André Murad
André Murad
Diretor-executivo da Clínica Personal Oncologia de Precisão de BH. Oncologista e oncogeneticista da OncoLavras.
ONCOSAÚDE

Fumantes que não adquirem câncer de pulmão. Entenda

Os cientistas há muito suspeitam que fumar leva ao câncer de pulmão ao desencadear mutações de DNA em células saudáveis

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Pessoas que fumam têm 30 vezes mais probabilidade de contrair e de morrer de câncer de pulmão em comparação com alguém que nunca fumou. Esse risco aumenta drasticamente com o número de cigarros fumados, o número de anos fumando e a idade da pessoa que fuma.

 

Vários produtos químicos na fumaça do tabaco são cancerígenos, o que significa que eles têm o potencial de causar câncer nas células dos pulmões ou vias aéreas e outras partes do corpo. Alguns desses produtos químicos danificam o processo normal de limpeza dos pulmões para remover partículas estranhas e prejudiciais. O resultado é um acúmulo de muco e o desenvolvimento do que é comumente conhecido como "tosse do fumante", uma maneira alternativa para os pulmões livrarem as vias aéreas de substâncias indesejadas. O dano à função pulmonar devido ao fumo aumenta o risco de várias doenças respiratórias. Ter um histórico de doença pulmonar e função pulmonar mais precária aumenta o risco de câncer.

 

 

As células epiteliais respiratórias necessitam de exposição prolongada às substâncias desencadeadoras de câncer e acúmulo de múltiplas mutações genéticas antes de se tornarem neoplásicas (um efeito chamado cancerização de campo). Uma pessoa fumante tem 30% a mais de chances de desenvolver câncer de pulmão em comparação com um não fumante, ou seja, três fumantes em cada 10 desenvolvem câncer de pulmão no decorrer de sua vida.

 

Entretanto, conclui-se que 70% dos fumantes não adquirem câncer de pulmão. Um novo estudo propõe que esses fumantes têm alguns genes que ajudam a limitar mutações no DNA das células respiratórias, ou seja, no DNA que tornaria as células malignas e as fariam crescer em tumores. O estudo, realizado por pesquisadores da Universidade de Shanghai, China, foi recentemente publicado na prestigiada revista médica Nature.

 

Os cientistas há muito suspeitam que fumar leva ao câncer de pulmão ao desencadear mutações de DNA em células saudáveis. Mas foi difícil para eles identificar as mutações em células saudáveis que podem ajudar a prever o risco futuro de câncer. Os autores desse estudo utilizaram um processo chamado sequenciamento de genoma completo de célula única para examinar células que revestem os pulmões de 19 fumantes e 14 não fumantes com idades variando de pré-adolescentes até meados dos 80 anos.

 

 

As células vieram de pacientes que tiveram amostras de tecido coletadas de seus pulmões durante testes de diagnóstico não relacionados ao câncer. Os cientistas relataram suas descobertas na Nature Genetics. Eles analisaram especificamente as células que revestem os pulmões porque essas células podem sobreviver por anos e acumular mutações ao longo do tempo que estão ligadas ao envelhecimento e ao tabagismo.

 

Fumantes tinham muito mais mutações genéticas que podem causar câncer de pulmão do que não fumantes, descobriu a análise. Isso confirma experimentalmente que fumar aumenta o risco de câncer de pulmão ao aumentar a frequência de mutações, como se havia previamente hipotetizado. Esta é provavelmente uma das razões pelas quais tão poucos não fumantes têm câncer de pulmão, enquanto 10% a 20% dos fumantes ao longo da vida têm.

 

As pessoas fumaram no máximo 116; os chamados maços-ano. Um maço-ano é o equivalente a fumar um maço por dia durante um ano. O número de mutações detectadas nas células pulmonares dos fumantes aumentou em proporção direta ao número de maços-ano que fumaram. Mas depois de 23 maços-ano, as células pulmonares dos fumantes não pareciam adicionar mais mutações, o que levou os pesquisadores a sugerir que os genes de algumas pessoas podem torná-las mais propensas a lutar contra mutações. Os fumantes mais pesados não tiveram a maior carga de mutação. Esses dados sugerem que esses indivíduos podem ter sobrevivido por muito tempo, apesar do tabagismo pesado, porque conseguiram suprimir o acúmulo de mutações.

 

Embora seja possível que essas descobertas possam um dia ajudar os médicos a encontrar melhores maneiras de rastrear o câncer de pulmão e tratar a doença, isso ainda está muito longe. Muitos outros testes de laboratório e estudos maiores serão necessários para identificar melhor quais fumantes podem ser mais propensos ao câncer de pulmão e quais são os motivos.

 

 

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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