A coreografia de Romeu Zema
(Zema) Trata Lula como um vizinho necessário, embora nem sempre desejado, equilibrando interesses políticos e desconfortos ideológicos
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SIGA NOEstar em todos os lados ao mesmo tempo é impossível, mas a diplomacia transforma essa impossibilidade em arte. Essa parece ser a máxima que guia o governador Romeu Zema (Novo) em sua relação com o governo Lula (PT). Alternando gestos de cordialidade com críticas incisivas, Zema constrói uma coreografia que combina pragmatismo e distanciamento. Ora estende a mão em nome do Estado; ora aponta o dedo, fiel ao papel de adversário. Trata Lula como um vizinho necessário, embora nem sempre desejado, equilibrando interesses políticos e desconfortos ideológicos.
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A semana começou com um gesto simbólico: Zema recusou o convite do presidente para participar das cerimônias que marcaram os dois anos dos ataques de 8 de janeiro. Logo depois, criticou o envio de um representante brasileiro à posse de Nicolás Maduro, classificando o ato como “inaceitável” e um atentado à democracia. Contudo, apenas dois dias depois, o governador recebeu a ministra da Saúde, Nísia Trindade, em um encontro marcado por sorrisos, troca de promessas e um almoço reservado, onde projetos mineiros foram apresentados como modelos para o país.
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Nos bastidores, a visita foi vista como um esforço de Zema para mostrar que, apesar do discurso combativo, Minas Gerais pode ser um aliado estratégico do governo federal – ao menos na área da saúde. Essa dicotomia é calculada. De olho em 2026, o governador busca se apresentar como um possível líder da direita nacional, enquanto administra um estado com finanças fragilizadas e dependentes de Brasília.
A tensão, porém, subiu mais um pouco nesta semana, quando o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, recomendou o veto a partes do Propag, frustrando os planos de renegociação da dívida mineira. A notícia caiu como um balde de água fria no Palácio Tiradentes. Até então, Zema apostava na aprovação integral do projeto, que incluía a possibilidade de federalizar empresas como a Cemig e a Codemig para aliviar o passivo estadual – prioridade máxima para 2025.
Com a aproximação de 2026, o movimento de Zema fica evidente: ele quer ser o principal nome da direita no Brasil. Seu jeito mineiro de negociar, cuidadoso para não romper pontes, busca projetá-lo como um gestor equilibrado, capaz de dialogar até com adversários. Mas essa postura traz riscos. Entre o embate e a colaboração, o governador precisa evitar parecer incoerente – ou, pior, submisso ao governo que critica.
Como toda coreografia política, esse cálculo exige precisão. Nos bastidores, aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) demonstram desconforto com algumas ações de Zema, que podem ser vistas como concessões excessivas. Afinal, por mais espontâneo que o movimento pareça, ele continua sendo estratégico.
Na Câmara
O vereador Vile (PL), recentemente empossado, protocolou seu primeiro projeto de lei, o “Bitcoin Livre”, que permite o pagamento de impostos, taxas e multas em bitcoin. A proposta define os limites da competência municipal para regulamentar a criptomoeda, o que pode alterar a forma como os cidadãos e empresas de Belo Horizonte realizam transações com a prefeitura.
Montes Claros
O ex-prefeito de Montes Claros Humberto Souto (Cidadania), de 90 anos, segue sua batalha contra as consequências de um AVC, sofrido em 22 de dezembro de 2024. Após semanas de internação na Santa Casa de Montes Claros, o político foi transferido para o Hospital Sírio-Libanês, em Brasília, para dar continuidade ao tratamento.
MPMG
O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) expediu nesta sexta-feira (10/1) uma recomendação ao prefeito de Ibirité, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. O órgão solicita a exoneração, em um prazo máximo de 72 horas, do secretário municipal da Indústria, Comércio e Desenvolvimento Econômico. Ele é investigado por ato de improbidade e é réu em uma ação penal.
Silêncio
O Programa de Pleno Pagamento da Dívida dos Estados (Propag) foi construído a partir do longo imbróglio entre Romeu Zema (Novo) e deputados sobre o melhor caminho para sanar o débito bilionário com a União. Com a assinatura do presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD), o projeto foi unanimemente considerado mais viável que o Regime de Recuperação Fiscal e agora está nas mãos do presidente Lula (PT), que precisa se decidir sobre ele até amanhã. O governo federal já sinalizou que os vetos a trechos específicos do texto devem ser numerosos, mas até que haja uma posição oficial do Planalto, a postura do Executivo mineiro é de silêncio oficial. Secretários, vice-governador e o próprio Zema optaram por não se pronunciar na batalha de bastidores até que o martelo federal seja batido. (Bernardo Estillac)
Suspense no visto
Diante do pedido do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para que o seu passaporte seja liberado e ele possa viajar para a posse de Donald Trump nos Estados Unidos, o ministro Alexandre de Moraes não negou de imediato. Para tirar a pecha de perseguição feita pelos bolsonaristas, o ministro determinou que a defesa do ex-presidente apresente um documento oficial que comprove o convite para a cerimônia. O passaporte de Bolsonaro foi apreendido por decisão de Moraes, em fevereiro do ano passado.