Meu filho nasceu em 2009, meu marido teve cinco dias de licença-paternidade e voltou ao trabalho enquanto eu fiquei em casa enlouquecendo. Eu amava receber visitas, me sentia muito sozinha. A vida que eu conhecia tinha sido interrompida para recomeçar de um jeito diferente e não estava sendo fácil me adaptar. O pai tinha que trabalhar, e, como eu amamentava, eu procurava não acordá-lo de madrugada. Duas semanas depois, eu já me pegava chorando sem saber o motivo.

Eu tinha meu escritório de arquitetura com uma sócia e me sentia desconfortável de deixá-la sozinha para cuidar de tudo. Somando isso àquela melancolia que eu vinha sentindo, tomei a decisão de voltar ao trabalho. Foi assim que, com 28 dias, Felipe passou a ir para o escritório comigo. Providenciamos um trocador no banheiro e um berço portátil ao lado da minha mesa de trabalho e uma pessoa para cuidar dele.
Daquela forma, eu pude continuar amamentando, ficar perto do meu filho e trabalhar. Tudo ao mesmo tempo. Eu tinha certeza de que era a Mulher-Maravilha e daria conta de tudo. E por um certo tempo eu dei mesmo, mas a conta chegou. Antes do Felipe completar dois anos, eu estava surtando.

Hoje eu fico pensando em como seria se o Alexandre tivesse uma licença-paternidade de três meses para dividir os cuidados comigo, levando às consultas pediátricas, colocando o Felipe para arrotar de madrugada depois que eu amamentasse. Como seria para todas as mães se os pais de seus filhos tivessem esse tempo para ficar em casa, cuidando dos seus bebês? Eles teriam a chance de desempenhar melhor o papel de pai, de estabelecer uma conexão mais forte com o bebê. Entenderiam melhor as questões maternas, o cansaço. Teriam uma melhor relação com a criança e com a esposa.

Existem estudos que mostram que o aumento da presença do pai na família melhora a relação com a criança e do próprio casal. Isso reduz a quantidade de separações, os casos de depressão pós-parto e até a violência doméstica. A presença do pai faz toda a diferença na amamentação.
Uma pesquisa feita no Vale do Jequitinhonha mostrou que em famílias em que os pais moravam separados, o risco de a amamentação ser interrompida aumentava em 160%, comparado a lares com pais presentes. Isso ocorre devido à falta de apoio que a ausência paterna pode ocasionar para a mãe. Há também pesquisas que mostram que a relação com o pai gera ganhos a longo prazo no desenvolvimento emocional e cognitivo das crianças.

E não é só isso, o aumento da licença paternidade mudaria as relações de trabalho possibilitando caminharmos para a equidade entre homens e mulheres, uma vez que os homens também deixariam de trabalhar por um período longo após o nascimento de um filho. Atualmente nós mulheres estamos em desvantagem quando buscamos um emprego e sabemos que essa discriminação tem muita relação com a gravidez e a licença maternidade.

Mais equidade em casa, mais equidade no trabalho. Menos sobrecarga para as mulheres com dupla jornada e com o trabalho doméstico, hoje invisibilizado, sendo executado pelo casal de forma igualitária. Não faltam motivos para fazermos nossa parte e buscar mudar a lei, aumentando o tempo da licença-paternidade. Pai e mãe devem ter a mesma importância na criação dos filhos. Este é um caminho importante para que tenhamos uma sociedade menos maternalista, na qual todo o trabalho de cuidado é responsabilidade da mulher.

Filhos não são a interrupção do trabalho importante, filhos são o trabalho importante. E por isso surgiu a Coalizão Licença Paternidade (CoPai), que se trata de uma união de pessoas, empresas, coletivos e instituições que defendem a regulamentação da licença-paternidade estendida, remunerada e obrigatória no Brasil. Veja como apoiar em https://bio.site/coalizao

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