
Quantas vezes você já pensou: "Mas tem que pedir?"
O mesmo pedido pode ser recebido de formas completamente diferentes, dependendo de como é feito
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E a resposta eu te digo: “Sim, tem que pedir”. Seja na rotina de casa, no ambiente de trabalho ou nas relações cotidianas, essa pergunta surge carregada de frustração. Mães que se ressentem da pouca iniciativa dos filhos nas tarefas domésticas, esposas que se queixam da falta de participação dos parceiros e profissionais que, mesmo sabendo que merecem um aumento, hesitam em solicitá-lo. O que há em comum em todas essas situações? A comunicação.
A comunicação humana vai muito além das palavras. Muitas vezes, sentimos algo, mas temos dificuldade em expressar claramente nossas necessidades. Entre o que queremos, o que conseguimos dizer e como a outra pessoa interpreta nossa mensagem, há um longo caminho que pode gerar desencontros e desentendimentos. Cada um percebe a realidade com base em suas crenças, experiências e valores, o que torna a comunicação um delicado equilíbrio entre intenção e percepção.
É provável que você se veja em alguns casos que presencio no consultório, como exemplos: uma mãe que, exausta após um dia de trabalho, entra na cozinha e encontra a pia cheia de louça. Irritada, ela dispara para o filho: "Será possível que você não pode lavar as vasilhas? Não vê que sou só uma?". O filho, surpreso, responde: "Ué, mãe, mas você não pediu!". O que ela realmente queria? Que ele percebesse sua sobrecarga e tomasse a iniciativa. Mas para o filho, a ausência de um pedido explícito significa que a tarefa não precisava ser feita. Para ele, não se trata de má vontade, apenas de uma diferença na forma de enxergar as responsabilidades.
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O mesmo acontece em muitos relacionamentos. Uma mulher passa o dia organizando a casa, cuidando dos filhos, resolvendo problemas, enquanto o parceiro está no sofá assistindo à TV ou no celular. Em determinado momento, ele olha para ela e pergunta: "Que cara é essa?". Ela responde, ressentida: "Uai, você não vê que estou precisando de ajuda?". Mas será que ele realmente percebeu? Nem sempre a sobrecarga do outro é evidente para quem está de fora. Muitas vezes, acreditamos que nossa necessidade é óbvia, quando na verdade o outro sequer a notou.
No ambiente profissional, a situação se repete. Um funcionário que há anos se dedica à empresa, assume responsabilidades extras e espera um aumento. Mas o tempo passa e nada acontece. Ele se sente injustiçado e desmotivado, sem perceber que seu chefe pode simplesmente não ter notado essa expectativa. Um estudo da B2B Reviews, plataforma que coleta avaliações de empresas nos EUA, revelou que, embora 80% dos entrevistados acreditem merecer um aumento, 58% têm receio de solicitá-lo. Ou seja, a falta de uma comunicação direta pode ser um obstáculo para o reconhecimento que esperamos.
Outro ponto crucial na comunicação é o tom e a abordagem. O mesmo pedido pode ser recebido de formas completamente diferentes, dependendo de como é feito. Imagine que um colega de trabalho está sobrecarregado e precisa de ajuda. Se ele disser: "Você pode me dar uma mão com isso?", a resposta provavelmente será positiva. Mas se ele reclamar: "Eu sempre tenho que fazer tudo sozinho!", a outra pessoa pode se sentir acuada e reagir com resistência em vez de colaboração.
Além de falar de forma clara e direta, é fundamental aprender a escutar. Um pedido pode parecer óbvio para quem fala, mas não para quem ouve. A comunicação é uma ponte que precisa ser construída de ambos os lados. O que para um é evidente, para outro pode ser imperceptível. Quantos conflitos poderiam ser evitados se as pessoas simplesmente expressassem suas necessidades em vez de esperar que os outros as adivinhassem?
Se queremos relações mais saudáveis e menos frustrantes, precisamos desenvolver uma comunicação assertiva. Isso significa expressar sentimentos e necessidades de maneira clara, objetiva e respeitosa, sem esperar que o outro adivinhe o que queremos. Pedir não é fraqueza, é maturidade emocional. Como diz a compositora Ruth Bebermeyer:
"As palavras são janelas ou são paredes. Elas nos condenam ou nos libertam. Então, da próxima vez que algo for importante para você, peça. Com clareza, respeito e objetividade. Afinal, ninguém tem bola de cristal."
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.