nunes (MDB), os números subiram para 65 km, mas nenhum dos objetivos foi alcançado, segundo a prefeitura.
Luiz Henrique Barbosa, presidente da TelComp, empresa responsável pela execução do novo programa 'SP sem fios', explicou que apenas 37 km dos quase 65 km foram totalmente concluídos.
Outros 6 km estão em fase de aterramento, totalizando 43 km. No entanto, a Enel afirma que concluiu 100% da meta prevista no projeto.
É importante entender os benefícios da rede subterrânea para as cidades.
Primeiro, e provavelmente o mais importante, evitaria as quedas constantes de energia. Fortes chuvas, ventos, quedas de árvore e outros eventos naturais não seriam determinantes para a falta de luz.
Aterrar os fios seria um benefício para as árvores também. Muitas delas são mutiladas para abrir caminho para a fiação elétrica.
A poluição visual seria menor e traria um aspecto mais bonito para as cidades. O aterramento também diminuiria os prejuízos financeiros e patrimoniais.
Outra diminuição seria a de furto de cabos. No Rio de Janeiro é comum problemas de fornecimento por conta de roubos. Em 2022, a capital fluminense teve um aumento de 20% nos furtos.
Por fim, diminuiria os riscos de morte. Em 2018, um folião morreu no Carnaval de SP após encostar em um poste. Laudo do Instituto de Criminalística (IC) apontou uma falha no isolamento de componentes elétricos e um fio desencapado de uma câmera de segurança.
Por outro lado, enterrar os fios gera um custo bem alto. Segundo os cálculos da TelComp, soterrar os 20 mil km de fios na cidade de São Paulo custaria R$ 81 bilhões.
Na cidade do Rio de Janeiro, a Light, empresa que fornece energia, afirma que o aterramento total seria de R$ 57 bilhões, levando a um aumento de 80% nos valores de conta de luz da população.
Além disso, as obras andam de forma lenta, segundo a TelComp. Isso porque elas só podem ser feitas das 20h às 4h da madrugada.
Outra barreira é o uso dos postes por outras empresas de internet, tv por assinatura e telefone. As que pagam à Enel anualmente podem utilizar cerca de 750 mil postes da cidade de SP.
Em outubro de 2023, os ministros Juscelino Filho (Comunicações) e Alexandre Silveira (Minas e Energia) assinaram portaria com regras para tentar organizar os fios nos postes das cidades brasileiras: 'Programa Poste Legal'.
De todo modo, é fato que as cidades brasileiras, especialmente as grandes capitais, precisam de planos bem detalhados para resolver os emaranhados de fios.