Em um relato emocionante, a jornalista Daiana Garbin detalhou como a família enfrentou o diagnóstico de câncer da filha. Junto com o marido, Tiago Leifert, ela enfrentou a jornada para vencer um tumor raro e em grau muito avançado, chamado retinoblastoma, que nasceu nos olhos da pequena Lua, então com 11 meses. Em um desabafo, ela falou sobre culpa, medo e conscientização de outras famílias. O texto foi publicado no portal UOL nessa quinta-feira (2/5).
Daiana conta que notou uma mancha branca dentro do olho da menina em setembro de 2021, mas que Tiago já havia notado algo errado. “Mas eu negava. Chegamos a levar à pediatra, que afirmou que estava tudo bem. Naquele dia, no entanto, com aquele raio de Sol, me dei conta de que meu marido estava certo e fiquei desesperada”, relatou.
Daiana conta que a família levou a filha para diversos médicos, até descobrir que a filha tinha dois tumores – um em cada olho – em grau avançado, mas que ela seguida em negação, não querendo acreditar no que ouvia. “Só me dei conta do que estava acontecendo de fato quando li, na porta do quarto consultório que visitamos, pediatria oncológica. Só não desmaiei nesse momento porque a Lua estava em meu colo. Mesmo assim, tenho certeza de que Deus me protegeu de entender tudo para que eu tivesse força de tocar o tratamento”, contou.
Pela primeira vez, a mãe de Lua contou que a filha tinha tumores de grau E, o último e mais avançado, antes de chegar à metástase, quando o câncer “se espalha” pelo corpo. A família manteve a informação em sigilo para preservar a pequena, que passou por várias sessões de quimioterapia que aconteciam com anestesia geral e lançavam o medicamento diretamente no globo ocular. Todo o tratamento foi oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
“Tiago só me contou os riscos do tratamento, informado pelos médicos, há poucos meses. Achei melhor não saber, porque não ia aguentar. Não fui ao Google e confiei no que me disseram”, afirmou. Daiana detalhou que ela e Tiago choravam juntos, mas que ele a ajudou a enfrentar o momento. Também foi ele que mostrou à esposa que era importante que os dois conscientizassem outras famílias sobre o assunto.
Em janeiro de 2022, os dois foram a público contar sobre o câncer da filha, quando ela ainda estava em tratamento. “Há coisas que acontecem em sua vida que não são esperadas, mas transformam a vida para sempre. Tinha dois caminhos: afundar no sofrimento ou arrumar um jeito de enxergar a vida de outra forma, o que acabamos fazendo depois, ao criar a ONG De Olho nos Olhinhos”, ressaltou.
Diana ainda aponta que falar sobre os riscos da retinoblastoma e fazer com que mais crianças tenham o diagnósticos precoce foi a forma que ela encontrou para curar a dor. ”Deus mandou, por meio de nossa filha, uma missão para salvar outras crianças”, acredita.
Mesmo assim, havia o medo de perder a filha. “Diante de tudo que vivi, a pior dor que uma mulher pode sentir é o medo de perder um filho. Você quer acreditar que é mentira e que vai acordar de um pesadelo. Quando uma criança adoece de câncer, a família toda adoece. Minha mãe veio do Sul e a família do Tiago deu todo o apoio aqui. Se souber de uma criança com tumor, pergunte como estão o pai e a mãe, que eles precisam muito de apoio”, aconselhou.
Agora, livre das quimioterapias e com o câncer calcificado, Lua enfrenta uma vida normal, como a de outras crianças. Vai à escola, brinca e faz birras. Mas ainda faz exames periódicos, já que existe risco de a doença voltar até a criança completar os 5 anos de idade. “Ela ficou isolada tanto tempo por fazer químio, que cada momento é uma vitória: o cinema pela primeira vez, a primeira festinha de aniversário de criança, o momento em que viu o Papai Noel... Para qualquer mãe isso é trivial, mas eu agradeci a Deus até quando ela se jogou no chão fazendo birra, por que eu poderia não ter vivido isso”, refletiu.
Para Daiana, cuidar de sua saúde mental foi extremamente importante para aguentar o período. “Quando estava aprendendo a ser mãe, recebi o diagnóstico. Já estava vulnerável por uma gestação e pós-parto na pandemia. Mas consigo acolher minha imperfeição e me sinto feliz não porque parei de sofrer, mas porque aprendi a aceitar e acolher o que não tenho controle. A impermanência da vida é o não saber e isso me trouxe paz. Ser feliz é aceitar que na vida tem infelicidade, angústia, medo e dor. Se eu fosse dar um conselho para mim mesma, lá atrás, diria ‘não se culpe por não ter visto antes’”, contou.
Sobre o retinoblastoma
O retinoblastoma é considerado um tipo raro de câncer ocular, sendo o tumor do tipo mais comum em crianças, cerca de 3% dos cânceres infantis, com uma média de 400 casos por ano. O tumor pode ser unilateral, quando afeta um olho; bilateral, quando afeta os dois; ou trilateral, quando uma criança com tumor hereditário nos dois olhos também apresenta tumor associado nas células nervosas primitivas do cérebro.
Segundo o Ministério da Saúde, é importante observar os sinais, como uma área branca e opaca na pupila. A alteração na posição dos olhos é um outro alerta, como o estrabismo ou tremor nos olhos. Em todos os casos a criança deve ser levada ao oftalmologista para um exame completo.