As vacinas contra o câncer são um tipo de intervenção médica que visa prevenir ou tratar o câncer, estimulando o sistema imunológico do corpo a reconhecer e atacar as células cancerígenas.
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A Rússia anunciou na semana passada o desenvolvimento inovador no tratamento do câncer com a criação de uma vacina baseada em RNA mensageiro (mRNA) projetada para tratar pacientes com câncer. Esta vacina revolucionária, programada para ser lançada no início de 2025, será distribuída gratuitamente aos cidadãos russos, de acordo com relatos da mídia estatal.
A vacina personalizada, que usa material genético derivado do tumor de um paciente, custará ao estado aproximadamente 300.000 rublos (US$ 2.869) por dose. O anúncio foi feito por Andrey Kaprin, chefe do Centro de Pesquisa Médica de Radiologia do Ministério da Saúde russo. Segundo ele, a vacina visa a tratar pacientes com câncer, e não preveni-lo.
Segundo os desenvolvedores da vacina, a construção destas vacinas personalizadas envolveu o Instituto Ivannikov russo e contará com o emprego de inteligência artificial e computação de rede neural para a personalização dos antígenos tumorais e da sequência correspondente do mRNA a ser produzida. Esse processo durará cerca de apenas meia hora.
Essa notícia ganhou os principais veículos de comunicação e redes sociais de todo mundo, e também as críticas e interrogações de vários cientistas e investigadores sobre o tema, além de um certo descrédito da comunidade científica mundial. São inúmeras dúvidas e perguntas, tais como: uma vacina para qualquer tipo de câncer? Qual câncer? Qual ou quais serão os antígenos empregados? Onde estão os dados do ensaio clínico? Publicados em que revista médica? Apresentados em que congresso de relevância científica?
Mas afinal, o que são as vacinas que podem tratar e até prevenir o câncer?
A vacina anti-câncer usa componentes do tumor do paciente para treinar o sistema imunológico a identificar e atacar células cancerígenas. Ela ajuda o corpo a reconhecer proteínas únicas, conhecidas como antígenos, encontradas na superfície das células cancerígenas. Uma vez introduzidos, esses antígenos estimulam o sistema imunológico a produzir anticorpos, permitindo que ele mire e destrua células cancerígenas de forma eficaz.
Existem vários tipos diferentes de vacinas contra o câncer, incluindo:
1. Vacinas preventivas (profiláticas): Estas vacinas são concebidas para prevenir o desenvolvimento de certos tipos de cancro. Por exemplo, a vacina contra o papilomavírus humano (HPV) pode ajudar a prevenir o cancro do colo do útero e a vacina contra a hepatite B pode ajudar a prevenir o cancro do fígado.
2. Vacinas terapêuticas: Estas vacinas são utilizadas como parte do tratamento do cancro, muitas vezes em combinação com outros tratamentos, como cirurgia, radioterapia ou quimioterapia. As vacinas terapêuticas funcionam aumentando a capacidade do sistema imunológico de reconhecer e destruir as células cancerígenas. Alguns exemplos de vacinas terapêuticas contra o câncer incluem sipuleucel-T para câncer de próstata e pembrolizumabe para certos tipos de câncer avançado.
3. Vacinas contra o câncer personalizadas: Estas vacinas são adaptadas ao cancro específico de um indivíduo, tendo em conta as mutações genéticas ou outras características únicas do seu tumor. As vacinas personalizadas contra o câncer ainda estão nos estágios iniciais de desenvolvimento e ainda não estão amplamente disponíveis.
Uma nova vacina de mRNA contra o câncer desenvolvida pela indústria farmacêutica Moderna mostrou resultados iniciais promissores em ensaios clínicos. A vacina, mRNA-4359, ativa o sistema imunológico para que o mesmo identifique, atinja e destrua células tumorais. Em um ensaio de fase um com 19 pacientes, oito não apresentaram crescimento tumoral com o uso da vacina. O estudo está em andamento, alocando pacientes com melanoma e câncer de pulmão.
Detalhes do estudo
Utilizando tecnologia de mRNA, semelhante às vacinas da Covid-19, a vacina visa a treinar o sistema imunológico para atingir e destruir células cancerígenas. Denominada mRNA-4359, a vacina aproveita a mesma tecnologia usada nas vacinas contra a Covid-19 para ajudar o sistema imunológico a distinguir entre células saudáveis e cancerosas. A Moderna, conhecida por seu papel significativo no desenvolvimento de vacinas contra a Covid-19, agora estendeu sua pesquisa para o tratamento do câncer.
Em um ensaio clínico de fase um, que incluiu 19 pacientes com tumores sólidos avançados, oito pacientes não apresentaram crescimento tumoral e nenhum novo tumor se desenvolveu durante o ensaio. A vacina foi bem tolerada pelos pacientes, sem efeitos colaterais graves relatados.
Este estudo que avalia uma imunoterapia de mRNA contra câncer é um primeiro passo importante para, esperançosamente, desenvolver um novo tratamento para pacientes com cânceres avançados. Os pesquisadores envolvidos demonstram que a terapia é bem tolerada e sem efeitos colaterais sérios e pode estimular o sistema imunológico dos pacientes a tratar o câncer de forma mais eficaz.
No entanto, os pesquisadores enfatizam que, devido ao pequeno tamanho da amostra, é muito cedo para se determinar a eficácia geral e a longo prazo desta vacina.
Direções futuras na pesquisa do câncer
O estudo agora está se concentrando em pacientes com cânceres específicos, como melanoma e câncer de pulmão de células não pequenas. O teste mRNA-4359 é parte de uma exploração mais ampla de vacinas de mRNA para tratamento de câncer. Outros esforços semelhantes incluem a vacina de mRNA personalizada da Moderna para melanoma e uma vacina contra câncer de pulmão sendo testada pela BioNTech.