André Murad
André Murad
Diretor-executivo da Clínica Personal Oncologia de Precisão de BH. Oncologista e oncogeneticista da OncoLavras.
bem viver

Alimentos ultraprocessados e o risco de câncer

Estudos relacionaram o consumo de comidas e bebidas com alto grau de processamento a fatores de risco para a saúde, como diabetes tipo 2

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 O consumo de alimentos e bebidas ultraprocessados pode aumentar o risco de desenvolvimento de câncer colorretal e outros tumores variados. Esta foi a conclusão de um grande estudo publicado por Romaguera et al na 'Revista Médica Clinical Nutrition', com base em questionários sobre comportamentos alimentares respondidos por cerca de 8.000 pessoas na Espanha.
O estudo, o primeiro do tipo no país, também analisou a relação entre alimentos e bebidas ultraprocessados e dois outros cânceres; embora nenhuma associação tenha sido observada com o câncer de próstata. No caso do câncer de mama, um risco maior foi observado em um subgrupo de ex-fumantes e atuais que relataram dieta rica em produtos ultraprocessados.

Aumento do consumo

Mudanças sociais, econômicas e industriais levaram a um aumento no consumo de alimentos e bebidas ultraprocessados, que atualmente representa entre 25% e 50% do consumo total de energia em dietas na Europa e em países de alta e média renda. O sistema de classificação Nova agrupa todos os alimentos e bebidas em quatro categorias, de acordo com a quantidade de processamento a que são submetidos. Alimentos ultraprocessados – que passam por mais processamento – são formulações industriais com mais de cinco ingredientes que geralmente contêm substâncias adicionais, como açúcar, gorduras, sal e aditivos. Exemplos de produtos nesta categoria incluem refrigerantes açucarados, refeições prontas e produtos industrializados de padaria produzidos em massa.
Vários estudos relacionaram o consumo de alimentos e bebidas ultraprocessados a fatores de risco para a saúde, como doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e aumento do risco de morte prematura.

Metodologia de estudo

O objetivo do presente estudo foi avaliar se o consumo de alimentos e bebidas ultraprocessados está associado a um risco aumentado de câncer colorretal, de mama ou de próstata. Para tanto, os pesquisadores realizaram um estudo caso-controle de 7.843 adultos que viviam em diferentes províncias espanholas: metade dos participantes tinha diagnóstico de câncer colorretal (1.852), de mama (1.486) ou de próstata (953); e a outra metade era formada por pessoas com as mesmas características que não tinham câncer. Os dados foram obtidos do estudo de controle de multicasos MCC-Espanha. Os dados dietéticos foram coletados por meio de um questionário validado desenvolvido para avaliar a frequência de consumo de alimentos e bebidas habituais durante um período de 1 ano. Os resultados foram então classificados de acordo com o nível de processamento usando a classificação Nova.

Resultados

Os pesquisadores concluíram que o consumo de alimentos e bebidas ultraprocessados está associado a um risco aumentado de câncer colorretal: um aumento de 10% no consumo de alimentos e bebidas ultraprocessados foi associado a um aumento de 11% no risco de desenvolver câncer colorretal.
Essa relação pode ser explicada, em parte, pela baixa ingestão de fibras, frutas e vegetais, que são conhecidos por oferecer proteção contra o câncer colorretal, entre pessoas que comem muito alimentos ultraprocessados, mas também pelos aditivos e outras substâncias com potencial carcinogênico tipicamente utilizadas em produtos alimentícios processados.


Os grupos de alimentos que representaram a maior proporção do consumo de alimentos ultraprocessados foram bebidas açucaradas (35%), produtos açucarados (19%), alimentos prontos (16%) e carnes processadas (12%). Carnes processadas já foram classificadas como cancerígenas pela Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC). No entanto, os alimentos e bebidas ultraprocessados em geral ainda não são classificados como cancerígenos porque o objetivo do IARC não é avaliar o risco geral da dieta de um indivíduo, mas sim focar em componentes específicos que podem ser perigosos, como carnes processadas.

Conclusão

Os resultados deste grande estudo caso-controle de base populacional sugerem uma associação entre o consumo de alimentos e bebidas ultraprocessados e o câncer colorretal. A política alimentar e a saúde pública devem incluir um foco no processamento de alimentos ao formular as diretrizes dietéticas.

 

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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