A corrida pela Prefeitura de BH parecia um caminho livre para Mauro Tramonte (Republicanos), que dominava todas as sondagens. No entanto, na última semana, uma reviravolta pode estar se desenhando, impulsionada pelo chamado “voto útil”. Bruno Engler (PL) e o prefeito Fuad Noman (PSD) emergem como protagonistas em uma disputa que, até então, parecia improvável.
 
 
De acordo com o tracking da maioria das campanhas – pesquisas internas usadas para traçar estratégias –, Bruno Engler se consolida a caminho do segundo turno. A disputa pela segunda vaga, que ainda está em aberto, começa a indicar que Fuad Noman pode assumir essa posição, enquanto Tramonte, que liderou por tanto tempo, corre o risco de ficar de fora.

Ontem, 27 de setembro, uma pesquisa revelou pela primeira vez uma queda significativa nas intenções de voto de Tramonte, confirmando o que as campanhas já haviam detectado. Segundo a Viva Voz, que utiliza um modelo estimulado ao apresentar os nomes dos candidatos aos entrevistados, Engler aparece com 23,9% das intenções, enquanto o atual prefeito, Fuad Noman, registra 21,7%. Ambos estão tecnicamente empatados na liderança, considerando a margem de erro de 2,5 pontos percentuais. Tramonte aparece em terceiro lugar com 20,8%, mas também tecnicamente empatado com Engler e Fuad.
 



O prefeito busca se beneficiar dessa nova dinâmica. Sua estratégia de "voto útil" começa a dar resultados, mesmo após a tentativa frustrada de estabelecer uma agenda com o presidente Lula (PT). Embora a viagem a Brasília, onde se reuniu com o ministro Alexandre Padilha e membros do segundo escalão do governo, não tenha produzido os resultados esperados, a campanha, liderada por partidos de esquerda, começa a ganhar impulso. Nas redes sociais, influenciadores e políticos estão mobilizando apoio para o prefeito.

O chefe da PBH é considerado a única opção viável para enfrentar os nomes da direita e, por isso, cresce nas pesquisas. Caso chegue ao segundo turno, como sua campanha prevê, Fuad enxerga a possibilidade de enfrentar Engler como uma oportunidade de se consolidar entre os eleitores de esquerda. Para ele, o bolsonarista representa uma opção mais favorável do que Tramonte, que ainda consegue captar votos de seu eleitorado.

Do lado de Tramonte, há uma certa inquietação. Membros da equipe expressaram a interlocutores preocupação com o que chamam de “desidratação” da candidatura. Os sinais são claros: enquanto Engler se alinha com pautas de extrema direita e mantém uma presença forte nas redes sociais, Tramonte, conhecido apresentador de TV, não consegue se conectar adequadamente com o eleitorado. Como foi dito: “Ele é conhecido, mas não é político”. Apesar desses desafios, membros ativos da campanha afirmam que apenas “algo extraordinário” pode tirá-los do segundo turno.

Enquanto isso, Engler se apresenta como uma figura moderada na TV, mas seu discurso ressoa com a base bolsonarista nas ruas e nas redes sociais. Amanhã ele participa de uma manifestação ao lado de nomes como Nikolas Ferreira (PL) e Cleitinho (Republicanos) no palco que vem sendo, nos últimos anos, o principal reduto da extrema direita na capital mineira: a Praça da Liberdade.
 
O evento terá como foco a manifestação contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e o pedido de impeachment de Alexandre de Moraes. Mas também funcionará como um grande palanque para Engler, consolidando sua estratégia rumo ao segundo turno.

De olho em uma possível reviravolta, as campanhas aguardam com ansiedade as pesquisas que serão divulgadas antes das eleições. Uma das primeiras, do Instituto Opus, será divulgada na próxima segunda-feira pelo Estado de Minas, abrindo uma semana de muita expectativa e de crescente tensão.
 

A segunda vaga

Para Gabriel Azevedo (MDB), presidente da Câmara Municipal, um segundo turno contra Fuad poderia ser o cenário ideal, permitindo que ele revisitasse antigas rixas e debates sobre mobilidade urbana. Já Duda Salabert (PDT), uma das vozes mais progressistas da campanha, vê em Engler seu melhor adversário para expor as contradições do discurso conservador, embora seu status como mulher trans traga um dilema adicional em um cenário político conservador, mesmo dentro da esquerda.
 
 
 

Mais longe

Está ficando cada vez mais difícil para a candidatura de Rogério Correia (PT), que não avança nas pesquisas e assiste a amigos e aliados se afastarem. Com a saída de integrantes do PV, PCdoB e do próprio PT, o seu apelo à unidade entre os vereadores foi recebido com ceticismo. O candidato chegou a ligar para seus colegas e pedir para que eles não fossem ao evento da última quinta-feira, que consolidou o apoio dos partidos de esquerda a Fuad. A deputada Lohanna França (PV), que se distanciou do grupo, passou de aliada a um dos alvos de crítica, evidenciando a fragilidade das alianças que cercam o petista.

 
 

Procura-se

Por onde anda o senador Carlos Viana (Podemos)? Ninguém sabe. Distante do protagonismo nas pesquisas e nos debates, o senador se tornou uma sombra na disputa, relegado a um papel secundário, mesmo diante de concorrentes menos conhecidos. Em algumas pesquisas internas, Viana nem mesmo é mencionado.
 
 
 

Destruição

A campanha de Engler enfrenta um segundo desafio: a depredação de material espalhado pelas ruas. Mais de 500 wind banners distribuídos pela cidade foram queimados, rasgados ou furtados desde o início da campanha. Os ataques se intensificaram nos últimos dias.

 

Fogo

A deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT) oficiou o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, o ICMBIO, a Secretaria de Meio Ambiente e o Ibama, pedindo medidas urgentes para combater os incêndios que devastam a Serra do Caraça e o Parque Nacional da Serra do Gandarela. Desde 4 de setembro de 2024, focos de incêndio se espalham descontroladamente, afetando Reservas Particulares de Patrimônio Natural (RPPNs) e unidades de conservação federal. Ambientalistas alertam que o fogo já destruiu importantes áreas de Mata Atlântica e Campos Rupestres, colocando em risco espécies ameaçadas.
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