Durante 71 dias de campanha em Belo Horizonte, os sorrisos eram contidos e os discursos, afiados na medida. Nos bastidores, a encenação dos encontros e a troca de alianças construíram um equilíbrio de aparências — até que, diante das câmeras, o embate revelava sua tensão contida, em contraste com o fervor de São Paulo, onde cadeira já voou e a ética se transformou em mote. Aqui, tudo parecia seguir uma paz quase ensaiada, mas, nos últimos sete dias, o tom mudou. A poucas horas do desfecho, Bruno Engler (PL) abandonou toda a cautela e partiu para o ataque, enquanto Fuad Noman (PL) optou pelo silêncio, apostando que o adversário cairia pela própria prepotência.
 
 
Enquanto Bruno Engler investe em vídeos impulsionados e conta com o apoio do aliado Nikolas Ferreira (PL) para criticar a obra literária de Fuad Noman, o prefeito confia nas pesquisas que o colocam à frente. “O ápice da habilidade está em vencer sem lutar”, afirmou um aliado próximo, parafraseando “A arte da guerra”, do chinês Sun Tzu. A estratégia de Fuad é simples: deixar o adversário falar, confiando que ele próprio se complicará. Nos bastidores, o cabeça de chapa, ao lado de Álvaro Damião (União Brasil), é visto como o veterano que enfrenta um jovem “desesperado”, como descreveu um dos membros da campanha.
 
Entretanto, pessoas próximas a Fuad estão preocupadas com sua imagem. O prefeito, descrito como um senhor de 77 anos, casado há décadas com uma única mulher, pai de dois filhos e avô de quatro netos, é alvo de críticas que atacam sua honra. Desmerecer uma obra de ficção, xingando seu autor, é considerado um golpe baixo e incongruente com os quase 50 anos de vida pública que ele possui. Segundo fontes ligadas ao prefeito, Fuad não precisava se candidatar nas eleições de 2024; insistiu, mesmo doente, porque desejava ser eleito como cabeça de chapa pela primeira vez.
 
No PSD, o plano é manter uma série de ações judiciais para tentar provar que o outro lado está distorcendo os fatos. “É uma flecha lançada; não dá para saber se fará diferença”, declarou uma liderança partidária sobre os vídeos de Nikolas Ferreira, Coronel Cláudia (PL) e Chiara Biondini (PP). A intenção é clara: caso Fuad não vença, a ideia é judicializar a campanha de Engler, alegando disseminação de fake news e buscando até mesmo invalidar uma possível vitória do adversário.
 
Foi dito à coluna que o vídeo feito pela deputada federal Duda Salabert (PDT) foi produzido sem consultar Fuad Noman. “É um conteúdo de bolha. Não dá para competir com Nikolas, que tem 19 milhões de visualizações. É o Brasil assistindo ao garoto”, lamentou uma fonte. Nas imagens, Duda defende o prefeito e, como professora de literatura, expõe os motivos pelos quais o livro “Cobiça”, de Fuad, é uma obra de ficção. Apesar de sua defesa ser positiva, não foi bem-recebida, já que a estratégia é permanecer em silêncio.
 
Engler, por sua vez, não hesita em atacar. O deputado impulsionou um vídeo de sua vice, Coronel Cláudia, lendo trechos do livro de Fuad, gastando mais de 30 mil reais para que as imagens cheguem aos eleitores. O vídeo de Nikolas Ferreira viralizou e mesmo a Justiça tendo determinado a retirada do ar, acabou se  tornando destaque nas principais capas dos jornais do Brasil.
 
No Telegram, o PDF da obra se tornou o mais compartilhado em grupos bolsonaristas. Por trás das telas dos celulares, os apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) atacam Fuad com ofensas e questionam sua credibilidade.
 
Na disputa de narrativas, apenas um sairá vencedor. No fim, as urnas serão a voz definitiva — e caberá ao povo decidir quem realmente triunfou neste duelo. Com os eleitores de Belo Horizonte como árbitros, o que se delineia é uma disputa em que cada palavra e gesto podem influenciar a decisão final.




 

Bolsozema

O governador Romeu Zema (Novo), em uma reviravolta de última hora, decidiu se lançar na campanha para a Prefeitura de Belo Horizonte, negociando seu apoio exclusivamente com Bruno Engler (PL). Curiosamente, o padrinho da campanha, Jair Bolsonaro (PL), nem sequer estava ciente dessa incursão do chefe mineiro na disputa. Fontes ligadas ao PL afirmam que a relação entre o ex-presidente e o governador é estritamente política, limitada a um terreno comum que ambos conseguem explorar.
 

Malas prontas

Zema está a todo vapor preparando sua candidatura à Presidência em 2026 e iniciou articulações para prefeituras em todo o país, com um foco especial em São Paulo. Nos bastidores do governo, o clima é de despedida. Mateus Simões já afirma que está pronto para assumir a cadeira de governador, considerando que Zema precisará se afastar de Minas para concorrer. Entre os secretários, a expectativa é de que o chefe do Palácio do Tiradentes fique mais ausente, já focado nos próximos planos.

 

PL Minas

A ação contra o deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) começa a gerar desconforto no PL mineiro, que teme que a Polícia Federal amplie suas investigações também em direção a Nikolas Ferreira. Para eles, a PF age com “perseguição”. Ao lado de Gayer, o mineiro é visto como uma figura chave para manter a bancada no Congresso Nacional, buscando consolidar uma base bolsonarista. Caso Jair Bolsonaro (PL) permaneça inelegível, ambos devem herdar sua liderança.
 
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