Todos nós, em algum momento da vida, experienciamos a dor, seja ela física, emocional ou psicológica. Como terapeuta sistêmica, entendo a dor como uma parte intrínseca da experiência humana. Ela é um sinal de que algo em nosso sistema interno ou externo está em desequilíbrio.

 

 


Esse é um processo natural, quase inevitável. No entanto, a maneira como nos relacionamos com essa dor pode fazer uma diferença significativa na nossa trajetória. O sofrimento não precisa se tornar uma definição do nosso ser; ele pode ser visto como um fenômeno passageiro, algo que ocorre, mas que não somos nós. Como disse Viktor Frankl, psiquiatra e sobrevivente do Holocausto, "entre o estímulo e a resposta, há um espaço.

 


Nesse espaço está o nosso poder de escolher a resposta. Nessa resposta está o nosso crescimento e a nossa liberdade." Frankl nos lembra que, apesar de sentirmos dor, temos a liberdade de escolher como lidar com ela.


Para muitos, esse conceito pode soar distante ou quase inalcançável, especialmente quando a dor está intensa. Porém, é nesse exercício de separação entre quem sentimos ser, e o que estamos sentindo, que reside o nosso poder. Quando dizemos "Eu sinto dor", estamos reconhecendo a dor como algo que experienciamos, não como algo que somos.

 




Eu sou o ser que pensa, não o próprio pensamento. Eu sou o ser que sente, não o próprio sentimento. Essa separação nos fortalece e nos permite manter uma visão clara sobre quem realmente somos, mesmo diante do sofrimento.


A dor, então, pode se tornar um caminho de autoconhecimento, expandindo nossas capacidades internas e nos lapidando. Ela revela nossas vulnerabilidades, mas também nossas forças. Ao nos aproximarmos dela sem medo de nos perdermos, encontramos partes de nós que talvez estivessem esquecidas ou desconhecidas. Essa expansão, no entanto, requer coragem para observar a dor com honestidade e abertura, sem permitir que ela se torne um fardo que consuma nossa essência.


É importante ressaltar que o processo de superação da dor não precisa ser necessariamente solitário. Em alguns casos, o apoio de familiares, amigos e profissionais pode fazer toda a diferença nesse momento.


Dessa forma, quando escolhemos ver a dor como um processo de crescimento, ela nos oferece a oportunidade de aprender e evoluir. Isso não significa que vamos ignorar o sofrimento ou fingir que ele não existe. Ao contrário, reconhecemos sua presença e, com compaixão, acolhemos a experiência. Mas, ao mesmo tempo, mantemos a consciência de que ela não nos define. Tal postura é um convite a nos tornarmos resilientes, pessoas que se fortalecem nas dificuldades.


Ao desenvolver essa habilidade de perceber a dor sem se identificar com ela, abrimos espaço para um novo tipo de transformação. A dor deixa de ser apenas um obstáculo ou um tormento, e passa a ser uma ferramenta de aprimoramento pessoal. Ela nos ensina a ser mais empáticos, a ter mais paciência, a buscar soluções para nós mesmos e para os outros, a nos tornar seres humanos mais completos e conectados. Afinal, como propõe Carl Jung, "não há despertar da consciência sem dor." Esse despertar é um processo de lapidação que retira as camadas de ilusão, permitindo que nossa verdadeira essência brilhe.


Posso me permitir sentir dor, ficar triste e me frustrar — e está tudo bem. Isso não significa que, por ter tido um desentendimento no trabalho, eu precise carregar essa tristeza comigo para onde quer que eu vá. Posso, por exemplo, sair de um dia difícil e, logo em seguida, encontrar minhas amigas e estar feliz com elas. Quando abro espaço para sentir a dor, também me permito expandir para outras emoções, inclusive a alegria.


À medida que vou me exercitando nesse processo, percebo, inclusive, minha própria força. Não preciso mais ter medo de sentir. Eu sou forte. Portanto, ao invés de permitir que a dor nos destrua, podemos aceitá-la como uma aliada no nosso caminho da transformação. Ela se torna, então, um guia, um sinalizador de que algo em nossa vida precisa ser transformado nos levando a um estado de consciência mais elevado, onde a dor é sentida, mas não internalizada como parte do que somos.


Ela nos impulsiona a buscar autocompaixão, paciência e compreensão, tanto para nós quanto para os outros. Assim, experimentamos um novo nível de liberdade, onde sentimos e pensamos, mas não somos reféns de nossos sentimentos ou pensamentos.


E você, caro leitor, reflita como tem lidado com as dores de sua vida e reinvente-se a partir delas.

 

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