Nem todos têm a sorte de crescer sob os cuidados de pais ou tutores amorosos. Muitos adultos passam a vida carregando o peso de mágoas e ressentimentos, seja pela ausência de carinho, de compreensão, ou até pelas necessidades básicas que não foram plenamente atendidas. Essas pessoas, muitas vezes, se vitimizam, acreditando que seus desafios e dificuldades de hoje são frutos diretos das experiências vividas na infância. Contudo, a verdade inegável é que todos nós estamos aqui porque, de alguma forma, nos foi dada a oportunidade de viver. Desde o momento da concepção, desejada ou não, a vida encontrou uma maneira de se manifestar e prosperar, permitindo que estivéssemos presentes neste mundo.

 

 

Essa reflexão nos leva a um ponto central: por que não valorizar o simples fato de estar vivo? A vida, em sua essência, é um presente. Cada respiração que tomamos carrega consigo o sopro divino, um lembrete de que enquanto estivermos aqui, ainda há algo a ser feito. E, acima de tudo, ainda há esperança. 

 

No entanto, é comum que muitos fiquem presos ao ciclo da vitimização, um padrão de pensamento que, em vez de facilitar a superação, os imobiliza. Este caminho, embora familiar para muitos, não é o mais fácil. Ficar preso em ressentimentos e queixas não nos leva a lugar algum.

 

 

Superar esse padrão é um desafio, mas é necessário para que possamos "adultar", ou seja, assumir plenamente nossa responsabilidade por nossas escolhas e nosso futuro. Ao rompermos com a vitimização, temos a oportunidade de construir novas histórias e escolher relações saudáveis. Isso inclui, muitas vezes, a escolha de formar nossa própria família. E é aqui que uma nova e poderosa força surge: a força que vem dos filhos.

 

Há algo profundamente transformador na experiência de ser pai ou mãe. Para muitos, essa relação traz um amor que nunca haviam experimentado antes, um amor que transcende qualquer outra forma de afeição. A ciência confirma essa sensação de renovação e força. Estudos sobre a parentalidade mostram que a criação dos filhos pode ser uma fonte de resiliência emocional e fortalecimento psicológico. Um estudo publicado no Journal of Family Psychology revelou que a presença dos filhos pode aumentar o senso de propósito e bem-estar dos pais, proporcionando uma motivação renovada para enfrentar os desafios da vida com mais coragem e determinação.

 



 

É como se os filhos reconfigurassem a maneira como enxergamos o mundo. A pesquisadora Brené Brown também explora essa dinâmica em seus estudos sobre vulnerabilidade e conexão humana. Ela aponta que a paternidade e a maternidade nos convidam a nos conectar com nossa vulnerabilidade, ao mesmo tempo em que nos dão a oportunidade de cultivar um amor incondicional. É através dessa conexão que muitos pais encontram força e uma nova perspectiva sobre suas vidas.

 

Quantas vezes não ouvimos histórias de pais que, movidos pelo amor aos filhos, superam desafios imensos, muitas vezes parecendo mover céus e montanhas para garantir o bem-estar daqueles que amam? A força que nasce dessa relação é incontestável. Os filhos trazem consigo uma energia que desperta em nós capacidades que muitas vezes desconhecíamos. Eles são uma fonte inesgotável de motivação para seguir adiante, para melhorar, para nos tornarmos versões mais fortes e resilientes de nós mesmos.

 

Ao mesmo tempo, os filhos também nos ensinam sobre responsabilidade e nos chamam para a vida presente. Eles nos forçam a sair do papel de vítimas e a assumir o papel de cuidadores, de protetores. Esse processo de "crescimento forçado", por assim dizer, é uma das razões pelas quais tantos pais encontram forças que nunca imaginaram ter. É como se os filhos nos entregassem as ferramentas para que possamos finalmente curar as feridas do passado e construir algo novo, algo melhor.

 

Essa experiência, no entanto, não deve ser vista apenas como uma fonte de força para os pais. A relação com os filhos pode ser também uma oportunidade de reconciliação interna. Quando nos permitimos amar e ser amados por nossos filhos, muitas vezes conseguimos perdoar os erros e falhas dos nossos próprios pais. Percebemos que, assim como nós, eles também tiveram seus desafios, suas limitações e suas próprias histórias de vida. Nesse processo de perdão e reconciliação, encontramos uma paz que nos liberta e nos permite seguir adiante com mais leveza.

 

Como bem disse Viktor Frankl, renomado psiquiatra e sobrevivente do Holocausto: "Quando não podemos mais mudar uma situação, somos desafiados a mudar a nós mesmos." A força que vem dos filhos é um lembrete poderoso dessa verdade. Eles nos oferecem a oportunidade de crescer, de nos transformarmos, de nos tornarmos melhores não apenas por nós mesmos, mas também por eles.

 

A vida pode não ter sido perfeita, mas é nas escolhas que fazemos a partir de agora que reside nosso verdadeiro poder. E, quando decidimos romper com a vitimização e abraçar a responsabilidade, encontramos, nos filhos, uma das maiores fontes de força e renovação que podemos imaginar.

 

E você, caro leitor, já parou para refletir sobre como as relações que você constrói hoje podem ser uma fonte de força? Como seus filhos, ou as pessoas que você ama, podem ajudá-lo a superar as dores do passado e construir um futuro mais saudável?

 

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