“Há silêncios carregados de palavras e ruídos vazios de sentido.” É assim que o Brasil desperta neste 8 de janeiro, data que marca os dois anos das invasões aos Três Poderes em Brasília. Um dia que feriu a democracia, golpeada por discursos inflamados e ações violentas, mas que retorna ao calendário como um espelho: partido, fragmentado, mas ainda de pé. Neste cenário, o silêncio envolto ao simbolismo ganha protagonismo. Enquanto o presidente Lula (PT) tenta imprimir um tom significativo à data, com uma cerimônia que conta com a adesão tímida de lideranças, o outro lado da polarização, vinculado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), se recolhe em suas próprias narrativas.
Em Minas Gerais, o cenário não é diferente. A coluna conversou com líderes da esquerda e da direita e encontrou um ponto de convergência: o tema perdeu protagonismo.
No delicado equilíbrio da democracia, o silêncio sobre o 8 de janeiro soa mais estratégico do que reacender velhas discussões. Para muitos parlamentares, seguir com a agenda sem gerar alarde parece a melhor decisão diante do contexto político atual, onde o ex-presidente Jair Bolsonaro foi indiciado pela Polícia Federal (PF) sob a acusação de tentativa de golpe.
Por isso, progressistas mineiros organizaram um ato simbólico, intitulado “Ditadura Nunca Mais”, que será realizado hoje na Faculdade de Medicina da UFMG. A cerimônia, longe de ser uma manifestação, reunirá representantes de mais de 11 partidos e tem como objetivo apenas relembrar a data, celebrando os últimos dois anos de avanços democráticos no país.
Deputados mineiros alinhados ao presidente Lula destacam à coluna que o chefe do Executivo pretende transformar o ato democrático do dia 8, dividido em cinco etapas, em uma demonstração de força. Um parlamentar da base afirmou que o objetivo é reafirmar a resiliência democrática, mesmo após dois anos de ataques à presidência.
A bancada petista mineira estará em Brasília, mas Rodrigo Pacheco (PSD), presidente do Congresso Nacional, ficará de fora, pois está de férias no exterior com a família.
Pacheco, que há dois anos adotou uma postura firme ao condenar as ações antidemocráticas, consolidou-se como rival do bolsonarismo desde então. Com a possibilidade de disputar o governo de Minas em 2026, seu distanciamento da pauta parece estratégico.
No campo bolsonarista mineiro, não há previsão de manifestações públicas. A única ação prevista é o “grito pela anistia”, em defesa dos que, segundo eles, estão presos injustamente. A ação será online.
Nacionalmente, um ato virtual reunirá familiares dos detidos durante o ataque aos Três Poderes, mas nenhum dos líderes bolsonaristas procurados pela coluna confirmou presença na cerimônia oficial, que tem como tom principal as críticas ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
A estratégia do silêncio não é inédita. Nesta semana, quando Fernanda Torres venceu o Globo de Ouro por sua atuação em “Ainda Estou Aqui” – filme que retrata o assassinato do deputado Rubens Paiva pela ditadura militar – a esquerda celebrou o simbolismo da premiação, enquanto a direita permaneceu em silêncio, evitando polêmicas.
A coluna também procurou o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), que informou que não decidiu se vai participar do evento do presidente Lula. Diferentemente do ano passado, desta vez ele recebeu o convite com antecedência.
Solidariedade
A bancada do PSOL na Câmara de Belo Horizonte – formada por Cida Falabella, Iza Lourença e Juhlia Santos – emitiu uma nota nessa terça-feira (7/1)em solidariedade ao prefeito Fuad Noman. Internado desde a última sexta-feira (3/1) para tratar uma pneumonia, Fuad recebeu desejos de rápida recuperação das parlamentares em uma publicação nas redes sociais.
PSDB
O ex-vereador Reinaldinho Oliveira (PSDB) entrou com uma Ação de Impugnação de Mandato Eletivo contra o vereador Leonardo Ângelo (Cidadania) nesta segunda-feira. Leonardo assumiu recentemente uma cadeira na Câmara de Belo Horizonte, mas Reinaldinho, que é o primeiro suplente da federação PSDB-Cidadania, questiona a legitimidade do mandato, alegando abuso de poder econômico.
Siga nosso canal no WhatsApp e receba em primeira mão notícias relevantes para o seu dia
Damião nomeia braço-direito
O “Diário Oficial do Município” de ontem oficializou a nomeação de Guilherme Catunda Daltro como chefe de gabinete do vice-prefeito de Belo Horizonte. A medida prolonga os termos de uma parceria com Álvaro Damião (União Brasil) que se iniciou quando Daltro trabalhou como secretário do então deputado federal e radialista Laudívio Carvalho. Antes de chegar ao Executivo, o braço-direito do prefeito em exercício atuou ao seu lado na Câmara Municipal, onde também recebeu o título de cidadão honorário da capital mineira. (Bernardo Estillac)