Não há espaço para dois líderes no mesmo palco, no caso, Cleitinho e Nikolas Ferreira -  (crédito: Paulinho Miranda)

Não há espaço para dois líderes no mesmo palco, no caso, Cleitinho e Nikolas Ferreira

crédito: Paulinho Miranda

“Não há amizade que resista à glória ou ao poder.” A frase de José Saramago (1922-2010), em "Ensaio sobre a Lucidez" (2004), paira como um presságio sobre a relação entre Cleitinho Azevedo (Republicanos) e Nikolas Ferreira (PL), dois dos maiores expoentes da direita mineira. Unidos por um eleitorado conservador, mas separados por ambições e estilos, eles protagonizam um jogo de forças que pode redesenhar o tabuleiro político do estado. O cenário é claro: não há espaço para dois líderes no mesmo palco.

 

 

Cleitinho, senador pelo Republicanos, construiu sua trajetória política com os pés fincados na vivência do cidadão comum. Ex-DJ, cantor de boteco e caixa de supermercado, ele transformou essa bagagem em uma narrativa populista e pragmática, consolidada tanto nas redes sociais quanto nas ruas. Suas denúncias contra buracos nas rodovias, filas ou a burocracia estatal viralizam, mas sua influência vai além do virtual: atualmente, lidera o clã político “Azevedo”, onde seus irmãos Gleidison (prefeito de Divinópolis pelo Novo) e Eduardo (deputado estadual pelo PL) seguem sua lógica de independência partidária.

 

Essa postura descompromissada com cartilhas torna Cleitinho um fenômeno peculiar. Nos bastidores, é descrito como um político que circula com desenvoltura entre bolsonaristas e progressistas desencantados com o PT, o que o transforma em uma peça-chave.

 

 

Não à toa, líderes de partidos de centro já o enxergam como uma alternativa viável à polarização nacional. Dirigentes ouvidos pela coluna, tanto da direita quanto do centro, foram categóricos: o senador é um político nato e o nome mais óbvio para liderar o estado. Apesar disso, Cleitinho segue firme no Republicanos e mantém lealdade ao presidente estadual da legenda, Euclydes Pettersen.

 

O senador, no entanto, é o retrato da imprevisibilidade. A fidelidade partidária, como ele mesmo já deixou claro, não faz parte de sua essência. Prova disso foi sua recente declaração de apoio a Bruno Engler (PL) na disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte, em detrimento de Mauro Tramonte, candidato do seu próprio partido. Em seu estilo característico, disparou: “Eu quero que se exploda a fidelidade partidária.”

 

Do outro lado, Nikolas Ferreira, deputado federal mais votado da história de Minas, é o estrategista nato do PL e principal herdeiro do bolsonarismo. Com um discurso conservador e calcado em pautas morais, Nikolas consolidou sua imagem como figura-chave da direita nacional. Sua liderança no PL é incontestável, assim como sua capacidade de articular projetos ideológicos, seja na Comissão de Educação, que preside, ou em possíveis voos presidenciais.

 

 

No entanto, as diferenças entre os dois começam a emergir nas entrelinhas. Uma proposta recente da deputada Erika Hilton trouxe à tona a primeira grande divergência pública entre eles. Enquanto Cleitinho apoiou a PEC que põe fim à escala de trabalho 6x1, alegando benefícios diretos aos trabalhadores, Nikolas foi contra, alinhando-se ao seu partido. O embate ilustrou a colisão entre o pragmatismo de Cleitinho e a rigidez ideológica de Nikolas.

 

Nos bastidores, há rumores de ciúmes mútuos. Cleitinho desponta como um líder capaz de dialogar com públicos que Nikolas não alcança, enquanto o jovem deputado é visto como o pilar do bolsonarismo no estado.

 

O PL, partido do deputado, tenta acomodar ambos: há quem sonhe com Cleitinho como candidato ao governo de Minas e Nikolas permanecendo na Câmara dos Deputados. Mas o senador resiste, fiel à sua marca de independência.

 

Se a política é um espelho das tragédias literárias, o desenlace dessa história promete ser intenso. Cleitinho e Nikolas encarnam dois futuros distintos para a direita mineira: um pautado pelo pragmatismo e pela aproximação com o eleitorado, outro enraizado no ideário bolsonarista e em um projeto nacional. Como na literatura de Saramago, o poder sempre cobra seu preço – e, na política, as alianças de hoje podem ser as rivalidades de amanhã.

 


Na Justiça

 

A Justiça condenou Eliane Miranda Coelho a pagar R$ 5 mil à deputada estadual Lohanna (PV) por danos morais, após tentar agredi-la em dezembro de 2022, durante um protesto bolsonarista na Câmara Municipal de Divinópolis. Na ocasião, Lohanna, então vereadora e já eleita deputada, foi cercada e hostilizada por manifestantes enquanto denunciava ameaças e mensagens misóginas.

 

De volta

 

O deputado federal Nikolas Ferreira (PL) nomeou novamente o vereador eleito por Belo Horizonte, Pablo Almeida (PL), para um cargo na Câmara dos Deputados. A nomeação foi oficializada por meio de publicação no Diário Oficial da União (DOU). Pablo foi mais bem votado da história da capital.

 

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Feriadão

 

Em pleno feriado, belo-horizontinos se reuniram na Praça Sete para protestar contra a escala de trabalho 6x1. O ato, capitaneado pelo movimento Vida Além do Trabalho (VAT) e com adesão de representantes da Unidade Popular (UP), PSTU e Psol, teve como estrela a deputada Erika Hilton, autora da PEC que visa limitar a jornada a 36 horas semanais. A mobilização se espalhou pelo país, e se o plano da direita era engavetar a pauta na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a pressão popular fez questão de mostrar que não vai ser assim tão fácil.