Pesticidas na lavoura -  (crédito: Getty Images)

Pesticidas na lavoura

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Vários pesticidas podem estar associados a um aumento da incidência e da mortalidade do câncer de próstata, incluindo herbicidas, inseticidas e fungicidas, de acordo com os resultados de um estudo de associação ambiental.


Pesquisadores identificaram mais de 20 pesticidas que podem estar ligados ao desenvolvimento de câncer de próstata, bem como quatro que tiveram associações com mortalidade específica da doença. A implicação clínica mais importante é que provavelmente há fatores ambientais, como exposição a alguns pesticidas, que contribuem para que as pessoas desenvolvam câncer de próstata. Esse primeiro passo deve ajudar a orientar futuras pesquisas epidemiológicas, que podem, por sua vez, informar avaliações de risco e estratégias de saúde pública. 


Estima-se que 299.010 novos casos de câncer de próstata serão diagnosticados nos Estados Unidos este ano, de acordo com um relatório da American Cancer Society divulgado no início deste ano. Aproximadamente 35.250 homens morrerão da doença, de acordo com estatísticas da sociedade. Pesquisas anteriores não produziram evidências conclusivas sobre fatores de risco modificáveis. Além disso, o impacto que a exposição a pesticidas pode ter no câncer de próstata é até o momento adequadamente compreendido. 

 

Dadas as altas taxas de incidência e mortalidade do câncer de próstata e sua variabilidade geográfica, esse estudo ecológico foi, portanto, crucial como um primeiro passo na identificação de possíveis contribuintes ambientais para o câncer de próstata, o que poderia levar a pesquisas futuras mais direcionadas e, eventualmente, estratégias preventivas.


Soerensen e colegas avaliaram nesse estudo 295 pesticidas usados em pelo menos 35 condados contíguos dos EUA de 1997 a 2001 e de 2002 a 2006. Os investigadores usaram dados do HHS, CDC e NCI para analisar as taxas de incidência e mortalidade do câncer de próstata de 2011 e 2015 (coorte de descoberta) e de 2016 e 2020 (coorte de replicação). O estudo foi recentemente publicado na prestigiada revista “Cancer”. A lacuna nos períodos de tempo permitiu o desenvolvimento do câncer de próstata.

 

 

Os pesquisadores observaram 953.204 diagnósticos e 140.086 mortes na coorte de descoberta, e 1.063.671 diagnósticos e 156.687 mortes na coorte de replicação. A incidência de câncer de próstata ajustada por idade em nível de condado nos EUA serviu como o resultado primário. A mortalidade por câncer de próstata serviu como um resultado secundário.


Próximos passos


Os pesquisadores identificaram 22 pesticidas que tinham associações com a incidência de câncer de próstata em ambas as coortes. Isso incluía uma mistura de herbicidas, inseticidas, fungicidas e um fumigante de solo para todos os fins. Três deles: ácido 2-4-diclorofenoxiacético (2,4-D), um dos pesticidas mais comuns nos EUA, bem como linuron e carbaril, já haviam sido associados à doença. Cloransulam-metil, diflufenzopir, tiametoxam e trifluralina também tiveram associação com mortalidade por câncer de próstata tanto no grupo de descoberta quanto no de replicação.


Embora seja prematuro recomendar mudanças diretas na política pública com base apenas nesses resultados, os autores fornecem subsídios valiosos que podem levar a decisões mais informadas sobre regulamentações de pesticidas e seu uso para reduzir potencialmente os riscos de câncer de próstata. 


Os pesquisadores também reconheceram as limitações do estudo. Como eles conduziram uma análise em nível de condado, eles não puderam reunir dados em nível individual. Pesquisas futuras terão como objetivo dissecar os mecanismos biológicos e avaliar os fatores de risco em nível individual associados à exposição a pesticidas e ao câncer de próstata. É essencial se conduzirem futuros estudos longitudinais para abordar com mais precisão exposições individuais e controlar vários fatores de confusão com maior rigor.


Esses esforços são vitais para verificar as descobertas do nosso estudo atual de geração de hipóteses e para orientar o desenvolvimento de intervenções direcionadas. Os autores sugerem o emprego de métodos epidemiológicos sofisticados e tecnologias de computação avançadas para aumentar a precisão e a aplicabilidade de descobertas no mundo real.