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André Murad
André Murad
Diretor-executivo da Clínica Personal Oncologia de Precisão de BH. Oncologista e oncogeneticista da OncoLavras.
ONCOSAÚDE

Bactérias orais como biomarcadores de câncer

Certas bactérias orais podem aumentar ou diminuir o risco de câncer de cabeça e pescoço

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Bactérias associadas à boa higiene oral parecem proteger contra câncer de cabeça e pescoço. Pesquisadores encontraram evidências de que o conteúdo do microbioma oral de um indivíduo pode estar associado ao risco de câncer de cabeça e pescoço.

Mais de 20 espécies bacterianas podem aumentar ou reduzir a probabilidade de alguém desenvolver uma dessas malignidades, mostraram resultados de estudos prospectivos.
 

Bactérias associadas a uma boca saudável estão associadas a um risco reduzido de câncer de cabeça e pescoço, e aquelas associadas à doença periodontal estão associadas a um risco elevado. Práticas de higiene como escovação dos dentes, fio dental e visitas regulares ao dentista são uma boa coisa a fazer — não apenas para os dentes, mas também para controlar o risco de câncer de cabeça e pescoço.

Histórico e métodos


Estudos anteriores mostraram que fumar, álcool e HPV contribuem para o risco de uma pessoa desenvolver carcinoma espinocelular de cabeça e pescoço.
 
 
Várias décadas atrás, pesquisadores que investigavam a associação do álcool descobriram que bactérias na boca poderiam “metabolizar o álcool em sua forma cancerígena. 

Sabe-se há anos que o consumo de álcool está relacionado ao aumento do risco de câncer de cabeça e pescoço, mas essa nova pesquisa, a qual sugere que bactérias bucais desempenham um papel nesse fenômeno lança luzes nesta correlação carcinogênica. 
 

Os investigadores  revisaram primeiro os dados de três coortes de adultos dos EUA com idades entre 50 e 74 anos do American Cancer Society Cancer Prevention Study II Nutrition Cohort, do Prostate, Lung, Colorectal, and Ovarian Cancer Screening Trial e do Southern Community Cohort Study. A análise incluiu 236 pessoas que posteriormente desenvolveram HNSCC (idade média, 60,9 anos; 75,4% homens) e um grupo de controle de 485 indivíduos sem câncer pareados.

Todos os adultos forneceram amostras orais após uma lavagem oral. Todas as amostras foram obtidas anos antes de qualquer um dos indivíduos receber um diagnóstico de câncer de cabeça e pescoço.

Esse é um desenho robusto para a rejeição da probabilidade de que a bactéria seja o fator causal da doença, e não o contrário. Essa constatação não seria possível  se a coleta das amostras ocorresse em  pacientes já diagnosticados com o câncer. 

Resultados e próximos passos


Após um acompanhamento mediano  de 5,1 anos, os investigadores  encontraram 22 espécies de bactérias no microbioma oral que tinham associações com cânceres de cabeça e pescoço.  Bactérias que aumentaram a probabilidade de desenvolvimento da doença incluíram Pyramidobacter piscolens, Lactobacillus paracollinoides e Porphyromonas cangingivalis. 

Um grupo de bactérias conhecido como complexos vermelho e laranja — que foram identificados como tendo uma associação com doença periodontal décadas atrás — também aumentou o risco de câncer nessas localizações. 

Interessantemente, sete bactérias exibiram associações inversas com o risco de câncer de cabeça e pescoço, incluindo Simonsiella muelleri, Prevotella salivae e Streptococcus sanguinis. 

A Streptococcus sanguinis é uma bactéria que ocorre em maior abundância  entre pessoas que têm uma boa condição periodontal. Esse fato pode justificar a associação causal — que bactérias associadas a uma boca saudável estão ligadas a um risco reduzido de câncer de cabeça e pescoço  — mas aquelas que estão associadas à doença periodontal, conforme indicado no complexo vermelho e laranja, estão associadas a um risco elevado. Por outro lado, nenhuma  espécie de fungo teve qualquer ligação com HNSCC.

Os pesquisadores reconheceram as limitações do estudo, incluindo sua natureza observacional, o que demanda estudos futuros prospectivos para a confirmação desses achados. Novos ensaios clínicos são necessários para investigar se bactérias como o complexo vermelho e laranja causam câncer em modelos de doenças ou são encontradas em tumores, e o mecanismo por trás da associação de bactérias com o risco de cânceres de cabeça e pescoço.
 
Esses novos estudos, segundo os autores,  precisam estabelecer um modelo preditivo, o qual, através de uma avaliação microbiológica fosse associada a outros fatores causais, como histórico de uso de álcool e uso de tabaco para que esse modelo preditivo pudesse então oferecer uma projeção de probabilidade individual para o desenvolvimento de  câncer de cabeça e pescoço.
 

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