Imagine alguém competente, talentoso, admirado por suas realizações, mas que vive com a constante sensação de que, a qualquer momento, será desmascarado como uma fraude. Esse é o padrão principal da síndrome do impostor, um fenômeno psicológico descrito pela primeira vez pelas psicólogas Pauline Clance e Suzanne Imes em 1978. Em suas pesquisas, elas observaram que, apesar de conquistas objetivas, muitas pessoas — em especial mulheres altamente capacitadas — atribuíram seu sucesso à sorte ou a fatores externos, duvidando de suas habilidades.

 

 


A síndrome do impostor não é uma doença, mas uma experiência comum caracterizada por autocrítica severa, medo de fracasso e dificuldade em reconhecer conquistas. Estudos estimam que cerca de 70% das pessoas já experimentaram essa síndrome em algum momento de suas vidas, independentemente de gênero, idade ou área profissional. É importante entender que esse sentimento não reflete a realidade, mas sim um padrão mental distorcido que impede a percepção clara das próprias capacidades.

 

 


Imagine um profissional altamente qualificado que acaba de ser promovido. Apesar de ter trabalhado arduamente para alcançar essa posição, ele sente uma intensa angústia, acreditando que não merece a promoção e que será descoberto como uma farsa a qualquer momento.


Outro exemplo comum é o estudante que obtém notas excelentes, mas atribui seu sucesso à sorte ou à facilidade da matéria, subestimando os próprios esforços e capacidades.

 




No meu consultório, frequentemente observo esse sentimento em pessoas em transição de carreira. É comum que esses profissionais, ao enfrentarem negativas em processos seletivos, mergulhem em um turbilhão de dúvidas sobre suas habilidades, questionem suas competências e se sintam inadequados, reforçando a sensação de serem uma fraude e abalando sua autoestima e confiança.


A síndrome do impostor parece encontrar terreno fértil em momentos de mudança, em que o desconhecido exige adaptação e coragem. Um bom exemplo é o da ex-primeira-dama dos Estados Unidos, Michelle Obama, que em sua autobiografia “Minha história” revelou ter lutado contra a síndrome, especialmente durante os anos na Universidade de Princeton e na Faculdade de Direito de Harvard. Ela questionava se era "boa o suficiente" para estar onde estava, mesmo diante de suas evidentes conquistas acadêmicas e profissionais.


Hoje, as redes sociais se tornaram um terreno fértil para amplificar a síndrome do impostor, intensificando sentimentos de inadequação e dúvida. Essa construção irreal leva muitos a acreditar que estão aquém dos outros, gerando uma pressão para atender padrões inalcançáveis.


A síndrome do impostor pode ser reconhecida por padrões de pensamento como:

• Atribuir o sucesso à sorte ou à ajuda de terceiros.

• Medo constante de ser "exposto".

• Comparação excessiva com outras pessoas.

• Perfeccionismo paralisante.

• Relutância em aceitar elogios ou reconhecimento.

• Reconheça o sentimento: saber que você não está sozinho pode ser reconfortante

• Reavalie suas conquistas: liste suas realizações e os esforços que as sustentaram. Ver o progresso no papel ajuda a combater a autocrítica.

• Busque apoio: conversar com um terapeuta ou mentor pode ser transformador

• Aceite a imperfeição: permita-se errar e aprender com os erros.

• Reenquadre o feedback: aprenda a aceitar elogios e veja as críticas como oportunidades de crescimento, não como um reflexo do seu valor pessoal.

• Reduza o impacto das redes sociais: lembre-se de que o que você vê online não é a história completa

• Pratique autocompaixão: lembre-se de que você é um ser humano em constante evolução, como todos os outros.


A síndrome do impostor nos convida a pensar sobre a relação entre autovalorização e os padrões que buscamos atender. Como disse Carl Jung: "Não somos o que aconteceu conosco. Somos o que escolhemos nos tornar". Que tal começar hoje a reconhecer suas habilidades e construir uma narrativa mais positiva sobre si mesmo?

 

 

 

compartilhe