Uma nova bactéria foi encontrada em 50% dos cânceres de cólon. E a maioria dos casos era de comportamento mais agressivo. Os cientistas descobriram que um tipo comum de bactéria possui duas subespécies distintas. Uma delas protege as células tumorais do tratamento do câncer. Essa bactéria, que causa a placa dentária, pode estar por trás de uma forma de câncer colorretal mais agressivo e resistente a vários tratamentos, como demonstrou um estudo publicado recentemente pela prestigiada revista médica Nature.

 


A bactéria específica, que parece proteger as células tumorais dos medicamentos que combatem o câncer, foi encontrada em 50% dos tumores testados no estudo. Entretanto, a descoberta, poderá por outro lado, abrir caminho para novos tratamentos e possivelmente novos métodos de rastreio.

 



O câncer de cólon é a segunda principal causa de mortes por câncer nos Estados Unidos e deverá matar mais de 53.000 pessoas no país em 2024, de acordo com a American Cancer Society. As taxas estão aumentando acentuadamente entre os jovens: a percentagem de pessoas com menos de 55 anos diagnosticadas com cancro do cólon quase duplicou entre 1995 e 2019, saltando de 11% para 20% dos casos. Além do mais, esses casos são frequentemente diagnosticados em fases posteriores e mais agressivas.

 

A nova pesquisa por outro lado não responde a essa pergunta; é muito cedo para implicar esta bactéria no aumento de casos em pessoas mais jovens. Além do mais, a maioria dos pacientes no estudo tinha mais de 50 anos. Mas as descobertas levantam a questão de saber se existem níveis elevados desta bactéria no cancro colorrectal de início jovem, que está a aumentar globalmente por razões desconhecidas.

 

BACTÉRIAS COM UM SEGREDO

 

Os cientistas suspeitam de uma ligação entre a bactéria, chamada Fusobacterium nucleatum, e o crescimento do câncer colorretal há quase uma década. A bactéria geralmente só é encontrada na boca, longe do cólon. Na boca, é um dos tipos mais comuns de bactérias causadoras de doenças, ligadas a doenças gengivais e ao acúmulo de placa bacteriana. Mas não estava claro como poderia resistir à viagem através do intestino e eventualmente invadir células tumorais em locais do corpo onde estes tipos de bactérias normalmente não sobrevivem.
No estudo, Bullman e seus colegas analisaram a composição bacteriana de quase 200 tumores colorretais, bem como amostras de fezes de mais de 1.200 pessoas, metade das quais não tinham câncer. O que descobriram foi que a bactéria era um pouco mais complicada do que se pensava. Nomeadamente, tem duas subespécies distintas, uma das quais parece proteger os tumores colorretais dos medicamentos que combatem o câncer.


Normalmente, as células imunológicas chamadas células T reconhecem e atacam as células tumorais. Mas esta bactéria recruta outro tipo de célula imunitária para as células cancerosas, que lhes permite escapar das células T. A subespécie furtiva esteve presente em 50% dos tumores colorretais coletados no estudo. As amostras de fezes correspondentes também apresentavam quantidades elevadas da subespécie, em comparação com as suas contrapartes saudáveis.

 

Os pacientes que apresentam níveis elevados desta bactéria nos tumores colorretais têm um prognóstico muito pior. Eles não respondem tão bem à quimioterapia e têm um risco aumentado de recorrência.


A subespécie também pode causar a formação de câncer. Quando a equipe de investigadores transplantou a subespécie para camundongos, eles pareciam causar a formação de pólipos pré-cancerosos, um dos primeiros sinais de alerta de câncer colorretal.

 

Os pesquisadores também encontraram pistas que podem responder à questão de como o Fusobacterium nucleatum pode chegar ao cólon: a bactéria parece ser capaz de sobreviver à viagem através do estômago, resistindo ao que os cientistas anteriormente pensavam que seria uma dose tóxica de ácido estomacal.


NOVOS ALVOS PARA TRATAMENTO


A descoberta da subespécie tem enormes consequências para as terapias direcionadas que já estão em andamento. Há evidências de que se eliminarmos essas bactérias, há mais resposta durante o tratamento. Os ensaios clínicos estão programados para testar em breve se o tratamento de um paciente com antibióticos antes da quimioterapia induzirá uma resposta mais eficaz.

 


É possível que no futuro possamos identificar a subespécie enquanto ela ainda está na boca e administrar antibióticos a uma pessoa nesse momento, eliminando-a antes que ela possa viajar para o cólon. Mesmo que os antibióticos não consigam eliminar com sucesso as bactérias da boca, a sua presença ali pode servir como uma indicação de que alguém corre maior risco de câncer do cólon na sua forma mais agressiva.


A compreensão das subespécies recentemente identificadas também poderia levar ao desenvolvimento de novos antibióticos que visassem especificamente esse subtipo bacteriano, em vez de eliminar ambas as formas da bactéria ou todas as bactérias da boca.


Também existe a possibilidade de aproveitar as bactérias para realizar o trabalho de combate ao câncer. O subtipo já provou que pode entrar nas células cancerígenas com bastante facilidade, por isso pode ser possível modificar geneticamente a bactéria para transportar medicamentos que combatam o câncer diretamente para os tumores.

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