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ALESSANDRA ARAGÃO
Alessandra Aragão
Comunicadora, trabalha com desenvolvimento humano, atuando em terapia sistêmica, mentoria positiva e coaching de vida e carreira
RE(INVENTE-SE)

O valor da autonomia

Uma pessoa autônoma é aquela que consegue discernir o que é importante para si, definir prioridades e escolher o próprio caminho

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A gente passa a vida inteira ouvindo que tem que ser independente. Desde criancinha a gente aprende a importância de ser autossuficiente. 'Seja dono do seu nariz', escutamos. Mas a verdade é que ninguém consegue tudo sozinho; rapidinho a vida nos mostra que ninguém é uma ilha. Sempre vamos precisar de alguém ou de alguma coisa. E está tudo bem. 

 

 

No dia a dia do consultório, uma das questões que frequentemente surge é o medo de depender de outra pessoa. Seja em razão de uma limitação física temporária ou permanente, como após uma cirurgia, um AVC ou a perda de um sentido, como a visão ou audição, muitas pessoas entram em pânico diante da ideia de precisar de ajuda. Esse temor revela uma confusão importante entre dois conceitos fundamentais: autonomia e independência. Embora estejam relacionados, compreender suas diferenças é essencial para lidar com situações imprevisíveis e encontrar equilíbrio mesmo em meio às adversidades.

 

 

A independência é frequentemente vista como a capacidade de realizar tarefas sem o apoio de outros. É o que permite a uma pessoa conduzir sua vida de forma autossuficiente, desde cuidar das próprias finanças até realizar atividades cotidianas, como cozinhar ou dirigir. Essa é uma habilidade valiosa, mas não é a única medida de uma vida plena e significativa. Muitas vezes, a sociedade romantiza a independência, tornando-a um padrão inalcançável ou uma exigência que ignora a complexidade da vida humana.

 

Já a autonomia vai além da capacidade de agir por conta própria. Está relacionada à habilidade de tomar decisões conscientes e autênticas, mesmo quando o apoio externo é necessário. Uma pessoa autônoma é aquela que consegue discernir o que é importante para si, definir prioridades e escolher o próprio caminho, ainda que precise contar com a ajuda de outros para executar algumas dessas escolhas. 

 

Ana Claudia Quintana Arantes, no livro "Pra vida toda valer a pena", aborda a distinção de forma sensível e esclarecedora. Para ela, a independência está ligada à capacidade de realizar atividades de forma autônoma, enquanto a autonomia está relacionada ao direito de tomar decisões sobre a própria vida, mesmo quando não é possível executar todas as ações sozinho. Ela destaca que preservar a autonomia é essencial para manter a dignidade e o senso de propósito, mesmo com limitações.

 

Como exemplo, uma pessoa que perdeu a capacidade de enxergar ainda assim pode decidir sobre o que deseja vestir, comer ou aonde ir, exercendo a autonomia. 

 

Quando nos deparamos com situações de dependência, é comum que sentimentos como medo, vergonha ou impotência venham à tona. No entanto, esses sentimentos geralmente não se originam da dependência em si, mas da percepção de que estamos perdendo o controle sobre a própria existência. É aqui que a autonomia ganha protagonismo: mesmo em momentos em que precisamos de ajuda para realizar tarefas básicas, ainda podemos manter nossa capacidade de decidir como queremos viver, quais valores priorizar e como encarar os desafios impostos pela vida.

 

Uma reflexão valiosa para lidar com o pânico diante da dependência é perguntar: “O que realmente me apavora nesta situação?”. Muitas vezes, o que causa sofrimento é a ideia de vulnerabilidade, de não ser suficiente ou de perder o controle sobre sua vida. Ao identificar esses medos, é possível trabalhar para ressignificá-los. Dependência não é sinônimo de falta de valor ou de dignidade. Ela é parte intrínseca da condição humana: todos nós dependemos de outras pessoas em diferentes momentos da vida, seja emocional, física ou socialmente.

 

Cultivar a autonomia, mesmo em contextos de dependência, é um ato de coragem e autocompaixão. Isso envolve reconhecer os próprios limites, comunicar necessidades e desejos de maneira clara e aprender a receber ajuda sem culpa ou vergonha. Pedir e aceitar apoio também é um sinal de força e maturidade emocional.

 

Em vez de temer a dependência, procure compreender o que ela significa em sua vida e como você pode, ainda assim, manter o controle sobre quem você é e o que deseja. 

 

A verdadeira liberdade não está em fazer tudo sozinho, mas em viver de acordo com seus valores, mesmo com as limitações que o destino possa impor.

 

 

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