A coluna de hoje (13/11) é entregue a Hamilton Gangana, que homenageia os 126 anos de BH falando de rua mais famosa. Amanhã tem a segunda parte:
“Quem desce Floresta para subir Bahia, certamente estará circulando por uma via bastante badalada e histórica, desde sempre. Consta que o Floresta, bairro ligado ao Centro, pela Rua da Bahia, era uma minifloresta, com algumas moradias, tinha o Botequim Floresta e um movimentado hotel, durante a fase de construção e dos primeiros passos da cidade. Naquela época, foi construído o casarão do Conde de Santa Marinha, junto à Praça Rui Barbosa (Estação), espaço que, durante anos, abrigou a Estação Ferroviária (1904), cujo desenho arquitetônico chama à atenção.
Ali na praça, foram promovidas as maiores manifestações populares, os comícios políticos e os eventos culturais que a cidade assistiu, em qualquer tempo e época. No antigo prédio da estação, estão bem instalados o Museu de Artes e Ofícios e a Estação Central do metrô. De frente para a praça, o antes pomposo Hotel Itatiaia, muito bem considerado, hoje tem as áreas ocupadas por apartamentos residenciais.
O seriamente mutilado Parque Municipal Américo Renné Giannetti (1897) – nossa maior herança ambiental, no Centro, com seus 600 mil metros quadrados, originais, sediou a chácara Guilherme Vaz de Mello – tem início na Rua da Bahia, Avenida Afonso Pena, Mantiqueira (Alfredo Balena), Araguaia (Francisco Sales) e Tocantins (Assis Chateaubriand) – acabou drasticamente reduzido a 182 mil metros quadrados, cedendo seus espaços, mas, mesmo assim, continua sendo considerado essencial.
O então piscoso Rio Arrudas, de águas límpidas, cortava ao meio as planícies da chácara, e era um convite a um banho refrescante. Com duas alças em curvas, mirando para as torres do feioso condomínio SulAmérica-SulAcap, o viaduto de Santa Tereza (1929) virou um dos símbolos da cidade, principalmente depois das peripécias da turma de colegas do então adolescente Fernando Sabino (1923-2004), narradas em seu memorável best-seller dos anos 1950 e 1960, “O encontro marcado”. Pela Rua da Bahia, transitaram milhares de estudantes da velha Escola de Engenharia, e parte daquele espaço hoje é ocupado pelo Centro Cultural da UFMG, na divisa da Rua da Bahia com a Praça da Estação.
A Rua da Bahia corta a Avenida Afonso Pena e ali começa uma história de amor com a cidade: o Bar do Ponto (Othon Palace), fronteiriço ao abrigo de bondes Santa Efigênia, “Hospital Militar”, Serra, Santo Antônio, Carmo, Sion, Diogo de Vasconcelos (Savassi). É notório que a Rua da Bahia se firmou como a primeira referência de um point frequentado por intelectuais, escritores, jornalistas, políticos, poetas, médicos, advogados, engenheiros e empresários que apareciam para a prosa, e um happy hour nos fins da tarde, nos dias de compras e lazer.
Por que será que definiram a Rua da Bahia como ponto de referência? Foi ali o primeiro shopping a céu aberto, com o Teatro Municipal (Metrópole), os cines Metrópole e Guarani, as rádios Guarani e Mineira; o refinado Grande Hotel, o Metrópole Hotel; as livrarias José Olímpio, Francisco Alves, Itatiaia, os bancos e bares; a discreta Balas Suíça; casas de chá, leiterias, bons restaurantes, como o Colosso, Trianon, Estrela, Elite, Cantina do Lucas, La Greppia, a Gruta Metrópole; empórios de secos e molhados, bebidas finas e vinhos importados. Café Bahia, Cantina do Alvim e Batidas do Pisca.
A mercearia Estâncias Califórnia e o Bazar Americano, na esquina da Afonso Pena, trouxeram uma série de novidades, que causaram espanto aos consumidores. Tiveram endereço na Rua da Bahia, as tradicionais lojas de eletrodomésticos, como a Floriano Nogueira da Gama (linha GE), CISA – Comercial Importadora, Mesbla e a Casa do Rádio, que decidiu diversificar e inaugurou um hotel em frente à sua loja.
A rede nacional de eletros Ponto Frio instalou filial na área externa do Maletta. No evoluído conjunto Santa Maria, com entrada principal pela Bahia e opção pela Rua Espírito Santo, havia lojas comerciais, no plano da rua e apartamentos, de bom nível, nas áreas superiores. No final de 1966, surgiu ali, com grande alarde, a loja popular de departamentos PEPS, depois foi a SEARS, substituída, em seguida, pelo Shopping Bahia. Atualmente, o valioso espaço é utilizado por diversas lojas de vestuário e utilidades, identificadas como feiras, que se juntam por conveniência.