Um de meus sobrinhos que mora em São Paulo veio passar uma semana com a família, encontrar amigos, matar a saudade. E ganhou um “presente” que não esperava: várias peladas no couro cabeludo. Ficou desesperado, não entendia a razão, queria ir ao médico, não queria voltar para Sampa com aquelas peladas na cabeça. Para que ficasse mais calmo, apliquei em suas peladas um creme escurecedor que tenho, que escurece a cabeça com uma vaporização. Cobertas as falhas, dei para ele o tubo de creme e ele, conformado, voltou para casa. Fiquei impressionada com o nervosismo dele, parecia que couro cabeludo ia cair todo e ele ficar careca. Não ficou, o cabelo cresceu e a calma voltou. Só que atirei no que vi, peladas capilares são mais complicadas.

E podem, vejam só, ser provocadas por doenças de pele, que também podem afetar o couro cabeludo. Uma delas é a psoríase – que assim como a caspa causa descamação. “A psoríase do couro cabeludo pode ser localizada no topo da testa, atrás das orelhas e da nuca, ou mesmo cobrir a cabeça inteira como um capacete. Estamos falando de uma doença crônica de caráter inflamatório, imunomediada, que também pode estar associada à predisposição genética. Em casos graves, o paciente pode ter perda permanente de cabelos”, afirma Danilo S. Talarico, médico pós-graduado em tricologia médica e cirurgia capilar.

"A psoríase é uma doença relativamente comum, geralmente se apresenta com placas vermelhas e descamativas com escamas prateadas, acompanhadas de coceira, comumente vista nos joelhos e cotovelos, mas que também pode aparecer em outras regiões, inclusive no couro cabeludo", acrescenta o médico. O couro cabeludo é um dos locais mais comuns da psoríase, afetando metade de todos os que sofrem de psoríase.

Em indivíduos predispostos, a doença pode se manifestar por hábitos de vida, incluindo estresse emocional, obesidade, tabagismo e etilismo, além de diabetes, pressão alta e alterações do colesterol. Para identificar os sintomas, Danilo explica que, na psoríase, as placas costumam ser maiores e mais “grossas”, deixando o couro cabeludo com aspecto esbranquiçado, com escamas muito mais aparentes, de coloração prateada.

“Mas, no início do quadro, elas podem se apresentar de forma semelhante à caspa. Um outro diferencial é que, na psoríase, as placas não respeitam a delimitação dos cabelos, podendo atingir a pele, especialmente na nuca. Essas placas costumam coçar bastante, a ponto de apresentar um leve sangramento, chamado de orvalho sangrante, o que gera dor, queimação e ardência", explica o especialista.

A doença pode se relacionar com a queda capilar. “Pacientes com psoríase no couro cabeludo podem experimentar uma queda de cabelo temporária. Há registros de casos mais graves, no entanto, que essa perda do cabelo pode ser até permanente, por isso é importante não cutucar a cabeça e nem tentar remover manchas escamosas, pois isso pode acabar quebrando o cabelo e dificultando o crescimento”, argumenta o médico.

O tratamento para psoríase no couro cabeludo varia de uma pessoa para a outra, dependendo da gravidade do quadro, da intensidade dos sintomas e do quanto isso afeta a qualidade de vida do indivíduo. “O tratamento vai desde o uso de xampus com ativos calmantes, até corticoides, ácido salicílico e imunomoduladores", acrescenta. “Além disso, alguns medicamentos podem ser utilizados, como metotrexato, retinoides sistêmicos e imunobiológicos, com boa resposta e remissão das lesões, oferecendo qualidade de vida a esses pacientes”, finaliza Danilo S. Talarico.

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