E quem viveu os tempos áureos da Rua da Bahia teve o privilégio de conhecer a primeira loja de departamentos de artigos finos: o Parc Royal (prédio da livraria Itatiaia), com produtos importados, joias e relógios, perfumes, tecidos, louças, presentes, roupas e calçados de qualidade, destinados a compradores exigentes.
E nessa emblemática Rua da Bahia foi construída a igreja de Lourdes, em estilo neogótico, inaugurada em 1923, e elevada a Basílica de Nossa Senhora de Lourdes (1958) pelo papa Pio XII. Até recentemente, operavam na Rua da Bahia dois dos mais tradicionais colégios: o Imaculada Conceição (Católico) e o Izabela Hendrix.
Continuam instalados, também na Bahia, o teatro Cidade, o teatro e a capela metodista do Izabela Hendrix e uma escola de teatro, na esquina da Rua Timbiras. Num prédio surpreendente (1911), que se parece com uma igreja, em estilo manuelino, com várias torres, em frente ao Maletta, funcionou o Conselho Deliberativo (Câmara de Vereadores) de Belo Horizonte e a rádio Mineira. Hoje é o Museu da Moda.
Em edificação primorosa (1926), e muito bem conservada, na Bahia, esquina com Guajajaras, o Museu Inimá de Paula tem um acervo valioso. No mesmo prédio, que sofreu reformas, funcionaram o cine Guarany, a PRH 6 rádio Guarani; um bom restaurante, o centenário Clube Belo Horizonte (Pampulha), além da Caixa Econômica Estadual (Minas Caixa) e uma unidade da PMMG.
Na área educacional, a Rua da Bahia também fez história, pois lá atuaram várias entidades de ensino, como o centenário Colégio Minas Gerais; os colégios Afonso Arinos, Afonso Celso, Tito Novais; o pré-vestibular Pitágoras, o ICBEU e, no casarão (1898) na esquina da Bernardo Guimarães, o colégio Ordem e Progresso.
Uma outra edificação marcante foi o primeiro edifício Hass, na esquina de Bahia com Afonso Pena, que, apesar de bem acanhado, cumpriu sua finalidade: destinar as salas para uso de médicos, advogados, psicólogos e setores empresariais. A centenária Academia Mineira de Letras ocupa o belo Palacete da família Borges da Costa.
Como se não bastasse, na Rua da Bahia tinha a Casa da Lente, a Giácomo Loterias, a Charutaria Flor de Minas e uma engraxataria, com cadeiras de encosto alto e repouso dos pés. E quase na esquina de Augusto de Lima operou, por anos e anos, a farmácia das irmãs Cassão, comprada pela rede de drogarias Araújo.
Especializada em artigos esportivos, uma loja se fixou na rua da Bahia: Superbol. Ao se falar na Rua da Bahia, vale registrar um fato relevante que incrementou ainda mais a via, graças à intuição de Aarão Reis, o engenheiro chefe da Comissão Construtora da nova capital: a João Pinheiro, avenida paralela à rua da Bahia, foi concebida para desembocar nos belos jardins, cercados de verde, flores e palmeiras imperiais, na Praça da Liberdade, com bancos superconfortáveis, um lago com fonte luminosa e um coreto bem estiloso, ao centro.
O Palácio da Liberdade (1897) serviu de residência oficial do governador de Minas, até a gestão Zema, que resolveu transformá-lo em Museu, com direito a visitação pública agendada e faz parte do Circuito Liberdade, conjunto de atrações turísticas.
Nos jardins do Palácio, lado da rua da Bahia, foi edificado o Palácio dos Despachos (Casa Fiat de Cultura), bem em frente ao Minas Tênis Clube, inaugurado em 1935 e hoje um dos clubes sociais mais significativos e respeitados do país, com quatro unidades em funcionamento. centro cultural, arena poliesportiva, piscina olímpica, instalações apropriadas para treinamento e formação de atletas, que tornaram o Minas uma instituição exemplar. A comemoração familiar do carnaval, nos salões nobres do clube, criou uma espécie de contraponto para o surgimento do irreverente bloco caricato Banda Mole, que entope a Rua da Bahia de foliões.
Sabe-se hoje por que os principais jornais - Estado de Minas, “Diário da Tarde”, “O Diário Católico”, “Folha de Minas” e também a Imprensa Oficial - tiveram suas sedes instaladas no entorno da Rua da Bahia, tornando-se inevitável a concentração de profissionais e os alegres encontros dos colegas, após as jornadas de trabalho.
E também os eminentes catedráticos, professores e alunos da Faculdade de Direito, baseada na Praça Afonso Arinos, sempre usufruíram da confortável proximidade com a Rua da Bahia, suas atrações e opções de lazer e serviços.
Certamente, não haveria melhor lugar para Belo Horizonte prestar uma homenagem ao compositor popular Rômulo Paes. O amigo e parceiro Gervásio Horta, com o arquiteto Gustavo Penna, criou um monumento, instalado em 1995, na esquina de Bahia com Guajajaras, com aval do prefeito Patrus Ananias. Está lá, na Praça Rômulo Paes, uma escultura de aço, com 6 toneladas de peso e 7,5m de altura, onde se lê: “Minha vida é esta, subir Bahia e descer Floresta”.
O radialista Rômulo Coimbra Tavares Paes (1918-1982) foi quem mais se identificou com a tradicional rua de Belo Horizonte. Estudante de Direito, cantor, compositor, apresentador, animador carnavalesco e boêmio, morou na Rua da Bahia e frequentou todos os bares e restaurantes. Em parceria com Gervásio Horta, Rômulo Paes criou e cantou o samba-exaltação campeão do carnaval de 1962, que dizia: “Ai, seu moço/ Saudades do meu Colosso / A boia era dois mil reis / E o Grande Hotel dos Coronéis/ As águas já rolaram / Na rua da Bahia / Mais do que em Três Marias…”.
Por estes e outros motivos que pessoas destacadas, intelectuais e alguns mineiros ilustres, como Pedro Nava, Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga, Juscelino Kubistchek de Oliveira, Fernando Sabino, Hélio Pellegrino, Milton Campos, Rômulo Paes, Ivo Pitanguy, Pedro Aleixo, Murilo Rubião, Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos e tantos notáveis, transformaram a famosa rua em polo cultural e de encontro saudável, com a frase marcante: “Subir Bahia e descer Floresta”.