A célebre paráfrase de Maquiavel  (“Os fins justificam os meios”) ganha nova relevância às vésperas das eleições municipais em Belo Horizonte. Em um cenário repleto de alianças estratégicas e acordos por trás das cortinas, a pergunta que se impõe é quem realmente sairá vencedor nas urnas e comandará a prefeitura?
 
O prefeito Fuad Noman (PSD), alvo da maioria das críticas durante o recente debate na TV Globo, especialmente por aceitar doações de empresários do setor de ônibus, é um exemplo claro da complexidade do tabuleiro eleitoral. Sem esses acordos, muitos candidatos nem sequer estariam na disputa. Articulações com caciques, secretarias rifadas e influência de grandes empresários são apenas algumas das facetas que moldam cada dinâmica dos concorrentes.
 



Conforme informações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Fuad Noman conta com R$ 18.411.000 para sua campanha. Entre os doadores, destaca-se Rubens Menin, que contribuiu com R$ 500 mil, além de três empresários do setor de ônibus, que doaram R$ 30 mil cada. Os acordos de Fuad envolvem uma coligação com partidos como Solidariedade, União Brasil, PRD, Agir, Avante e a a federação PSDB-Cidadania. Nos bastidores, é dado como garantido que essas legendas, lideradas por caciques como Luis Tibé (Avante), Fred Costa (PRD), Aécio Neves (PSDB) e Rodrigo de Castro (União), vão indicar secretarias.
 

O União Brasil, que tem Álvaro Damião como candidato a vice de Fuad, se destaca como o maior doador de campanha, aportando R$ 7.556.000, superando os R$ 5 milhões do PSD, hoje liderado em Minas pelo deputado estadual Cássio Soares, que também terá sua parte nos acordos, ao lado do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e do senador Rodrigo Pacheco. Embora não faça parte da coligação de Fuad, a Rede Sustentabilidade de Paulo Lamac e o PV também estão atrelados ao prefeito e farão parte das articulações.

 

No lado oposto, Mauro Tramonte (Republicanos) se destaca em meio ao embate entre Alexandre Kalil, ex-prefeito de BH, e Romeu Zema (Novo), governador de Minas Gerais. O apoio dos adversários também foi amplamente criticado pelos oponentes de Tramonte. Em várias entrevistas, o ex-prefeito negou ter solicitado secretarias, uma afirmação que se repete nas falas do chefe do Executivo estadual.
 
 
Entretanto, nos bastidores existe a confirmação de que Kalil tem planos de indicar nomes nas áreas de saúde e educação, enquanto a escolha do governador ficaria sob a responsabilidade de Mateus Simões (Novo), seu vice, que articula em nome de Zema. Tramonte arrecadou R$ 9.733.013 para sua campanha, dos quais R$ 9.553.812 saíram da direção nacional do Republicanos, e o restante de doações de empresários e apoiadores.
 

Já Bruno Engler (PL) tem apenas um acordo político, feito quando estabeleceu parceria com os Progressistas, sob a liderança do deputado federal Pinheirinho. Embora o bolsonarista não descarte a possibilidade de indicações políticas, ele vem expressando o desejo de que essas sejam de caráter técnico, em consonância com a abordagem de seu padrinho político, o ex-presidente Jair Bolsonaro. Estes acordos, segundo fontes próximas ao candidato, serão feitos após a vitória. Segundo o TSE, a campanha conseguiu arrecadar R$ 16.207.000,00, sendo R$ 15 milhões da direção nacional do PL.
 
 
Duda Salabert (PDT) levantou R$ 8.501.415, principalmente da direção nacional do partido. As outras doações são de valores simbólicos, sendo o maior R$ 160. Como candidata de chapa pura, a deputada federal está livre das amarras partidárias, o que lhe permitirá articular indicações apenas com a Câmara Municipal, caso seja eleita. Gabriel Azevedo (MDB) arrecadou R$ 4.163.838,29, com as maiores doações vindo do MDB e do PSB, e uma contribuição de R$ 39.500 do marqueteiro Alberto Lage, que é amigo pessoal do vereador. No entanto, Gabriel ainda não revelou como abordará as questões referentes às secretarias.
 
 
Rogério Correia (PT) se encontra em uma posição isolada, uma vez que a coligação com Psol/Rede e a federação PT/PCdoB e PV o deixou de mãos abanando. Por isso, os acordos do petista se limitam apenas ao seu partido e à legenda de sua vice, Bella Gonçalves (Psol). Segundo o TSE, ele arrecadou R$ 8.360.574,29, sendo a maioria enviada pelos diretórios nacionais. A maior “madrinha” política da chapa é Gleide Andrade, tesoureira do PT nacional e pertencente ao ciclo fechado do presidente Lula (PT).
 

Por fim, Carlos Viana (Podemos) tem um acordo com Marcelo Aro, que também se alia a Fuad. O senador deixou sua cadeira no Congresso para que Castellar Neto, “primo de coração” do secretário, ocupasse sua vaga. Viana inicialmente pretendia indicar Kika da Serra como vice para atrair mais  doações — por ser mulher e negra —, mas acabou tendo que se contentar com Renata Rosa. Assim, ele arrecadou R$ 10.081.892,92, divididos entre a direção nacional e a estadual do Podemos.
 

Neste domingo, os belo-horizontinos vão às urnas para definir os dois candidatos que disputarão o segundo turno pela cobiçada cadeira de prefeito da capital mineira. Por trás de cada candidato, há uma intrincada rede de acordos e estratégias. Agora, resta observar como esses fatores irão moldar o resultado final nas urnas.


De olho na apuração

O deputado federal Nikolas Ferreira (PL) pode até não sair vitorioso em Belo Horizonte, caso Bruno Engler (PL) não vá ao segundo turno, mas já está construindo sua rede de apoiadores por todo o Brasil. Agora, o parlamentar, que se tornou o maior cabo eleitoral do PL, terá a oportunidade de provar o peso de sua influência. Com candidatos apoiados em diversos estados, Nikolas acompanhará de perto se sua estratégia de “afilhados políticos” vai render os frutos esperados.




Xeque-mate

Na reta final da campanha eleitoral, Bruno Engler prepara sua última cartada. Neste sábado (5/10), às 11h, ele estará em uma carreata ao lado do deputado Eduardo Bolsonaro (PL), o filho 03 do ex-presidente Jair Bolsonaro. O evento conta também com a presença de Nikolas Ferreira e do senador Cleitinho (Republicanos). O ponto de encontro será na Avenida Álvaro Antônio, no Barreiro.

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Na Justiça

O candidato do PT à Prefeitura de Belo Horizonte, Rogério Correia, recorreu a Justiça com duas ações – uma criminal e outra cível – contra seu adversário Bruno Engler (PL). O motivo foi uma insinuação feita pelo bolsonarista durante o debate da TV Globo, na quinta-feira (3/10). Engler, ao levar a mão ao nariz, sugeriu que Correia faz uso de droga, uma acusação que rapidamente gerou repercussão e levou o petista a buscar reparação judicial.
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