O homem da vez tem nome, sobrenome e exatos 133.728 votos. Gabriel Azevedo, vereador do MDB e quarto colocado no primeiro turno das eleições à PBH, é agora a peça mais cobiçada no xadrez eleitoral de Belo Horizonte. No segundo turno, suas portas se abriram para ambos os lados.
Na direita, Bruno Engler (PL) lhe acena com secretarias estratégicas e a promessa de grandes obras para a capital. No centro e com o apoio da esquerda, Fuad Noman (PSD), antigo desafeto, pode sepultar as mágoas do passado por meio de seu vice, Álvaro Damião (União Brasil), com uma carta de aproximação.
Gabriel calcula com cuidado o próximo movimento. Antes de qualquer decisão, fez questão de consultar os caciques do MDB, segundo fontes ligadas ao partido. A primeira ligação foi para Baleia Rossi, presidente nacional da sigla, que lhe concedeu total liberdade para seguir o caminho que mais encantasse seus olhos.
Depois, Milton Cardoso Jr., presidente estadual, entrou na dança, com um encontro agendado para a próxima semana. Por fim, o telefone cruzou Belo Horizonte, chegando ao escritório do secretário e deputado federal Hercílio Diniz e encerrando o ritual no gabinete do presidente da Assembleia Legislativa, Tadeu Leite.
Livre para definir seu próximo passo, o telefone de Gabriel Azevedo, antes ocupado com suas próprias ligações, agora só recebe contatos de interessados. Com 10,5% dos votos válidos e sem se alinhar nem ao lulismo nem ao bolsonarismo, o vereador se tornou peça-chave no segundo turno. A coluna conversou com estrategistas de ambos os lados para entender o que está em jogo nessa disputa.
Bruno Engler, representante do bolsonarismo, já colocou na mesa três secretarias como troféus à espera de serem escolhidos: Governo, Urbanização e Obras. É a terceira que faz brilhar os olhos de Gabriel. Nos bastidores do PL, a informação é de que Engler lhe ofereceu carta branca para realizar o que tanto pregou em sua campanha: as modificações que transformariam a capital.
Requalificar a Pampulha? Check. Explodir a Lagoinha para revitalizar o centro? Também. O céu seria o limite e a promessa veio reforçada por um telefonema do deputado federal Nikolas Ferreira (PL), que fez questão de elogiar a campanha do presidente da Câmara e expressar o desejo de tê-lo ao lado do seu aliado.
Do lado de Fuad, Álvaro Damião se movimenta como anfitrião. Segundo fontes, Damião tomou café na casa de Gabriel na última sexta-feira (11/10), em uma tentativa cordial de cortejá-lo. Amigos de longa data, conversaram sobre planos para a cidade e sobre uma possível ligação direta do próprio Fuad.
Mas, ao que parece, segundo fontes ligadas ao prefeito, ele ainda resiste à ideia de “se curvar” ao vereador. O chefe da PBH, que já conquistou o apoio de Rogério Correia (PT) e Duda Salabert (PDT), além de estar próximo de uma agenda com o presidente Lula (PT), vê em Gabriel uma peça difícil de digerir, especialmente após as críticas duras que o vereador lhe dirigiu, algumas até mencionando sua saúde e outras o acusando de se sentar com a “máfia do transporte”.
Nas conversas, há um elemento ainda mais valioso sendo negociado: o poder que Gabriel manterá sobre a presidência da Câmara, mesmo deixando a Casa no próximo ano. A influência que o vereador continuará a exercer não escapa de nenhum dos lados.
A decisão de Gabriel deve ser divulgada publicamente nos próximos dias. Por enquanto, o rumo do seu apoio segue sendo um grande enigma. Mas todos sabem que, em relação ao segundo turno em BH e com a possível adesão de Mauro Tramonte à campanha de Engler, a próxima jogada é dele.
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PT segue rachado
Não é segredo que Reginaldo Lopes (PT), deputado federal e cacique do partido, não se alinha com Rogério Correia (PT), o candidato derrotado no primeiro turno. A desavença é tão grande que Reginaldo, que sempre se envolvia nas eleições municipais, nem sequer pisou em BH durante o pleito.
Agora, no segundo turno, ele foi o primeiro membro do partido a aparecer ao lado de Fuad Noman, seu verdadeiro candidato e quem ele desejava apoiar desde o início das negociações.
Bancada também dividida
Reginaldo nem ao menos esperou a carta aberta de Rogério, que foi publicada um dia após a foto de apoio. O candidato petista assinou o texto ao lado dos vereadores eleitos do PT em BH: Bruno Pedralva, Luisa Dulci, Pedro Patrus e Pedro Rousseff. Porém, esse não era o desejo de toda a bancada. Rousseff, por exemplo, divulgou o apoio antes de todos, em um vídeo nas redes sociais publicado também um dia antes.
”Apoiamos, porém com limites”
O apoio do PT veio cheio de concessões. Parte da bancada da Câmara queria designar Rogério para as negociações. No entanto, ficou decidido que os vereadores seguiriam independentes, podendo fazer as concessões por si mesmos.
Articulações
Quem já começou a mover os pauzinhos foi Paulo Lamac, presidente da Rede. Ele quer colocar Cida Falabella, reeleita para a Câmara, no comando de uma secretaria ligada à Cultura. Assim, a Professora Nara, sua aliada, poderia assumir como suplente.
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Sem nada
Duda Salabert (PDT), por sua vez, não pediu nada. Segundo fontes ligadas à deputada, a incorporação dos projetos na campanha de Fuad foi sua única exigência. Vale lembrar que a deputada acusou o prefeito de ter servido ao Exército no mesmo quartel onde foram registradas torturas durante a ditadura militar. Fuad negou com veemência ter conhecimento do fato, mas o climão pegou mal.