Pesquisa mostra que pessoas podem mudar de opinião sobre teorias da conspiração -  (crédito: Getty Images)

Pesquisa mostra que pessoas podem mudar de opinião sobre teorias da conspiração

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Muita gente acredita em pelo menos uma teoria da conspiração. E isso não é necessariamente algo ruim — conspirações acontecem.

Para citar apenas um exemplo, a CIA, a agência de inteligência americana, realmente se envolveu em experimentos ilegais na década de 1950 para identificar drogas e procedimentos que pudessem resultar em confissões de espiões capturados.

No entanto, muitas teorias da conspiração não são respaldadas por evidências, mas ainda assim atraem seguidores.

Por exemplo, em um estudo anterior, descobrimos que cerca de 7% dos neozelandeses e australianos concordavam com a teoria de que rastros visíveis atrás de aeronaves são "chemtrails" ("rastros químicos") de produtos químicos pulverizadas como parte de um programa secreto do governo. Isso apesar de a hipótese ter sido amplamente rejeitada pela comunidade científica.

 

 

O fato de as teorias da conspiração atraírem seguidores apesar da falta de evidências confiáveis continua sendo um enigma para pesquisadores da área de psicologia e de outros departamentos.

De fato, houve uma grande quantidade de pesquisas sobre teorias da conspiração publicadas nos últimos anos. Agora sabemos mais sobre quantas pessoas acreditam nelas, assim como sobre os fatores psicológicos e políticos que se correlacionam com essa crença.

No entanto, sabemos muito menos sobre a frequência com que as pessoas mudam de opinião. Será que elas fazem isso? Ou se mantêm firmes em suas crenças, independentemente das evidências apresentadas?

Do 11 de setembro à covid-19

Nós nos propusemos a responder esta pergunta usando uma pesquisa longitudinal. Recrutamos 498 australianos e neozelandeses usando o site Prolific, que convoca pessoas para participar de pesquisas pagas.

Todos os meses. de março a setembro de 2021, apresentamos à nossa amostra um questionário, incluindo dez teorias da conspiração, e perguntamos o quanto eles concordavam com cada uma delas.

Todas as teorias estavam relacionadas a alegações sobre eventos que estavam em andamento ou ocorreram neste milênio: os ataques de 11 de setembro, o lançamento da tecnologia de telecomunicações 5G e a pandemia de covid-19, entre outros.

Embora houvesse definitivamente pessoas que acreditavam nas teorias em nossa amostra, a maioria dos participantes discordou de cada uma delas.

A teoria da conspiração mais popular foi a de que "as empresas farmacêuticas (‘Big Pharma’) escondem a cura do câncer para proteger seus lucros". Cerca de 18% do grupo amostral concordou quando foi inicialmente questionado.

A menos popular foi a teoria de que "as vacinas contra covid-19 contêm microchips para monitorar e controlar as pessoas". Apenas 2% concordaram.

Crença em teorias da conspiração não está aumentando

Apesar das preocupações contemporâneas sobre uma "pandemia de desinformação" ou "infodemia", não encontramos nenhuma evidência de que as crenças em teorias da conspiração tenham aumentado, em média, ao longo do tempo.

Isso aconteceu apesar de nossa coleta de dados ter ocorrido durante o tumultuado segundo ano da pandemia da covid-19. Ainda estavam sendo impostos lockdowns de vez em quando tanto na Austrália quanto na Nova Zelândia, e o sentimento antigoverno estava em alta.

Embora tenhamos acompanhado os participantes por apenas seis meses, outros estudos realizados ao longo de períodos bem mais longos também encontraram poucas evidências de que as crenças em teorias da conspiração estejam aumentando.

Ilustração de várias pessoas conversando por meio de balões de fala
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Por fim, verificamos que as crenças (ou descrenças) em teorias da conspiração eram estáveis — mas não completamente fixas. Em relação a uma determinada teoria, a grande maioria dos participantes era "consistentemente cética", não concordando com a teoria em nenhum momento.

Havia também alguns participantes que "acreditavam consistentemente", concordando com todos os pontos da pesquisa aos quais responderam. Para a maioria das teorias, este foi o segundo maior grupo.

No entanto, para cada teoria da conspiração, havia também uma pequena proporção de convertidos. Eles discordavam da teoria no início do estudo, mas concordavam com ela no final. Além de uma pequena proporção de "apóstatas", que concordavam com a teoria no início, mas discordavam no final.

Mas os percentuais de convertidos e apóstatas tenderam a contrabalançar bem um ao outro, deixando a porcentagem daqueles que acreditavam relativamente estável ao longo do tempo.

Dentro da 'toca do coelho'

Esta relativa estabilidade é interessante, uma vez que uma crítica às teorias da conspiração é que elas podem não ser "refutáveis": o que parece ser uma evidência contra uma teoria da conspiração pode ser simplesmente descartado por quem acredita nela, como parte de uma tentativa de acobertamento.

No entanto, é evidente que as pessoas às vezes decidem rejeitar teorias da conspiração nas quais acreditavam anteriormente.

Nossas descobertas questionam a noção popular da "toca do coelho", segundo a qual as pessoas desenvolvem rapidamente crenças em uma sucessão de teorias da conspiração, da mesma forma que Alice cai no mundo de fantasia do País das Maravilhas, no clássico de Lewis Carroll.

Embora seja possível que isso aconteça com um pequeno número de pessoas, nossos resultados sugerem que essa não é uma experiência típica.

Para a maioria, a jornada rumo à crença em teorias da conspiração pode envolver um declive mais gradual — mais semelhante a uma toca de coelho real, da qual também é possível sair.

*Matt Williams é professor de psicologia na Universidade Massey, na Nova Zelândia.

John Kerr é pesquisador na Universidade de Otago, também na Nova Zelândia.

Mathew Marques é professor de psicologia social na Universidade La Trobe, na Austrália.

Mathew Ling (Neami National), Stephen Hill (Universidade Massey) e Edward Clarke (Philipps-Universität Marburg) contribuíram para a pesquisa mencionada neste artigo.

Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado aqui sob uma licença Creative Commons. Leia aqui a versão original (em inglês).