Ilustração/Estado de Minas -  (crédito: Quinho)

Ilustração/Estado de Minas

crédito: Quinho
Enquanto nos corredores da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), o prefeito Fuad Noman (PSD), que busca a reeleição, desfilava ao lado do seu novo candidato a vice, o vereador Álvaro Damião (União Brasil), do outro lado da cidade, no Plenário da Câmara Municipal, Gabriel Azevedo (MDB), presidente da Casa e pré-candidato à Prefeitura, fazia um discurso ácido sobre a gestão “biônica” do atual chefe do Executivo. Com referências históricas e alusões à ditadura militar, o vereador criticou nas entrelinhas a construção da chapa rival e deixou um recado irônico até mesmo para o presidente do PSD de Minas, Cassio Soares, que, de acordo com o vereador, “só leva bolada por trás”.
 
Gabriel abriu a fala, que durou cerca de 15 minutos, relembrando que na madrugada do dia 2 de abril de 1964, a ditadura militar pôs fim à democracia brasileira. A declaração partiu de uma comemoração pelo fim do regime, passou pela liberdade de imprensa, mas mirou no que o vereador chamou de “prefeitos indicados”. “Foi na ditadura brasileira que prefeitos e vereadores foram indicados. Prefeitos biônicos. Operados por aparelhos, operados por interesses que não eram da nossa cidade.”
 
 
Durante seu discurso, o presidente da Câmara afirmou que os prefeitos ditatoriais, indicados, empurravam as pessoas para a periferia, esqueciam da mobilidade e focavam em interesses próprios. Os defeitos mencionados foram os mesmos que Gabriel utilizou em seus discursos no Plenário para atacar Fuad Noman. Ainda durante o discurso, o emedebista afirmou que BH tem um prefeito biônico cujo criador o abandonou. A fala faz referência ao acordo costurado na sexta-feira, que fez o ex-prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, migrar do PSD para o Republicanos.
 
 
O tom ácido do discurso foi ainda mais aplaudido quando o vereador comparou a gestão de Fuad com a ditadura militar, deixando claro que, para ele, o prefeito não existe por conta própria. A cereja do bolo foi quando, ainda em coletiva de imprensa logo após o discurso, ele deu a entender que não lembrava o nome de Cassio Soares, presidente do PSD e deputado estadual. “Como é chamado aquele senhor? Cassio, Cassio Soares, não é? Ele, pelo jeito, é um homem que só leva bolada nas costas.”
 
 
A fala também tinha outra mira: expor as tratativas encabeçadas pelo presidente do PSD que foram fracassadas. Cassio não sabia da filiação de Gabriel ao MDB, que colocou fim nas negociações de um possível apoio a Fuad. O deputado também não sabia da decisão de Kalil e foi pego de surpresa com o acordo selado para apoiar Mauro Tramonte (Republicanos).
 
 
As rusgas entre Gabriel e Cassio são antigas e vêm sendo mais expostas agora. Recentemente, quando Fuad noticiou que estava doente, tratando um câncer, o presidente da Câmara afirmou já saber da doença há mais de um ano. Na época, Gabriel enviou um girassol ao prefeito desejando melhoras. Cassio não gostou quando o vereador contou a história em um ofício enviado à Prefeitura. O deputado achou que Gabriel estava tratando a doença do prefeito como piada e chegou a publicar um artigo neste Estado de Minas defendendo Fuad.
 
Embora o tom de Gabriel seja combativo em relação a Fuad, o prefeito não adota o mesmo estilo agressivo do vereador. Na maioria das vezes em que o presidente da Câmara utilizou essa estratégia, acabou sendo ignorado. Assim como no episódio dos girassois, quem deve responder às investidas de Azevedo é Soares, que, apesar de adotar um tom neutro na ALMG, não costuma deixar declarações polêmicas sem resposta.
 
Além disso, do lado de Fuad, as declarações de Gabriel podem ser benéficas para a campanha. É fato que o prefeito é pouco conhecido entre as massas populares de BH. No palco dado pelo vereador, Fuad ganhou mais exposição.
 
A prova de que o tom de Fuad será o tom ameno foi a convenção do União Brasil. Questionado pelo Estado de Minas sobre a saída de Kalil do PSD, o prefeito avaliou o acordo como "normal" e ainda disse que a situação era favorável para o ex-prefeito, que não havia encontrado espaço dentro do partido para ser candidato a governador em 2026. Com a nova legenda, ele ganha um novo cargo – o de presidente do partido em Minas – e, com isso, novos aliados. Fuad ainda frisou que segue amigo de Kalil e não tem mágoas quanto ao fato de ele apoiar Mauro Tramonte.
 
Por fim, se a expectativa era que as convenções da manhã de ontem ditassem o rumo desta eleição, ficou mais do que provado que, em 2024, temos em Belo Horizonte candidatos já prontos para o combate.
 
Do lado de Gabriel, o líder do MDB pôs fim a qualquer rumor sobre uma possível desistência em favor de ser um puxador de votos na Câmara e selou o dia acenando para o PSDB, partido com o qual está costurando uma aliança. Já Fuad conseguiu finalmente selar o acordo com o vice e o União Brasil, colocando um ponto final no assunto Alexandre Kalil.
 

Sem Kalil

 
O vereador Preto não poupou Alexandre Kalil em seu discurso na convenção do União Brasil. Enquanto fazia um discurso cheio de xingamentos endereçados ao ex-prefeito, Fuad Noman sentava-se à mesa e escutava toda a história de braços cruzados. O sorriso no rosto do prefeito era evidente. Mais tarde, em coletiva de imprensa, Fuad negou desavenças com Kalil e afirmou que mantinha uma amizade com seu antigo chefe.
 

Sem perguntas

 

O assunto Kalil, inclusive, irritou o prefeito, que no meio da entrevista coletiva interrompeu uma repórter para dizer que não queria falar mais sobre o ex-prefeito. O desconforto foi evidente, tanto que a jornalista precisou mudar seu questionamento.
 

Troca de bonés

 

Também na convenção do União Brasil, Álvaro Damião resolveu inovar ao selar o acordo com Fuad. De mãos dadas, os dois trocaram bonés, que, segundo o vereador, formalizaram ali a união. Nos bonés, estava escrito: “Fuad + Damião”.
 

Novo vice

 

Apesar da resistência inicial a ser vice de Fuad, Damião estava encantado com a convenção do União Brasil. O jornalista chegou a confessar que nunca imaginou que um dia daria uma coletiva para falar sobre a possibilidade de se tornar vice-prefeito de Belo Horizonte. Ele ainda afirmou que nunca havia pisado no Plenário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), mesmo sendo vereador por Belo Horizonte.