Sou um crítico contumaz do futebol brasileiro. Vivi a grande época, com dois craques por posição, várias equipes fortes, com muitos jogadores oriundos das divisões de bases e grandes treinadores, dirigentes sérios e responsáveis, torcedores apenas do bem. De 1990 para cá a coisa começou a degringolar e hoje estamos na lama. Porém, eu mesmo me pergunto: Jaeci, só apontar os problemas é fácil, será que você indicaria as soluções? Então vamos enumerar o que eu faria para tornar o nosso futebol vencedor, os técnicos competentes e os jogadores mais talentosos.
1 – Em relação a violência nos estádios e imediações, com as “gangues organizadas”: acabar com as torcidas organizadas de norte a sul do país. Quando elas surgiram, faziam coreografias interessantes e apoiavam os times de forma civilizada. Bandidos se infiltraram, as guerras começaram, clubes pagam alugueis de salas, celulares e caravanas para acompanharem os jogos. Não há mais espaço para essas gangues. É preciso que as autoridades deem um ponto final ao extinguir tais facções. O torcedor de bem vai agradecer.
2 – Em relação as divisões de base: os dirigentes devem por profissionais competentes e de qualidade. No passado, quem trabalhava na base era bem remunerado, pois dali saiam os craques. Hoje os dirigentes põem seus amigos, mesmo que de bola nada entendam, e esses, segundo denúncias, orientam aos técnicos só aceitarem garotos altos, mesmo que não tenham técnica ou jeito para o futebol. Não se treina os fundamentos básicos e os garotos chegam aos profissionais sem saber dominar uma bola. Temos visto jogadores “prontos” dominando bola na canela. É preciso por nas divisões de base, profissionais do mais alto nível, técnicos, até consagrados, que terão muito a ensinar, pagando-os bem, para que eles escolham os melhores, inclusive os baixinhos. O que seria de Pelé, Maradona, Zico, Reinaldo, Romário, entre outros baixinhos, se fossem para as divisões de base hoje? Seriam dispensados pelos “inteligentes treinadores”.
3 – No quesito dirigentes, que os clubes se transformem em SAFs, contratem CEOs qualificados para serem remunerados e montarem uma estrutura altamente profissional. Esse negócio de dirigente trabalhar de “graça” é para inglês ver. Ninguém dedica seu tempo a um clube só pelo amor e paixão. Balela. Se não tem vantagem financeira, tem a vaidade de aparecer e se tornar conhecido. Tem muito mais bônus do que ônus. Eles administram de forma amadora, irresponsável, contratando sem dinheiro, e pagando salários de Europa. Com as SAFs, os donos sabem onde o calo aperta e vão administrar com mão de ferro. Com um detalhe: é preciso que o futebol brasileiro crie um fair-play financeiro. Os clubes deveriam provar ter dinheiro para manter a equipe com salários em dia, cumprindo todas as obrigações, principalmente nas contratações, pagando suas compras.
4 – No quesito treinadores: os técnicos brasileiros são fracos e ultrapassados, alguns, preguiçosos. Não se atualizam na Europa, onde estão os melhores treinadores, haja vista que no último Brasileirão tivemos 11 técnicos estrangeiros e nove brasileiros. Ainda há alguns poucos competentes: Dorival Júnior, Fernando Diniz, Renato Gaúcho, Jair Ventura. É preciso importar cada vez mais técnicos europeus, ou então exigir dos brasileiros mais capacitação e qualidade. É tudo do mesmo, sem esquema de jogo, sem variações táticas durante uma partida, sem mexer as peças. Os técnicos brasileiros estão anos-luz atrasados.
5 – Em relação a imprensa: é preciso que tenhamos profissionais formados, qualificados e reconhecidos. Hoje temos muitos torcedores com microfones, ditando regras para milhões de seguidores, tão analfabetos quanto eles. A imprensa séria é aquela que elogia e critica no mesmo tom, não esses torcedores “passadores de pano”, alguns até bancados pelos clubes. Pela exigência do diploma e pela qualificação dos profissionais.
Meus amigos e minhas amigas, estão aí cinco sugestões que podem tornar nosso futebol qualificado, como nos velhos e bons tempos. Resta saber se as autoridades, os dirigentes e os donos dos clubes têm interesse em mudar o atual quadro do nosso futebol, agonizando e na lama, a espera da definitiva pá de cal.