mulher senior toma pilula com copo de agua na mão -  (crédito: Freepik)

Não é incomum a automedicação com o emprego de "digestivos", antiácidos, drogas antiulcerosas, antiespasmódicos etc., que acabam por mascarar e procrastinar o diagnóstico correto da doença

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Elevadas taxas de mortalidade por câncer de estômago usualmente são devidas ao diagnóstico tardio da doença, pois os sintomas iniciais que podem levar ao diagnóstico mais precoce frequentemente não são valorizados, não sendo incomum a automedicação com o emprego de “digestivos”, antiácidos, drogas antiulcerosas, antiespasmódicos etc., que acabam por mascarar e procrastinar o diagnóstico correto da doença. Além disso, os sintomas do câncer gástrico se confundem com os de doenças benignas, como a úlcera péptica, as “gastrites” e as alterações funcionais da motilidade do estômago.


O que chama a atenção para a necessidade de uma avaliação médica, com a indicação do exame considerado padrão para o diagnóstico correto - a endoscopia digestiva (com biópsias das áreas suspeitas se necessário) - são a persistência, a recorrência e a intermitência dos sintomas.

 

 

Os sintomas mais comuns do câncer de estômago são:


- Azia

- Má digestão

- Dores no estômago

- Queimação no estômago

- Sensação de “empachamento” após a digestão


Diagnóstico precoce


A endoscopia digestiva com biópsia das lesões suspeitas é o método mais adequado para o diagnóstico precoce. Pessoas com idade acima dos 35 anos e com quadro de dores no estômago ou sintomas de azia e má digestão que perdurem por mais de 15 a 20 dias devem ser encaminhadas para um exame endoscópico. Essas pessoas não devem apenas receber medicamentos “digestivos” ou antiácidos, prática comum em nosso meio, pois eles mascaram e adiam o diagnóstico mais precoce, o que por sua vez reduz substancialmente as chances de cura dos pacientes.


Os fatores causais são principalmente a dieta inadequada, o tabagismo e a infecção crônica pela bactéria Helicobacter pylori. Dietas à base de carnes artificialmente conservadas, como carne defumada ou salgada (charque, bacon, carne de sol), alimentos processados, embutidos e enlatados e alimentação pobre em legumes, verduras e frutas estão implicadas em seu desenvolvimento.

 


A proteína animal artificialmente conservada, curada ou salgada gera a presença no estômago do cancerígeno nitrosamina, proveniente do nitrato encontrado nesses alimentos (nitrato-nitrito-nitrosamina). Portanto, uma dieta mais saudável é recomendada para redução de seu risco. O tratamento da bactéria Helicobacter pylori com antibióticos nos pacientes com risco elevado de câncer gástrico tem sido preconizado, enquanto a vacina contra essa bactéria está em desenvolvimento.


Câncer gástrico hereditário: uma preocupação


Hoje estima-se que até 15% dos casos de câncer de estômago ocorram por mutações hereditárias em genes importantes para a proteção das células do estômago. Sempre se deve suspeitar desta condição em casos de aparecimento do câncer em idade abaixo dos 50 anos de idade e também com a ocorrência de casos nos parentes próximos. A síndrome mais comum é a causada pela mutação em um gene denominado CDH1 (gene codificador da proteína Caderina E), que causa um tipo de câncer de estômago chamado de difuso, e em mulheres, além da predisposição ao câncer gástrico em idade jovem, também causa um tipo de câncer de mama denominado lobular invasor.


O diagnóstico é confirmado através de um teste genético realizado no sangue ou na saliva que identifica a mutação. Como os portadores têm chance de cerca de 70% (80% em mulheres) de desenvolver o câncer de estômago e muitas vezes em idade muito jovem, a recomendação atual é a de uma cirurgia redutora de risco, que no caso é a remoção completa do estômago ainda em idade jovem (a maioria dos autores recomenda entre os 20 e 30 anos).


Outras síndromes hereditárias menos comuns de predisposição ao câncer de estômago são a síndrome de Lynch (que também predispõe aos tumores de intestino, corpo de útero, ovários, trato urinário alto e vesícula biliar- mutação dos genes MLH1, MSH2, MSH6, PMS2 e EPCAM), a síndrome de Peutz-Jeghers (que também causa pólipos no trato gastrointestinal, manchas escuras nos lábios e cânceres dos órgãos digestivos, ovários, e mamas - mutação do gene STK11) e a Síndrome da Polipose Adenomatosa Familiar (pólipos difusos no intestino em idade muito precoce - mutação dos genes APC e MUTYH).


Quando houver suspeita de uma síndrome hereditária, um oncogeneticista deve ser consultado para orientação dos exames genéticos, acompanhamento, aconselhamento familiar, exames de rastreamento e indicação de cirurgias redutoras de risco.