A primeira vez que vi José Salvador na minha vida foi quando ele me buscou em casa, em plena tarde de quarta-feira de cinzas, para me levar para o hospital, onde me operou de endometriose. Passei o carnaval todo em casa, com uma dor tremenda e nenhum dos médicos chamados para identificá-la conseguiu fazer o diagnóstico correto.

 

No contexto geral, a indicação seria abrir o abdome para localizar o problema, mas o doutor Salvador foi em cima: detectou a endometriose, acabou logo com o desconforto e depois de poucos dias eu já estava em casa. Ninguém abordou a questão da infertilidade, mas como nunca tive filhos...

 



 

Quando a mulher é diagnosticada com endometriose, uma das dúvidas mais comuns é se a doença pode evoluir para câncer de endométrio. Apesar de ambas afetarem o aparelho reprodutor feminino, uma não está conectada à outra.

 

A endometriose ocorre quando o tecido que reveste o útero cresce fora dele. Essa condição não é cancerosa e nem letal, mas pode afetar significativamente a qualidade de vida.

 

De acordo com o Ministério da Saúde, uma em cada 10 mulheres sofre de endometriose no Brasil. Cólicas, dores na relação sexual e infertilidade são alguns de seus sinais. Sem tratamento, ela pode atingir formas graves, como a chamada endometriose profunda, que tem sintomas mais severos.

 

Resumindo: endometriose não é câncer e não costuma aumentar o risco de desenvolvê-lo. O câncer de endométrio é motivado pela proliferação anormal das células do endométrio. Esse é o terceiro tumor ginecológico mais comum no país, superado pelos cânceres de colo do útero e de ovário.

 

Em 2020, 1,9 mil mulheres morreram devido a tumores no endométrio no Brasil, segundo o Atlas da Mortalidade por Câncer. Cerca de 6 mil brasileiras podem receber o diagnóstico este ano, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca).

 

O ginecologista Patrick Bellelis, colaborador do setor de endometriose do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, explica o porquê da confusão envolvendo as duas doenças.

 

“Apesar de serem patologias diferentes, a endometriose e o câncer de endométrio têm sintomas semelhantes. Nos dois casos, a mulher pode ter sangramento vaginal incomum ou outro tipo de corrimento, além de dor pélvica. Enquanto a endometriose pode causar infertilidade, isso é mais difícil de ocorrer com quem tem câncer de endométrio. Em casos de câncer, pode haver perda de peso e massa no abdome”, detalha.

 

O câncer de endométrio afeta principalmente mulheres que chegaram à menopausa, em geral acima dos 60 anos. Nesses casos, é comum haver sangramento anormal.

 

Em ambas as condições, o mais importante a destacar é a necessidade de acompanhamento periódico para obter um diagnóstico mais rapidamente possível. Em geral, mulheres levam cerca de 10 anos para serem diagnosticadas com endometriose. O atraso pode fazer a condição piorar e tornar a necessidade de cirurgia mais iminente.

 

“A maioria das mulheres acaba normalizando sintomas que não devem ser ignorados, como as cólicas menstruais. Muitas só procuram ajuda quando associam a infertilidade à endometriose”, relata Bellelis.

 

Quanto mais cedo a paciente for diagnosticada, mais simples será o tratamento. “São feitos exames específicos, como ultrassom ou ressonância magnética, e a partir daí é indicado o melhor tratamento, que pode ser hormonal ou cirúrgico, em alguns casos”,observa o ginecologista.

 

Já no caso de tumores malignos, as consequências podem ser mais drásticas, destaca Patrick Bellelis. “O diagnóstico precoce pode salvar vidas quando há câncer de endométrio ou qualquer outro tipo de tumor. Por isso, é fundamental estar atenta aos sinais do corpo e fazer acompanhamento médico periódico. Somente exames específicos podem detectar ambas as doenças”, alerta o especialista.

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