Tragédia no Rio Grande do Sul tem origens em combinações de fatores naturais -  (crédito: Handout / Rio Grande do Sul State Culture Secretary (SEDAC) / AFP)

Tragédia no Rio Grande do Sul tem origens em combinações de fatores naturais

crédito: Handout / Rio Grande do Sul State Culture Secretary (SEDAC) / AFP

O Projeto HAARP, Programa de Pesquisa Auroral Ativa de Alta Frequência, tem sido erroneamente associado às enchentes no Rio Grande do Sul. O centro de pesquisa americano, localizado no Alaska, estuda a ionosfera, camada da atmosfera que exerce influência na propagação das ondas de rádio para lugares longes da Terra. No entanto, diversos perfis nas redes sociais compartilham informações sem comprovação científica afirmando que o desastre climático está sendo causado pelos cientistas do programa. 

 

 

Financiado pela Força Aérea e Marinha dos Estados Unidos, o principal objetivo do Projeto HAARP é saber mais sobre a ionosfera e melhorar a comunicação via rádio. Não há nenhuma evidência, muito menos base científica sólida para a alegação da criação de eventos climáticos extremos.

 

 

 

 

As antenas no centro de pesquisa não são uma forma de criar nuvens diretamente na ionosfera, mas sim um transmissor de alta potência e alta frequência para estudos. O instrumento pode ser usado para excitar temporariamente uma área limitada da ionosfera para posterior estudo científico dos processos físicos desencadeados.

 

 

Antes da tragédia em território gaúcho, o HAARP já tinha sido associado a secas, inundações, nevascas e furacões em outras partes do mundo. No entanto, cientistas e especialistas já desmentiram essas ideias, explicando que eventos climáticos extremos são fenômenos naturais complexos, resultado de uma interação entre diversos fatores atmosféricos e oceânicos.

 


Auroras artificiais

 


O último registro confirmado pelo projeto são as “auroras artificiais”. Por meio da tecnologia de alta frequência, cientistas conseguiram modular a ionosfera, gerando uma espécie de dança das cores no céu, se aproximando, visualmente, às auroras boreais, que são um fenômeno natural.

 

 

Para criar as auroras artificiais, o HAARP produz brilho aéreo excitando elétrons na ionosfera da Terra, semelhante à forma como a energia solar cria a aurora natural. Nesse momento, criam-se pulsos liga-desliga de transmissões de rádio de alta frequência.


Causas para a tragédia


Mas o que explica o desastre que vitimou 90 pessoas no Rio Grande do Sul? Segundo o professor Pedro Luiz Côrtes, do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo, houve uma junção de três fatores. As frentes frias, a umidade oceânica e uma barreira de alta pressão.

 

 

Ele descartou, ainda, ligação com o El Niño, que é outro fenômeno natural. “Nós temos uma forte zona de alta pressão na região central do Brasil que impede que as frentes frias prossigam em direção ao norte”, apontou. Com isso, a umidade que vem do Oceano Atlântico se desviou. “Uma parte entrando pelo leste do Rio Grande do Sul e outra dando uma volta pela Amazônia e descendo pelo interior do País, chegando pelo oeste”, explicou.

 

 

Na prática, o Estado sofreu com uma frente fria vinda do sul e ondas de umidade vindas do leste e oeste. Além disso, ao norte, há uma barreira que fez com que o alto volume de chuvas condensasse na região.

 

 

Algo parecido foi explicado pelo meteorologista e coordenador-geral de Operação e Modelagem do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), Marcelo Seluchi, em entrevista à TV Brasil. Segundo ele, a onda de calor localizada na região central do Brasil com alta pressão atmosférica leva à formação de ar seco e quente, que acaba por bloquear a passagem das frentes frias para o norte do país.

 

 

"Essas frentes frias vêm da Argentina, chegam rapidamente na Região Sul e não conseguem avançar. Temos uma sucessão de frentes [frias] que se tornaram estacionárias e estão mantendo as chuvas durante vários dias", explicou.

 

 

No entanto, ele não descartou que as chuvas sejam reflexo do El Niño, que está na etapa final. O metereologista apontou, ainda, influências das mudanças climáticas, já que, como a atmosfera e os oceanos estão mais quentes, produz vapor adicional para formação das chuvas.