Melhorias na prevenção e no rastreamento do câncer evitaram mais mortes por cinco tipos de câncer combinados nos últimos 45 anos do que avanços no tratamento, de acordo com um estudo de modelagem liderado por pesquisadores do National Institutes of Health (NIH) dos EUA.

 

O estudo, publicado por Goddard et al na prestigiada revista JAMA Oncology, analisou mortes por câncer de mama, cervical, colorretal, pulmão e próstata que foram evitadas pela combinação de prevenção, rastreamento e avanços no tratamento. Os pesquisadores se concentraram nesses cinco tipos de câncer porque eles estão entre as causas mais comuns de mortes por câncer, e existem estratégias para sua prevenção, detecção precoce e/ou tratamento. Nos últimos anos, esses cinco tipos de câncer representaram quase metade de todos os novos diagnósticos e mortes por câncer.

 

Embora muitas pessoas possam acreditar que os avanços no tratamento são o principal impulsionador das reduções na mortalidade desses cinco tipos de câncer combinados, a surpresa aqui é o quanto a prevenção e o rastreamento contribuem para as reduções na mortalidade. Oito em cada 10 mortes por esses cinco tipos de câncer que foram evitadas nos últimos 45 anos foram devido a avanços na prevenção e triagem.

 

Uma única intervenção de prevenção, cessação do tabagismo, contribuiu com a maioria das mortes evitadas: 3,45 milhões somente de câncer de pulmão. Ao considerar cada local do câncer individualmente, a prevenção e a triagem foram responsáveis pela maioria das mortes evitadas por câncer cervical, colorretal, de pulmão e de próstata, enquanto os avanços no tratamento foram responsáveis pela maioria das mortes evitadas por câncer de mama nos EUA.

 

Para reduzir as taxas de mortalidade por câncer, é fundamental que combinemos estratégias eficazes em prevenção e triagem com avanços no tratamento. Este estudo tem um papel fundamental no entendimento de quais estratégias são mais eficazes na redução de mortes por câncer, e para que as mesmas possam ser melhor empregadas nos Estados Unidos nas próximas décadas.


Detalhes do estudo


Os pesquisadores usaram modelos estatísticos e dados de mortalidade por câncer para estimar as contribuições relativas dos avanços na prevenção, triagem e tratamento para mortes evitadas por câncer de mama, cervical, colorretal, pulmão e próstata entre 1975 e 2020.

 

No total, a modelagem mostrou que 5,94 milhões de mortes foram evitadas desses cinco tipos de câncer entre 1975 e 2020. Destes, as intervenções de prevenção e triagem foram responsáveis por 4,75 milhões, ou 80%, das mortes evitadas.


As contribuições individuais de prevenção, triagem e tratamento variaram de acordo com o local do câncer:

 

No câncer de mama, 1 milhão de mortes (de 2,71 milhões que teriam ocorrido na ausência de todas as intervenções) foram evitadas de 1975 a 2020, com os avanços no tratamento contribuindo para três quartos das mortes evitadas e a mamografia contribuindo para o restante. No câncer de pulmão, a prevenção por meio de esforços de controle do tabaco foi responsável por 98% das 3,45 milhões de mortes evitadas (de 9,2 milhões), e os avanços no tratamento foram responsáveis pelo restante.

 

No câncer cervical, as 160.000 mortes evitadas (de 370.000) foram inteiramente por meio do rastreamento do câncer cervical (ou seja, teste de Papanicolau e/ou papilomavírus humano [HPV]) e remoção de lesões pré-cancerígenas. No câncer colorretal, das 940.000 mortes evitadas (de 3,45 milhões), 79% foram devido ao rastreamento e remoção de pólipos pré-cancerígenos, com os avanços no tratamento respondendo pelos 21% restantes. No câncer de próstata, das 360.000 mortes evitadas (de 1,01 milhão), o rastreamento por meio do teste de PSA contribuiu com 56% e os avanços no tratamento contribuíram com 44%.


Essas descobertas sugerem que é preciso intensificar ainda mais essas estratégias e abordagens a todos esses cânceres no futuro.


Considerações Adicionais

 

Os autores apontaram que estratégias mais recentes de prevenção e triagem, como vacinação contra HPV e triagem de câncer de pulmão, não eram amplamente utilizadas durante o período do estudo e poderiam reduzir ainda mais as taxas de mortalidade por câncer. Outras oportunidades para reduzir as mortes por câncer incluem tornar a triagem mais acessível, como com testes de HPV que permitem a autocoleta e o desenvolvimento de novos tratamentos.

 

Os investigadores constataram que os cinco locais de câncer incluídos no estudo são responsáveis por menos da metade de todas as mortes por câncer e que as descobertas para esses cânceres podem não se aplicar necessariamente a outros cânceres, especialmente aqueles para os quais não há intervenções eficazes de prevenção, triagem ou tratamento.

 

É preciso otimizar a aceitação e o uso da prevenção e triagem para esses cinco cânceres para que todos os americanos possam se beneficiar, especialmente populações carentes, bem como desenvolver novas estratégias de prevenção e triagem para evitar mortes devido a outros cânceres muito letais, como os de pâncreas e ovário, sugerem os autores. Adicionalmente, eles observam que as descobertas são baseadas em médias populacionais nos Estados Unidos e podem não ser generalizáveis para grupos populacionais específicos. O estudo também não considerou os danos potenciais das intervenções, como resultados falso-positivos e sobrediagnóstico durante a triagem, nem mediu outros resultados, como qualidade de vida.

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