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Teste de vacina para câncer de mama é promissor
Um longo caminho ainda precisa ser trilhado para que vacinas efetivas na prevenção e tratamento do câncer de mama precoce possam ser comercializadas
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Quase 75% das mulheres tratadas com uma nova vacina, projetada para prevenir a recorrência ou o surgimento do câncer de mama do tipo triplo-negativo, obtiveram uma adequada resposta imune, de acordo com resultados atualizados de um ensaio de fase 1 (etapa inicial de experimentação clínica de um novo fármaco).
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O objetivo desses ensaios exploratórios, e da extensão do trabalho pré-clínico, é garantir que a vacina em teste esteja provocando uma resposta imune satisfatória nas pacientes tratadas. Essa resposta imune pode, em última análise, prever a atividade do imunizante. O perfil de toxicidade da vacina testada foi bastante aceitável e as reações no local da injeção foram responsáveis por todas as toxicidades limitantes da dose. Esses primeiros resultados foram apresentados pelos investigadores, recentemente, na Reunião Anual do SITC (Sociedade de Imunoterapia do Câncer).
O câncer de mama triplo-negativo (TNBC) é qualquer câncer de mama que não apresenta ou apresenta baixos níveis de superexpressão e/ou amplificação gênica do receptor de estrogênio (ER), receptor de progesterona (PR) e receptor do fator de crescimento epidérmico humano 2 (HER2) (ou seja, o tumor é negativo em todos os três testes, dando o nome de triplo-negativo).
O TNBC compreende 15–20% de todos os casos de câncer de mama. Ele afeta mais mulheres jovens ou mulheres com uma mutação nos genes BRCA1 (e com menor frequência mutações de BRCA2 e PALB2) do que outros cânceres de mama. O TNBC é o tipo de câncer mais desafiador de tratar. A terapia hormonal usada para outros cânceres de mama não funciona para o TNBC, tampouco as terapias que utilizam como alvo a proteína Her2.
O TNBC tende a crescer rapidamente, tem mais probabilidade de se espalhar no momento em que é descoberto e tem mais probabilidade de voltar após o tratamento do que outros tipos. Por causa disso, as taxas de sobrevivência para TNBC geralmente não são tão altas quanto para outros tipos de câncer de mama.
Histórico e métodos
A vacina estudada tem como alvo a alfa-lactalbumina, uma proteína nas mamas lactantes que também é expressa em 70% dos tumores de câncer de mama triplo-negativo. A vacina também foi composta por Zymosan, um componente derivado da parede celular de leveduras, o qual é frequentemente utilizado em estudos científicos para estimular respostas imunes em modelos experimentais. O ensaio de fase 1 começou em 2021, e os pesquisadores inscreveram 26 pacientes. O grupo inclui 21 mulheres que concluíram o tratamento para câncer de mama triplo-negativo.
O estudo incluiu três mulheres que não tinham câncer, mas tinham alto risco de desenvolver câncer de mama, com base na presença de mutações BRCA1, BRCA2 ou PALB2 e escolheram voluntariamente se submeter à mastectomia preventiva.
Finalmente, o grupo incluiu outras duas mulheres diagnosticadas com câncer de mama triplo-negativo em estágio inicial, que apresentaram doença residual após quimioimunoterapia pré-operatória e cirurgia, e receberam pembrolizumabe (agente imunoterápico) com ou sem capecitabina (agente quimioterápico).
As participantes do estudo receberam três vacinas administradas, uma vez a cada 2 semanas.
As toxicidades limitantes da dose, que os pesquisadores categorizaram como eventos adversos de grau 2 ou pior, serviram como desfecho primário. Os investigadores definiram as toxicidades limitantes da dose estritamente para se garantir que a segurança fosse realmente priorizada.
Os investigadores também avaliaram a resposta usando ensaios imunoenzimáticos — ELISpot, que mede a frequência da secreção de citocinas por células individuais; um ensaio que mediu o interferon gama; e um ensaio que mediu a interleucina-17.
Resultados e próximos passos
Quase 73% das participantes atingiram uma resposta imune, de acordo com um dos três ensaios usados.
Os pesquisadores determinaram que a dose máxima tolerada é de 10 µg para alfa-lactalbumina e 10 µg para zimosan. Combinações de doses alternativas — incluindo doses mais altas de zimosan — continuam sob investigação ativa.
Um teste de fase 2 com esta vacina está planejado para começar este ano. Os investigadores planejam avaliar a eficácia da vacina, mas mais trabalho pré-clínico também será feito.
Segundo os autores, o entendimento dos fatores de risco para aqueles que desenvolveram recorrência continua sendo de importância crítica. Além disso, o cenário de tratamento para câncer de mama triplo-negativo mudou desde que os pesquisadores começaram a testar a vacina. Inicialmente, os pacientes receberam quimioterapia e depois passaram para a cirurgia. Agora, pacientes selecionados de alto risco receberão quimioterapia combinada e imunoterapia no pré-operatório. Parte do trabalho de fase 2, que está planejado agora, é como incorporar isso ao esquema em evolução do tratamento do câncer de mama triplo-negativo precoce. O objetivo dos próximos estudos e, de longo prazo, é o de reduzir o risco de recorrência e, realmente, curar o câncer de mama triplo-negativo precoce.
Segundo os investigadores, houve um bom progresso de onde começou e até onde estamos hoje, mas um longo caminho ainda precisa ser trilhado para que vacinas efetivas na prevenção e tratamento do câncer de mama precoce possam ser comercializadas.