“Não penso no Planalto. Meu presidente tem nome e sobrenome: Jair Messias Bolsonaro”. Foi assim que Nikolas Ferreira (foto), deputado federal, respondeu à coluna minutos depois de saber que seu aliado Bruno Engler (PL) havia sido o mais votado no primeiro turno das eleições em Belo Horizonte. A liderança de Engler foi também uma conquista pessoal de Nikolas, considerado o maior cabo eleitoral do PL — talvez até maior que seu próprio ídolo e mentor, Jair Bolsonaro (PL).
O “menino de ouro” do bolsonarismo percorreu os 26 estados, lançando candidatos de norte a sul do país. Embora tenha emplacado vereadores na maioria das cidades que visitou, o desempenho nas prefeituras ficou aquém das expectativas. Dos 68 candidatos apoiados pelo deputado, apenas 20 foram eleitos no primeiro turno. Dos 48 que não foram eleitos, cinco estão em segundo turno e o restante não tem mais chances. Para o mineiro, a missão era clara: fortalecer a base bolsonarista de olho em 2026, quando uma eleição crucial se desenha, tanto para ele quanto para o partido.
Por isso, Nikolas inclusive chegou a usar suas redes sociais, onde ele reúne 14 milhões de seguidores divididos em duas contas, para pedir para que seus apoiadores não dividissem votos em outros partidos, como o PSD. Segundo ele, os direitistas deveriam apenas acumular votos no PL.
Aos 28 anos, ele não possui a idade mínima para concorrer à Presidência (é preciso ter mais de 35 anos para ocupar o Palácio do Planalto). Mas o trabalho que faz em 2024 revela suas ambições. O sorriso de canto e a risada, sempre que o tema surge, traem o pensamento que já ronda sua cabeça. Com Bolsonaro inelegível e a falta de carisma dos filhos do ex-presidente, o futuro do bolsonarismo pode muito bem cair no colo do jovem mineiro.
Dentro do PL, Nikolas é tratado como um rei. Ele é o nome escolhido para “presidir” a tropa de choque bolsonarista. Ao lado do deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO), que mira o Senado, Nikolas deve permanecer na Câmara em 2026. Fontes da coluna afirmam que sem ele, pautas fundamentais para o bolsonarismo no Congresso correm o risco de perder força. Além disso, o deputado é visto como peça-chave na ideia fixa de Bolsonaro e de outros políticos do PL: tentar o afastamento de Alexandre de Moraes do STF. Nikolas é a principal voz do grupo quando se fala em impeachment do ministro do Supremo.
Mas, se o futuro é promissor (ao menos dentro do PL), a realidade atual impõe desafios: o deputado federal assumiu a missão de fazer de Engler o próximo prefeito de BH. Embora o próprio Nikolas fosse o nome natural para concorrer à capital, sua importância estratégica no Congresso pesou mais. Com um desempenho modesto em prefeituras, eleger seu aliado seria um grande trunfo. Por outro lado, perder em casa — na cidade que deu vitória a Bolsonaro em 2022 — seria a evidência de que o bolsonarismo enfrenta dificuldades para se consolidar como a maior força da direita.
Por isso, Nikolas tenta, neste sábado (19/10), sua cartada mais ambiciosa. Quer impulsionar uma grande mobilização em torno da candidatura de Engler. Neste sábado, ao lado de Cleitinho (Republicanos), senador e possível candidato ao governo de Minas, estará às 10h40 no aeroporto de Confins para recepcionar Jair Bolsonaro, que retorna a Belo Horizonte para liderar uma motocarreata em busca de votos. A agenda inclui almoço com correligionários em um restaurante na Pampulha e, em seguida, um encontro com apoiadores antes de seguir rumo à Prefeitura de BH.
Presidência
Gabriel Azevedo (MDB), além de negociar apoio à prefeitura, ainda controla a presidência da Câmara, cargo que deixa em janeiro, mas mantém influência. Em seu grupo estão Braulio Lara (Novo), Cleiton Xavier (MDB), Fernanda Altoé (Novo), Irlan Melo (Republicanos), Loíde Gonçalves (MDB), Marcela Trópia (Novo) e Osvaldo Lopes (Republicanos). Assim, como a coluna antecipou, as tratativas com os candidatos Bruno Engler (PL) e Fuad Noman (PSD) passam por essa aliança. Com Gabriel no centro do poder, o futuro prefeito de BH pode ter seu caminho redefinido.
Amigos ou rivais
Apesar de Gabriel afirmar que negociou com Fuad, o prefeito de BH nega e diz que a conversa foi apenas institucional. A relação entre os dois, marcada por trocas de farpas e ofensas, está longe de ser amistosa. Embora Fuad considere o apoio de Gabriel, que ficou em quarto na disputa pela prefeitura, ele não vê motivo para “puxar o saco” do vereador. O prefeito mantém firme sua postura e não pretende ceder suas convicções em troca de alianças.
De volta à base
Passadas as eleições na maior parte dos municípios, o governo Romeu Zema (Novo) terá desgastes com a base na Assembleia Legislativa de Minas Gerais para contornar. O apoio de Zema a adversários de candidatos chancelados por deputados estaduais governistas ampliou feridas abertas ainda no ano passado da relação entre o Palácio Tiradentes e a base.
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Para qual lado?
Embora tenha afirmado na sabatina do Estado de Minas que não faz parte de nenhum grupo dentro do PT, o vereador eleito Pedro Rousseff (PT) se reuniu nesta sexta-feira (18/10) com Reginaldo Lopes (PT) para um encontro com Fuad Noman (PSD). O deputado federal é o líder de um dos polos que dividem a legenda em Minas.