Os corredores do Congresso Nacional se transformaram em um ringue na tarde de ontem. De um lado, André Janones (Avante-MG) – medindo 1,80m e pesando 81kg – tentava provar sua inocência perante a Comissão de Ética da Câmara dos Deputados, após ser acusado de praticar rachadinha. Do outro lado, Nikolas Ferreira (PL-MG) – com 1,65m e pesando 70kg – liderava uma verdadeira tropa de choque bolsonarista, pronta para escoltar Janones para fora da casa legislativa de uma vez por todas.

 

Esta não foi a primeira vez que ambos estiveram à beira de uma troca de socos e pontapés. O confronto de ontem, que quase terminou em violência, foi apartado por deputados, assessores e até mesmo pela Polícia Legislativa, sendo apenas mais um episódio em uma série de trocas de farpas e discussões entre os "meninos de ouro" de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL).

 

Os dois parlamentares começaram sua rivalidade muito antes de assumirem seus mandatos na Câmara dos Deputados. O embate maior teve início quando Janones foi escolhido por Lula para liderar a campanha eleitoral digital em 2022, enquanto Nikolas liderava a tropa bolsonarista. Como chefes de seus exércitos online, os dois se enfrentavam diariamente no campo de batalha mais popular desta geração: o Twitter.

 

A rivalidade, até então restrita ao mundo virtual, quase teve seu primeiro enfrentamento real em 2022, durante o debate presidencial da Band, no qual ambos compareceram para acompanhar seus presidenciáveis. Enquanto Janones concedia uma entrevista aos jornalistas, Nikolas apareceu ao seu lado e fez gestos provocativos. O deputado do Avante então o chamou de "mascote da milícia" e "vagabundo". A equipe de organização do evento teve que separar os membros das campanhas com um cordão de segurança.

 

Depois de eleitos, outra discussão acalorada precisou ser contida. Desta vez, em abril do ano passado, os dois discutiram após Janones chamar Nikolas de "chupetinha" na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, durante uma convocação para ouvir o então ministro da Justiça, Flávio Dino. Nikolas recorreu às redes sociais para rebater as críticas e afirmou que a esquerda tem uma "tara" em acusar "héteros de serem gays".

 

A rixa entre os parlamentares mineiros é tão intensa que foi parar na justiça. Em abril do ano passado, Janones foi condenado a pagar uma indenização de R$ 5 mil por danos morais ao colega parlamentar, por tê-lo chamado de "pedófilo" em uma publicação nas redes sociais.

 

Desta vez, ambos escolheram a sessão do Conselho de Ética, que avaliava o processo de cassação contra Janones por suposto envolvimento em um esquema de “rachadinha”, como palco para mais brigas e empurrões. Inclusive, a discussão foi tão intensa que sobrou até mesmo para Rogério Correia (PT-MG) apartar as discussões. Em vídeos, é possível ver o pré-candidato à Prefeitura de BH se contorcendo para conter Janones, que estava pronto para bater em Nikolas.

 



 

 

Se Rogério tentava conter Janones, o pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal (PSD-sp), queria mesmo é ver o circo pegar fogo. Enquanto riam da situação, deputados bolsonaristas, incluindo Nikolas Ferreira, cercaram Janones aos gritos de "rachadinha". O tumulto foi tão grande que Janones desafiou Nikolas a resolver a situação "lá fora". Ambos partiram para cima um do outro e foram separados por seguranças da Câmara.

 

Vídeos divulgados nas redes sociais mostram que a confusão se espalhou pelos corredores, com novos xingamentos e ameaças de agressão. “Só nós dois, moleque golpista. Quebro a sua cara com um soco”, disse Janones. “Bate, rachadinha”, retrucou Nikolas.

 

Fato é que, na discussão entre “chupetinha” e “rachadinha” quem perde é Minas. Os deputados da Comissão de Ética, agora, podem estudar se ambos devem perder seus mandatos ou se põem panos quentes em mais esse episódio.

 

Guerra de olhares fulminantes

 

Enquanto a sessão ganhava forma na Câmara dos Deputados, Nikolas e Janones estavam sentados em fileiras paralelas no plenário e ficaram frente a frente durante os pronunciamentos. Os dois – que não deixavam de se encarar – trocaram farpas e xingamentos fora do horário de fala de cada um.


Nikolas: "Ele é o maior divulgador de mentiras do Brasil. E eu sou uma das maiores vítimas dele. Hoje será mais uma prova de se este Congresso tem coragem de ser verdadeiro. Por muito menos, Daniel Silveira está hoje em Bangu 1, condenado por crime de opinião.”


Janones: “Alguns aqui ainda não aceitaram o voto das urnas em 2022 e tentam fazer disso aqui um palanque. Nós não estamos discutindo Bolsonaro e Lula, estamos discutindo se um parlamentar pode ser julgado nesta Legislatura por um ato atribuído a ele na Legislatura anterior”.

 

Mineiros alinhados com Bolsonaro

 

Enquanto o reajuste dos servidores era votado na ALMG, um grupo começou a chamar atenção pela sua proximidade. Os deputados Bruno Engler (PL-MG), Chiara Biondini (PL-MG) e Caporezzo (PL-MG) parecem estar bem alinhados quando o assunto são as pautas de costumes. Todos bolsonaristas, para além do Parlamento, também são grandes amigos. E mais: devem contar com a chegada de uma nova parceira. Na próxima terça-feira, Amanda Teixeira Dias – filha do deputado e ex-ministro de Bolsonaro, Marcelo Álvaro Antônio – toma posse como deputada estadual.

 

Beijinho na mão

 

A deputada Chiara também parece estar alinhada com Tadeu Leite (MDB), presidente da ALMG. Durante a votação do reajuste, ela foi vista passando atrás da mesa da Presidência e dando um beijo na mão do parlamentar.

 

Onde estava Macaé?


Muita gente achou estranho o sumiço da deputada estadual Macaé Evaristo (PT-MG) durante a votação do reajuste dos servidores na ALMG. O caso foi solucionado. A parlamentar pediu afastamento das atividades para fazer tratamento médico após ser diagnosticada com a Síndrome de Graves. Por meio de nota, ela informou que foi diagnosticada com a doença há dois meses.

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